Eis aqui as últimas palavras escritas num papel. Neste papel! Confesso que a separação entre ambos doeu na alma. Em principio, era a tinta e o papel; o meio, as teclas e o papel; o fim, as teclas e a tela. A evolução nos pega de uma forma que nem mesmo os vocábulos desta “flor do Lácio, inculta e bela, esplendor e sepultura” são intocáveis perante o novo mundo de leitores. A notícia me veio como uma flechada de Iracema a Martim: dolorida, mas necessária. Sairei da cena das impressões em massa para ficar no mundo virtual. Estarei lá, obviamente, mas não haverá mais o cheiro matinal das sextas-feiras em que tu, querido leitor, folheava este semanário repleto de informações num amálgama do odor cafeínico que exalava no momento da leitura.
Até breve? Não, até logo. Continuarei ortografando por aqui, mas virtualmente. Minhas digressões sobre a educação, sobre o mundo e a vida continuarão de forma digital, assim como todas as informações que ao longo de tantos anos, você, leitor amigo, acompanhou-nos. Não escrevo em tom de despedida contigo, mas sim com as folhas que compõem este semanário. É doloroso. Que me perdoem os editores deste, mas não há nada mais melancólico do que desassociar as palavras do papel. Ortografar vem da alma e assim como todas as almas precisam de um invólucro material para dar vida e sentido, os vocábulos precisam de uma folha em branco. Essa dissociação só é sentida para aqueles que transformam os sentimentos em arte, em terapia e em vida.
Meu medo é de ser esquecido. Não quero ser apenas uma foto na seção de colunistas. Quero ser lido, comentado, elogiado e criticado. É isso que nos torna humano. Assim como todos os colegas que aqui escrevem, esperamos vocês, apaixonados leitores, que nos acompanhem também pelas mídias. Temos muito mais a oferecê-los do que qualquer futilidade em alta pelas redes. O mundo vem se tornando fútil e é por isso que estamos aqui. Levamos a palavra, a consciência e a reflexão para vossas casas. O jornal não mais chegará fisicamente, todavia estaremos na palma das suas mãos na ânsia de sermos lidos e compreendidos. Despeço-me do papel, assim como muitos outros fizeram ao redor do mundo. É a modernidade, juro que entendo. Entretanto, despedidas não são felizes quando há uma relação amorosa. Com o tempo, vou me acostumar. Dizem que as dores são passageiras. A gente, como ser humano, entende, porém os verbos, frases, expressões, substantivos, sentença, sintagmas entre tantas coisas não entendem este desprendimento. O homem morre. O que permanece vivo são os seus escritos. O homem é mortal; as palavras são imortais. Sabemos muito de nós e do mundo em que vivemos porque houve um escriba que deixou certo conhecimento e sabedoria num pedaço de rocha, num papiro e num pedaço de madeira. Rezem pela eternidade da internet.
Espero-te!