Mais uma vez cheguei derrotado. Joguei todas minhas coisas no chão do quarto e me joguei na cama, totalmente sujo de terra e graxa, e por ali fiquei até criar forças pra tomar banho. Dormi, acordei novamente as 6h e segui sentido La Paz. Foram mais 80km de estradas chatas, cheias de gente buzinando e mais pneus furados. Fui chegando nos arredores de La Paz e aquela loucura. Nunca vi um país que buzina tanto, não consigo entender, é um pé no acelerador e uma mão na buzina o tempo todo, pra nada. O trânsito é uma loucura, ninguém se respeita, é um carro entrando na frente do outro, as pessoas andando no meio da rua, muito louco. Nesse trecho eu engoli quilos e quilos de monóxido de carbono, já que nenhum caminhão tem filtro, e quando passam, jogam aquela fumaça preta diretamente no nariz de quem está no acostamento.
Depois de uma inacreditável descida de 15km eu cheguei em La Paz, ainda meio chapado de fumaça de caminhão. Fui direto pra Casa do Ciclista, um lugar onde se hospeda gente do mundo inteiro que viaja de bicicleta. A contribuição é bem barata e a união é muito legal. Conheci ciclistas austríacos, espanhóis, argentinos, homens e mulheres, que se lançam no mundo desse jeito esquisito, pedalando, eu ein! Foi muito bom estar ali com eles, informações e conversas não faltaram.
Em La Paz eu tirei o atraso da minha vida noturna. Há 2 meses que eu não saia pra nenhum lugar pra tomar uma cerveja e ver um movimento de gente. Sempre dormindo cedo e acordando cedo, aquela típica vida de avô. Claro, tomei cerveja durante esse tempo, mas de leve, dentro de casa, durante a janta, aquela típica vida de pai e mãe. E então eu fui atrás de diversão. Sai à meia noite e caminhei sozinho, até encontrar o movimento. As ruelas vazias, tudo fechado, as casas antigas estavam em silêncio, e eu ali, caminhando pela noite Paceña, com o fone no ouvido e a guitarra imaginaria na mão. Pra cantar eu só mexia a boca, sem fazer barulho pra não acordar os mendigos. Encontrei a festa. Dancei no meio da gringaiada, gente do mundo todo, e eu ali, viajando no meu mundo, feliz demais, pensando em tudo o que já vivi nessa vida. Eu mal podia acreditar que estava em La Paz, um lugar onde estive em 2008, e agora consegui chegar lá novamente, pedalando, que loucura. Na volta, parei num carrinho de lanche e desfrutei de 3 deliciosos hambúrgueres, recheados com muito, mas muito óleo. Era a única coisa que tinha, e eu jamais poderia dormir sem comer.
Voltei pra casa as 4 da manhã, tocando guitarra e cantando, mas dessa vez esqueci de deixar o vocal no mudo e soltei a voz. Cruzei com alguns mendigos, que estavam um pouco pior que eu e que entraram pra banda, um deles ficou com a bateria e o outro com as performances de dança. Sucesso total.
Fiquei 3 noites em La Paz e segui viagem. Dessa vez o destino é Cusco, a 650km, já no Peru. Devo chegar lá até o dia 12 de agosto, que é quando um grande amigo, o Eduardo Ward (Mãozinha) vem pra minha casa me visitar. Vamos ficar 17 dias viajando pelo quintal, que é tão grande quanto o amor que sinto por esse amigo. Preciso descansar, as energias estão um pouco baixas, depois de tanto perrengue e problemas com a digestão. Esse mês estou pedalando quase que o dobro do planejado, simplesmente pra poder desfrutar dessas férias. Vamos ficar uns 5 dias em Cusco e depois viajamos de ônibus pela Bolívia e talvez norte da Argentina, que eu ainda não conheci.