As várias cordas do Carrapicho

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Eu sou arte. Eu amo a arte. Eu sou música. Eu amo a música. Eu sou as cores. Eu amo a pintura. Eu sou o escriba. Sou admirador dos artistas que não só destacam pelo seu talento, mas também pela humildade. A música te conduz a uma sapiência que somente aqueles que a têm na alma sabem do que eu estou falando. Grandes músicos possuem grandes poderes. Grandes poderes exigem muita humildade. Quando comecei nos primeiros acordes do cavaquinho, sempre ouvia falar o nome Carrapicho de Araraquara. Para mim, cavaquinhistas e bandolinistas só havia em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi no início da ascensão dos vídeos nas principais plataformas que eu conheci a musicalidade deste araraquarense talentoso. Até então, apenas um músico. No vídeo, o primeiro a que eu assisti, uma execução angelical do choro “1 x 0” de Pixinguinha. Seus dedos corriam pelas cordas de uma forma tão natural e espontânea pelo braço do bandolim que até parecia um diálogo entre o músico e o instrumento. O “bandola” estava personificado. Cantava as notas. Músico e instrumento num corpo só. O amálgama perfeito para quem admira a boa música.

Tempos depois, tive a oportunidade de fazer algumas aulas com o Carrapicho. Foi a partir dos seus ensinamentos que eu conheci o homem por de trás daquele minúsculo instrumento. Uma humildade que se equipara ao seu talento. Um coração que mal cabe no peito. Um pai exemplar. Uma pessoa ímpar de sorriso fácil e gentil com todos que querem atenção. Uma referência para o mundo do samba e dos apaixonados por cavaquinho. Um profissional que vem ganhando o seu espaço entre os grandes nomes deste gênero. E ele mora logo ali. É do interior e nos representa muito bem ao tocar seu violão, cavaquinho e bandolim. É nosso, é do interior paulista.

Grandes talentos devem ser homenageados em vida. O interior paulista precisa olhar para esses nomes que se destacam pelo Brasil e pelo exterior, mas que não perdem suas essências e suas origens. É por isso que são grandes. Somente aqueles que respeitam suas raízes e o seu povo é quem ganham a admiração. Exaltamos tanta bestialidade e futilidade que os talentos divinos passam despercebidos. A prática da boa cultura deve ser discutida na escola. Há tantos outros Carrapichos e outros tantos Elóis – também músico araraquarense – espalhados por ai, mas que não ganham o seu devido espaço, porque a exaltação do banal está enraizada na nossa sociedade. Felizes são aqueles que amam a boa arte, a boa música e são propagadores da cultura. Axé!

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