Diários de Bicicleta

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Em meu último diário, retratei como me preparei psicologicamente para essa viagem, mas agora, voltando aos acontecimentos físicos, eu continuo a história em Ollague, a última cidade do Chile. Se existe um fim de mundo, acredito que ele esteja bem próximo dali. Mais uma vilazinha fantasma, cortada por uma antiga linha de trem, com 160 habitantes, extremamente fria, cheia de casas abandonadas e nenhum movimento de gente nas ruas.  A minha sorte é que nesse trecho eu estive acompanhado pela Fer, que sempre chegava antes nos lugares e agilizava algum lugar pra gente ficar. Nesse dia, dormimos na casa de Don Estevan, que abriu as portas da sua casa pra gente cozinhar e dormir.  No outro dia, tivemos que deixar a sua casa, e quem nos ajudou foi Don Raúl. Ele foi a pessoa que deu carona pra Fer uns dias antes e prometeu nos ajudar em Ollague. Nesse dia, como sua casa estava cheia, ele fez questão de cumprir com a palavra e pagou um quartinho pra gente dormir, nos fundos de um restaurante. Isso é inacreditável, e eu fico até sem graça. Ele sabia que poderíamos pagar por aquele quarto, mas a questão não é o dinheiro, e sim, a atitude de ajudar e fazer parte da viagem, e assim ele fez. Gratidão infinita meus amigos, Estevan e Raúl. 
Finalmente, eu entrei na Bolívia, onde fui muito bem recebido, com uma viagem de 90km, regada a deserto e subidas intermináveis. Nessas subidas era praticamente impossível pedalar, então, lá vamos nós a caminhar, empurrando a Princesa, carregada até o talo. Cotovelo apoiado no guidão, cabeça abaixada, língua pra fora cutucando os pelos do lado esquerdo do bigode, velocímetro marcando 0km/h e muita paciência. Quase de noite eu cheguei em Alota. Como de costume, cheguei na vilazinha e assobiei alto. A Fer, que normalmente está me esperando na praça, assobia de volta e assim nos encontramos. Corremos pro único alojamento da vila, com muito frio e vontade de tomar banho, mas essa nem sempre é uma tarefa fácil por aqui. 
No dia seguinte, sai de Alota, pedalei por 10 minutos e pela segunda vez a corrente da Princess estourou. Dessa vez eu estava no meio do nada e não tinha ferramentas para arrumar. Dez minutos parado até aparecer uma caminhonete, que por sinal, era a mesma que estava levando a Fer. Me juntei a eles e seguimos até Uyuni para resolver o problema, e foi aí que entramos de cabeça na cultura Boliviana. 
Uyuni é uma cidadezinha linda, turística por estar ao lado do Salar de Uyuni, o maior deserto de sal do planeta, uma das paisagens mais peculiares que já vi.  Um deserto que brilha, todo branco, sem fim, uma coisa de outro planeta. Ali foi que comecei a me encantar com a cultura deles, principalmente com as Cholas, que são mulheres, normalmente senhoras, que se vestem de uma maneira ímpar e tem um ar de braveza que me encanta. Saia, meia-calça grossa, jaleco de lã, um pano bordado envolvendo o jaleco e um chapeuzinho lindo. Normalmente são sérias e fechadas, não riem por qualquer coisa. É claro que existem as exceções, mas as mais bravas são as que mais me encantam, dá vontade de desbravar aquela vida, entender o que pensam, como se sentem, como vivem.  Sem falar na minha vontade de fotografá-las. Aqui é um paraíso pra quem gosta de fotografar pessoas, mas essa é uma tarefa dificílima: Elas não deixam, odeiam ser fotografadas. Esses dias vi uma delas xingando e jogando um copo d’água num italiano. Mas também, o cara passou do limite, chegou tirando foto dela como se ela fosse um objeto. Não é assim, tem que ir com calma, tem que conquistar o coração delas pra depois tentar uma foto.  
Na última noite, cozinhamos quilos e quilos de comida, enchemos o “top-where?” e nos lançamos no salar. Eu de bicicleta e a Fer, é claro, de carona. Foram 20km até Colchani, depois mais 5km caminhando até chegar no ponto onde tudo é branco. Barraca, vinho, lua gigante e fogareiro pra esquentar os dedos do pé. A noite parecia dia, a lua parecia um holofote e o chão todo branco refletia aquela luz. Um frio incrível, o que torna o lugar mais encantador ainda. Ali dá pra imaginar qualquer coisa, menos que se está na terra. Um solo todo rachado, com cores que não se vê em outro lugar, talvez, só em outro planeta. 
Betão.

 

 

 

 

 

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