A vida corrida que leva um professor deixa-o com a atividade cerebral sempre ativa e abastada de preocupações e afazeres para concluir, seja no lar ou no ambiente de trabalho. Quando tudo isso termina de um ímpeto, como é agora nas férias de julho, o corpo parece não entender o que está acontecendo. Levam dias para que o cérebro e o físico se acostumem com a falta de compromissos escolares. O pior de tudo isso é que quando eles se adaptam ao meio, já está na hora de voltar. A mente de um docente não pode se equiparar com as demais profissões. Ela nunca desliga.
Mesmo em descanso, sempre procuramos algo para fazer; uma leitura ou talvez um adiantamento de aulas para o próximo semestre. A escola se desliga da gente, mas não nos desligamos dela. É fato.
Passamos o final de semestre implorando pelas férias, mas quando elas chegam não nos acostumamos com essa questão de que não temos obrigações a cumprir, aulas e provas a preparar e aguentar fulano diariamente na sala de aula.
A primeira semana de férias talvez seja a mais prazerosa. Só de pensar em que não teremos a inquietação com os compromissos escolares já é um grande peso que tiramos das costas. Na segunda semana, parece que está nos faltando algo. Estamos nos sentindo, literalmente, nus. Perdidos e vivendo num mundo que não nos pertence. Vivendo uma realidade que não a conhecemos. Damo-nos conta de que o mundo é mundo quando ele passa a girar fora do contexto da escola, pois estamos sempre interligados ao mundo dos nossos discentes. Tudo parece estranho para quem sempre está comprometido com o bom desempenho escolar.
Na terceira semana, aparenta-se bater uma solidão ímpia. Isto não significa que estamos sozinhos, mas sim distantes de tudo aquilo que o nosso corpo e cérebro estão familiarizados. Ficamos inquietos e sempre procurando algo para fazer mesmo já o tendo feito. Para os privilegiados que conseguem viajar neste período, talvez seja um “sofrimento” a menos. Porém, para quem fica, o cérebro parece esmolar por encargos, compromissos e quefazeres.
Na última semana, vem aquela sensação de que as férias passaram rápidas e não fizemos nada para aproveitar. Pensamento muito comum para quem vive com salário de professor. Esta é a semana que ficamos pensando nos próximos descansos que acontecerão no segundo semestre e quando entramos para a contagem regressiva para as férias de dezembro.
Convenhamo-nos: não dá para entender a mente de um professor. Quando ele está perto, quer estar longe; quando está longe quer estar perto. E assim vamos vivendo este amor incondicional e paradoxal pela educação. É de espírito. Tem que se nascer docente para passar por todo esse turbilhão de fatos. Somente os verdadeiros entendem os comportamentos psíquicos, físicos e espirituais de um professor. É insano, mas abastado de amor pelo que faz.