Diários de Bicicleta

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Semanas 14 e 15

 

 

SEMANAS 14 E 15: BIENVENIDO A ARGENTINA!!!

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Depois de duas semanas bem gostosas no pequeno Uruguay, cheias de boas pessoas, estradas planas e vento tranquilo, finalmente cheguei em um país que eu tanto queria conhecer, o país do novo Pápa, o país dos nossos hermanos, a Argentina. Atravessar a fronteira do Brasil com o Uruguay foi uma grande emoção, uma grande conquista. Mas agora o sentimento é diferente, é mais sereno, mais tranquilo, uma alegria tão intensa quanto leve.

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A cada dia que passa, eu encaro tudo isso de forma diferente.  Já não sinto mais aquela euforia do começo da viagem, sinto que isso é um novo estilo de vida, não apenas uma viagem de férias, uma simples curtição. O que estou vivendo é uma vida nova, uma nova maneira de organizar o dia-a-dia, o tempo, as roupas, minha comida,minha Princesa, enfim, todo o meu patrimônio, que não pesa mais do que 50 kilos. Estou adorando saber que tudo o que tenho que organizar está ali, preso naquela linda magrela. Em qualquer lugar, em qualquer situação, tá tudo ali. Não tenho que pagar aluguel, colocar gasolina, pagar pedágio, telefone, nada. Só tenho que me preocupar com o que está ali, e com aquilo eu posso ficar em qualquer lugar do mundo. Por isso é que cada dia mais, eu me sinto bem e a vontade, seja lá onde for.

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Voltando  ao Uruguay, mais precisamente à Punta del Este, quero transcrever as palavras que disse a uma mulher chamada Lu Pasqual: “Lu, não tenho palavras pra te agradecer, então, o que eu posso fazer é rezar por você e por sua família como forma de agradecimento”. Passar esses dias na casa dessa família que eu mal conheço, foi algo que pareceu surreal. Para quem não sabe, a Lu é uma gaúcha de Porto Alegre, que através da internet conheceu meu projeto, quis ajudar, e sem pensar duas vezes me ofereceu o seu apartamento em Punta del Este pra eu passar uns dias. Fiquei 3 noites ali, sozinho, num apartamento de pessoas que eu nunca vi na vida, curtindo simplesmente o conforto do lar. Não quis saber de muita coisa, só queria ficar dentro de casa, olhando pro mar, lá de cima, fazendo comida, ouvindo música, conversando sozinho e agradecendo a cada segundo por aquela oportunidade. A tarde eu ficava um pouco na praia, mas logo me dava vontade de voltar pra casa, pra tomar um café, fazer uma comida ou sei lá o que.  Mais uma vez, Lu, o que sinto é uma gratidão infinita por isso tudo. Agradeça a sua família, diga que eu mandei um grande beijo e uma benção com carinho.

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De Punta, segui viagem para Montevideo, onde iria encontrar quatro meninas que eu ainda não conhecia. Veja essa: Uma amiga linda, a Sarah Teodoro (A qual me deu teto em Bauru, na primeira semana de viagem), estudou um tempo aqui na Argentina. Nesse tempo ela morou com a Carina Maestro, que por sua vez, é natural de Montevideo, e graças a Terceirização de Amizades, aceitou receber o bobo que fica pra lá e pra cá, indo aos braços e abraços dos amigos dos amigos dos amigos dos amigos. Pronto, mais uma amizade terceirizada, que maravilha. De lambuja ainda conheci a Lucy, a Cami e a Karinita, que moram junto com a Carina e foram nota 10 comigo.

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Os dias em Montevideo foram ótimos pra eu conhecer melhor a cultura do Uruguay, um país muito justo, onde muitas coisas funcionam de maneira mais bonita. As universidades públicas são para todos, assim como em muitos países da América Latina, não existe vestibular, todos podem entrar e cursar. Os alunos tem voz e a palavra do estudante tem muito poder perante ao governo. A igualdade social é maior, a educação também. Educação que eu digo é essa que vemos no dia-a-dia, nos hábitos. Estive presente em um evento cultural, em um teatro de arena, onde havia cerca de 1500 pessoas. Na hora de ir embora, as 2 da manhã, vi uma fila gigante, todos tranquilos, sem muvuca nem gritaria. Perguntei o que era e me disseram que era a fila para o taxi, onde só o primeiro da fila teria o direito de acenar as mãos para o próximo carro. Eu, no meu papel de brasileiro, fiquei espantado com tamanha calma e educação. É claro que essas minhas palavras não expressam verdade absoluta sobre nada, isso foi apenas a percepção que eu tive em 15 dias de andanças pela costa do país, mas realmente pude sentir uma grande diferença na postura social, na educação, nos costumes. Além disso, uma novidade no país: o consumo da maconha não é crime. Pelas ruas, muita gente fumando, em qualquer lugar. O que acontece é que agora só é preso quem possui certa quantidade do produto. Quem está apenas consumindo não é nem abordado pela polícia.

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Outro hábito que achei lindo, é que os homens se cumprimentam com beijo no rosto, mesmo os que nunca se viram. Eu, no Brasil, sempre cumprimento meus amigos assim e tento espalhar essa ideia, mas sei que isso ainda é raro. Lá não, isso é comum e eu achei sensacional. Temos que nos beijar mesmo, barba com barba, não tem problema, isso não tira a masculinidade de ninguém, muito pelo contrário, não é mesmo?

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Andei pra lá e pra cá esses dias em Montevideo, de ônibus, a pé, de Princesa, deu pra conhecer bem a cidade, fui a feiras, fui a tangos, fui à praia, fui a batucadas pelas ruas, de um grupo formado só por mulheres, chamado La Melaza, tudo muito interessante e pacífico. O que me deixa um pouco travado ainda é a língua. Ainda é difícil falar besteira, conversar com naturalidade, o que impediu que as conversas com as meninas se aprofundassem. Isso é natural, eu sei. É que as vezes dá uma vontade de ser tonto, mas nem isso estou conseguindo, tenho que falar que nem robô,  e o pior, tudo errado.

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Depois desses dias eu segui viagem rumo a Argentina. Foi muito engraçado, porque na quinta-feira passada eu estava na capital do Uruguay e 24 horas depois eu já estava na capital da Argentina.  Foram 180km recheados de alegria. Pedalei como um tonto (quando eu fico sozinho, ai sim eu consigo isso), falando sozinho, cantando, dançando com a Princesa, lembrando de coisas da vida que me fazem rir que nem louco, outras que me emocionam, tudo o que me motiva pra chegar em algum lugar. 

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Nesses últimos 2 dias de estrada eu descobri mais um motivo que me da força pra realizar essa viagem,  as lembranças.  Eu percebi que toda vez que eu estou na estrada, o meu maior passatempo é lembrar. Lembrar da vida, lembrar de cada detalhezinho, de cada coisa que vivi, não só nessa viagem, mas em toda a vida mesmo, desde que me conheço por gente. Já que vou ficar o dia inteiro pedalando, eu brinco: “Bom, agora vamos lá, agora vou ficar pensando NISSO”. Ai eu fico, o tempo que eu quiser, só pensando em algum momento especial, nos amigos, na família, no amor, um amor que eu jamais havia provado, um amor por cada pessoa que eu conheço, por cada momento, por cada olhar. Hoje eu posso sentir o maior amor da minha vida, hoje, graças a Deus, eu posso sentir o maior amor da minha vida, pela vida.

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Acho que é por isso que eu gosto tanto da fotografia, por que eu amo lembrar, amo reviver. Acho que é por isso que tenho gostado tanto de escrever esses diários, por que eu amo lembrar, amo reviver.

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Nesse dia foram 130km de estrada boa e com subidas tranquilas, do jeito que eu gosto. Um furinho no pneu de My Princess, mas até ai, nada fora do comum.  Cheguei quase de noite numa cidadezinha chamada Colônia Valdense, super simples e pequena. Fui direto ao posto policial, onde fui muito bem  recebido por policiais pra lá de educados, que além de ficarem curiosos com a viagem, me liberaram um espaço pra armar a barraca e hoje são meus amigos do facebook. Tomei um banho no posto de gasolina, armei minha casinha e dormi como um anjo, estava bem cansado. O despertador tocou as 4h30 da manhã e eu pulei da “cama”. Há muito tempo não acordava tão bem disposto a essa hora. Comecei  o dia ligado no 220w, como se já fossem 10 horas da manhã. Sem dúvida, naquele momento fazia o maior frio da viagem até então. Tudo escuro, coloquei todo o meu patrimônio em cima da Princesa, tomei um café reforçado e segui, de noite, com a lanterna na cabeça e todas as minhas roupas de frio no corpo. Eu confesso que estava maluco pra viver essa experiência de pedalar no frio, e daqui pra frente, as coisas vão ficar cada vez “piores”, logo eu chego na cordilheira, e ai sim o negócio vai apertar.

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Pedalei durante uma hora no escuro, soltando fumaça pela boca. Certa hora resolvi olhar pra traz e lá estava ele, o astro rei, que chegava todo gordão, iluminando ainda mais aquele dia tão especial. Faltavam apenas 50km pra chegar na Argentina, eu mal podia acreditar. Esqueci do frio e segui brincando de lembrar da vida. E quanta lembrança boa, meu Deus, obrigado por tudo isso Paizão Querido!  Que vida longa, quanta coisa podemos viver em apenas 25 anos.

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Cheguei as 9h em Colônia Del Sacramento, de onde sai um barco que atravessa o Rio de La Plata e vai até Buenos Aires. Passagem do barco comprada, tudo certo, até que aconteceu o que eu já estava esperando, fui barrado na migração. O motivo é um pouco ridículo, mas vou contar: Eu com minha iniciante experiência em atravessar fronteiras, entrei no Uruguay como se fosse uma criança, assobiando, olhando pro céu, pensando na morte da bezerra e esqueci de um pequeno detalhe: carimbar o passaporte. Sei lá, caramba, entrei, ninguém me parou pra falar nada, parei na aduana, pedi água, continuei sem nenhuma abordagem, e fui, esqueci, nem pensei. Tá bom, fui moleque. Pelo menos agora eu aprendi que a regra número um quando eu entrar em um país é ir atrás do tal do carimbo. Pra resolver a situação burocrática, paguei uma multa de 839 pesos uruguaios, equivalente a R$95. Apaguei isso da minha memória e entrei no barco.

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Desci em Buenos Aires, montei na Princesa e meti a cara. Sai perguntando pra todo mundo onde se encontra o bairro da Isa, cada um me mandava pra um lado, e eu que nem um João Bobo, perdidinho. Fiquei zanzando, sem a menor pressa. As vezes eu quero chegar logo em algum lugar pra tomar banho, por que sempre chego nojento, mas como naquele dia estava frio, eu nem estava tão melado, então, deu pra passar algum tempo andando numa boa, curtindo a cidade, parando pra tirar foto, admirando a quantidade incrível de bicicletas e ciclovias que existe aqui, coisa linda, um exemplo a ser seguido.

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Duas horas depois eu cheguei no Bairro Belgrano, Rua Arcos, 1745, endereço de uma grande amiga, a Isa Guareschi. Estudei com ela em Maringá e hoje ela vivi aqui com sua prima Luana e sua irmã Luli. Há muito tempo eu não via a Isa, e nada como passar essa semana aqui em sua casa, matando a saudade e conhecendo a cidade com ela, que tem gostos muito parecidos com os meus. Aqui eu quero ficar 10 dias, não tô nem ai. Depois eu acelero o pedal pra tirar o atraso. Faz muito tempo que quero conhecer esse lugar, então eu me dei férias pra aproveitar com calma essa cidade linda! E já está sendo muito produtivo, o final de semana foi recheado de coisas boas, mas isso vou deixar pra contar depois que eu for embora.

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Bom gente, é isso ai. Envio daqui da Argentina a maior quantidade de carga positiva que possa existir, o máximo que meu corpo aguente enviar. Envio isso em forma de pensamentos bons, por que com certeza eles chegam até ai. Tenho certeza disso por que diariamente eu consigo sentir os bons pensamentos que vocês me mandam daí, e essa é a maneira que tenho de retribuir. E lembre-se que isso tudo tem um poder muito grande, é com a união de toda essa energia que podemos mudar alguma coisa nesse mundo. A FORÇA DO BEM só depende da nossa união e humildade…

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GRATIDÃO INFINITA À VESTÍGIO, pela oportunidade que me deram de poder tentar fazer alguma coisa boa pra esse mundo.

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Uma semana maravilhosa a todos nós!! Façamos o bem, não interessa a quem.

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Uma bomba atômica de amor no coração de todos!

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Fiquem com o Paizão!

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Beto Ambrosio!

 

 

 

 

 

 

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