Como amante da música e da arte, eu vejo o futuro em jovens talentos. Vejo futuros promissores surgindo em meio de tanta contaminação tecnológica. É fácil descobrir o dom que o outro possui, porque, simplesmente, vem ao mundo com arte na alma. Executam suas obras como o cantar de uma falange celestial. É belo e divino. Tudo se torna fácil nas mãos que foram esculpidas por Deus. Não é qualquer mão e não é sempre que essas raridades andejam pela terra. Quando vêm ao mundo, o dom que recebem é para partilhar com outro, como se fosse fármaco, daqueles que expulsam a melancolia da vida.
Eu já sabia da sua musicalidade e sempre comentavam sobre a ousadia deste jovem menino. João Barbosa é o nome da música monte-altense. Creio que ele apareceu para o mundo do samba numa das tantas rodas de pagode que sempre fizemos pelos bares da cidade. A intimidade com o seu violão e a sua musicalidade nata abrilhantaram a harmonia naquele dia. E de repente, tempos depois, vi este mesmo jovem menino tocando outros instrumentos como quem empina pipa pela primeira vez: parece difícil, mas depois que ela atinge o céu, é contemplador. E a gente o contempla quando suas mãos passeiam pela viola, pelo violão e pelo cavaquinho. João executa a sua música como se fosse dar vida ao instrumento. É um diálogo único que somente os amantes da música sabem do que estou falando. É espiritual e transcende a lógica de um mundo materialista.
Aristóteles já dizia que “a música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.” Este impacto positivo da música tem ecoado pelas várias cordas de João, seja qual for o gênero e estilo musical executado por ele. É de uma natureza ímpar. Creio que dentro do ventre, o jovem talento tentava algo para acompanhar as batidas do coração materno. A minha alma fica em paz em saber que a bandeira do samba está sendo bem representada. Um dia, vou-me como a melodia que ecoa longe. Partir-me-ei em silêncio ao som e rufar dos tambores, todavia as várias cordas do João estarão aqui dando continuidade ao que foi construído – e está sendo – nas inúmeras tentativas de propagar uma cultura carregada de estereótipos ao longo da história. Espero que outros joãos surjam para fortalecer a musicalidade desta cidade que nasceu de um sonho para que ela não adormeça num sono cultural profundo. Que venha como veio as várias cordas do João de hoje.