Vinicius de Moraes dizia ser o branco mais negro do Brasil. O poetinha carregava na alma a batucada e toda a essência da musicalidade afro-brasileira. Vinicius se tornou imortal pela sua poesia, musicalidade e africanidade. Eu percorri por muitas rodas de samba nesta cidade so(no)nho. O samba por aqui, infelizmente, vem perdendo espaço há tempos. Valorizam mais o comercial do que o cultural. Faz parte para quem tem determinado comércio.Entretanto, refiro-me a roda de samba, a reunião de amigos, a batucada sem compromisso de agradar ao público. O samba tocado de alma, de coração. Samba de raiz, de partideiro, de malandro. Frequentemente, tento reunir os bambas para propagar a cultura. Confesso que, ultimamente, tem sido decepcionante a participação daqueles que também deveriam carregar a bandeira. Todavia, no meio de tanta desesperança, eis a voz do samba monte-altense.
Um cavaquinho sozinho não faz samba, mas uma boa voz com um bom repertório e um pandeiro na mão, dá para virar a noite cantando. Abram alas para o branco mais negro de Monte Alto: Edenilton Fuzaro, o Ceará. Não há ninguém que tenha o vasto repertório de brasilidade, musicalidade e africanidade que este sujeito possui. A gente se conheceu nas rodas de samba quando os bares da cidade ainda cediam espaço para a batucada. Eu via, ali, um potencial muito grande para cantar samba. É o que a gente faz hoje em dia: cantamos e disseminamos o samba de outrora, de raiz, de malandro. Esta parceria já vem de anos. Sabe aquela coisa de “Buchecha sem Claudinho”? Creio que a nossa amizade e parceira solidificou esta necessidade um do outro. E quando estamos juntos dividindo o palco, basta apenas dar o tom para cantar a mais linda canção.
A história vem sendo escrita. Quando falarem de samba, irão se lembrar do cara do cavaquinho que tinha seis dedos e do parceiro dele que cantava e tocava pandeiro alegremente. A voz do samba de Monte Alto tem nome, mas não tem oportunidade. Juntamente com ele, tentamos levantar a bandeira criada principalmente pelos nossos amigos do Cheiro do Samba. Em vão. Todavia, o show tem que continuar sempre.