Aborto, eis aí um tema polêmico. Algumas pessoas se colocam claramente contra; outras, militam a favor e, não poucas, preferem não falar no assunto. No entanto, este é um tema que não diz respeito apenas à mulher que interrompe uma gravidez indesejada ou considerada perigosa, trata-se de um assunto que diz respeito a todos nós, porque está ligado à vida humana. Por isso, precisamos nos posicionar, ter uma definição a respeito.
Aqueles que defendem a liberação ou ao menos da descriminalização da prática, costumam se apegar ao jargão feminista: “Meu corpo, minhas regras.” para justificar o direito de se decidir pela interrupção da gravidez.
De início, quero dizer qual o meu lado nessa situação: eu sou contra o aborto, contra a legalização e contra a descriminalização. Vou ainda um pouco mais longe, sou contra o aborto em qualquer circunstância, mesmo aquelas nas quais a legislação permite a prática, como nos casos de estupro e de risco para a vida da mãe.
Podem me chamar de radical, não me importo. Esse é o meu ponto de vista pessoal, contra qualquer tipo de assassinato, e o aborto é um assassinato potencialmente cruel, pois é o único em que a vítima não possui nenhuma condição de defesa. E é também o meu ponto de vista como católica, pois, embora haja muitos católicos “em cima do muro” sobre esse tema, não deve ser assim.
Um católico praticante, que vive integralmente a sua religião não pode se posicionar de forma diferente das diretrizes da Igreja. Não dá para sermos católicos e concordarmos com algumas coisas e discordarmos de outra. Falo da religião que pratico, mas sei que há várias outras que comungam a mesma posição no tocante ao aborto. Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja:
2270: A vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida. «Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi: antes que saísses do seio da tua mãe, Eu te consagrei» (Jr 1, 5).
2271: A Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral: «Não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido. Deus, Senhor da vida, confiou aos homens, para que estes desempenhassem dum modo digno dos mesmos homens, o nobre encargo de conservar a vida. Esta deve, pois, ser salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis».
Dessa forma, uma pessoa não pode ser católica e dizer: “Ah, eu sou favorável ao aborto em algumas circunstâncias” ou “Sou contra o aborto, mas a favor da descriminalização”. Esse é um daqueles casos em que Jesus nos recomendou sermos ‘quentes ou frios’, porque os mornos Ele vomitará de sua boca.
Converse com qualquer homicida e ele terá uma justificativa para o assassinato que cometeu, ainda assim, será um assassinato e ele deverá pagar por isso. O aborto é exatamente isso: um assassinato, apenas com a diferença de que a vítima ainda se encontra na primeira fase de sua existência, dentro do ventre da sua mãe, que deveria ser a primeira pessoa a defendê-lo, com a própria vida se necessário. A vida não nos pertence. Ela pertence a Deus e, se uma criança é concebida, seja em que circunstância for, é porque Ele assim permitiu.
Há uma pastora evangélica chamada Tânia Tereza que diz uma coisa muito importante: “A mulher que faz um aborto extermina uma nação”, ou seja, quando mata seu filho, você não está apenas se livrando de um incômodo, você está destruindo toda uma história de vida. Está matando também os netos, bisnetos, tataranetos, enfim, todas as pessoas que seriam geradas a partir daquela criança.
Sobre filhos gerados em situações de violência sexual, a nossa legislação não exige da mulher Boletim de Ocorrência e nenhum tipo de comprovação de que foi realmente violentada para fazer o aborto de forma legal, pelo SUS. Assim, basta a palavra da mulher para que o aborto se realize. Mas, sejamos coerentes, a grande quantidade de abortos praticados não são fruto de abuso sexual, mas sim de relações consentidas, apenas não se tinha o desejo de engravidar.
Está certo que a carga fica toda para a mulher. Em relações casuais, ou mesmo em algumas situações de namoro, o homem, na maioria das vezes, passado o fugaz momento do seu prazer sexual, não quer nem tomar conhecimento da mulher ou das consequências do ato praticado. A barriga crescerá nela e ele continuará lindo e garboso, até mesmo fazendo outros filhos por aí. É uma situação problemática? Sim. Difícil? Muito.
Eu mesma passei por essa situação e criei o meu filho sozinha. Hoje ele tem 40 anos e quem o conhece compreende a minha posição. E, quantos homens valorosos, como este que eu trouxe ao mundo não tiveram a mesma oportunidade que ele teve? Meu filho é um sacerdote, um pescador de almas. Quantas vidas ele tocou em seu ministério e quantas ainda tocará? Quantas crianças ele batizou? Quantos casamentos ele assistiu? Quantas confissões ouviu? Quantas pessoas auxiliou na hora da morte?
Nada disso teria sido possível se eu tivesse defendido o meu “direito de decidir” ou me valido do jargão “Meu corpo, minhas regras”. Meu corpo continua sendo meu para que eu faça dele o que eu bem entender e nada, absolutamente nada que eu possua nesta vida se comparará ao tesouro precioso que Deus me deu quando permiti que o filho que ele me escolheu para ser mãe viesse ao mundo.
Quando uma mulher diz que não faria um aborto, mas que não se posiciona sobre quem quer fazer, ela está sendo conivente. Quando homens e mulheres levantam essa bandeira, eles estão a serviço do mal, ou de clínicas que ganham muito dinheiro com essa prática. Eu não conheço nenhuma mulher que tenha sido condenada pela Justiça por ter feito um aborto clandestino, portanto quando a bandeira da descriminalização é levantada, não é para proteger as mulheres, é para proteger os aborteiros, que pode ser a entendida do fundo de vila ou médico num consultório sofisticado. É a essas pessoas que se protege nessa defesa, muitas vezes sem nem se dar conta disso.
Se cada mulher que faz ou pensa em fazer um aborto tivesse uma noção mínima da ferida que abrirá na própria alma e que ninguém e nenhuma ideologia no mundo será capaz de apagar, teria paciência, aguentaria os nove meses de gestação e decidiria o que fazer após ter em seus braços o milagre da vida. Continua não querendo o filho? Entregue-o para a adoção, mas, não se torne uma criminosa porque há um movimento no mundo que diz que você tem o direito de decidir tornar-se mãe ou não. Você tem realmente esse direito e a castidade é o caminho seguro para não engravidar. Agora, direito de matar, nenhum de nós tem.