Eu poderia te pedir para que vendasses os meus olhos para não mais ver tanta crueldade entre os seres humanos, nem as lágrimas de desespero dos infortunados que andejam por esperança nesta terra e nem o rubro sangue das vítimas da injustiça.
Eu poderia pedir que tapasses os meus ouvidos para não mais ouvir o choro de uma criança órfã e nem o grito desesperador de uma mãe que perde um filho. Todavia, a truculência dessa vida terrena é muito maior do que qualquer pedido que eu possa fazer a você. Creio que tu perdeste o controle sobre os mortais. Porém, ao mesmo tempo, vejo sua ira nos ventos, nas chuvas, nos maremotos, nas enchentes entre tantas outras manifestações vindas do seu poder celestial.
Nós, os professores, diariamente, tentamos levar um pouco de esperança para aqueles que continuarão tecendo o futuro deste planeta. Mas, parece-me que o senhor das profundezes tapou os ouvidos desses indivíduos.
Eles não nos ouvem. Querem ser ouvidos, porém não nos ouvem. Levantam suas bandeiras sujas de ódio, não respeitam o nosso trabalho e disseminam banalidades na busca de fama e dinheiro, traduzidos em curtidas, visualizações e compartilhamentos.
Não sei o método que usastes para a formação da família. Creio que, para este século, deve ter caído algum ingrediente oriundo das profundezas na sua poção divina. Ora, quem sou eu para fazer tamanhas indagações?
Querido Deus, sou professor. Todos nós somos esculpidos, porque sabemos da nossa responsabilidade perante o mundo. Você nos criou para sermos uma base indestrutível, pois somos os responsáveis pelos sonhos de toda criança e adolescente que passam pelas nossas mãos.
Entretanto, o mundo está em guerra. Sinto que falhamos. Como posso admitir tanta desumanidade na humanidade? As nações estão se digladiando por territórios, por crenças, por política.
Sei que nada disso é invenção sua. Como disse anteriormente, eu poderia te pedir muita coisa para amenizar o sofrimento daqui. Entretanto, só tenho um pedido a fazer: não haja como Pôncio Pilatos.
Não lave as suas mãos diante de tanta malquerença feita pelos mortais. Não vingue a morte do seu filho levando as almas dos filhos desta terra.
Seu filho, um dia, disse: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem”. Nunca souberam, mas poderão aprender se ouvissem mais os professores.
Conscientize estes mesmo líderes que fazem guerra a olhar com mais respeito e cuidado perante o nosso ofício. Obrigado.