A importância de saber plantar abobrinha

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Dia desses me chamou a atenção o vídeo de um geólogo falando sobre a importância de saber plantar abobrinha. O tema me pareceu tão tosco e tão estranho, que resolvi conferir, e não é que o assunto era bem mais interessante do que eu poderia supor? Ele fala não apenas sobre a importância de aprender a plantar abobrinha, que não é tão simples, pois, mesmo que os pés de abóbora nasçam e cresçam rapidamente, os frutos podem acabar sendo perdidos devido à sua alta sensibilidade a diversos tipos de pragas. Bem, você pode se perguntar: em que isso pode me interessar ou ajudar? Se você não gosta de abobrinha, em nada. Mas, ele fala também sobre a expertise necessária para plantar alface e outras hortaliças. Fala sobre a importância de aprender a fazer um torniquete para estancar hemorragias e sobre alternativas de aquecimento, uma vez que mora nos Estados Unidos, onde faz um frio que desconhecemos aqui.
O vídeo não é sobre o cultivo de verduras e hortaliças ou sobre primeiros socorros, o vídeo é sobre sobrevivência em caso de alguma catástrofe e do nosso enorme despreparo para isso. Tantas coisas trágicas têm acontecido, muitas delas provocadas pelos homens, outras, pela própria natureza, atingindo grandes contingentes de pessoas. Em alguns lugares até dizimando populações inteiras, como ocorreu recentemente em Moçambique, atingido por ciclones, com cerca de dois milhões de pessoas afetadas, com um grande número de mortes.
O que você faria se um extremista invadisse a igreja onde você assiste a uma missa ou a um culto dominical atirando e atingindo dezenas de fiéis? Você teria algum conhecimento que pudesse ser útil para ajudar pessoas a respirarem ou para conter sangramentos que põem a vida em risco? E se os eventos apocalípticos passarem a acontecer com menor intervalo e maior gravidade, você estaria preparado para sobreviver e para ajudar outras pessoas? O que você faria se houvesse uma terceira guerra mundial, com o uso de mísseis, bombas e armas químicas de altíssimo poder letal e você e sua família estivessem entre os sobreviventes? O que você faria se saísse de casa pela manhã e uma catástrofe qualquer fizesse com que você não mais tivesse casa para onde voltar, como aconteceu com os moradores dos prédios que desabaram no Rio de Janeiro?
Ter dinheiro, bens, automóveis, propriedades de nada serve se não houver comida nos supermercados, combustível, água potável, remédios. Nós estamos expostos a uma série considerável de perigos e não temos a menor preparação para vivermos na condição de sobreviventes. Ou seja, se as catástrofes não nos matarem, nos matará a nossa inabilidade de sobreviver, de conseguir comida, aquecimento, alternativas de cura. Muitos de nós, estariam “no mato sem cachorro” e apenas esperariam a morte lenta chegar, para nós e para os nossos.
Mas, se soubéssemos ao menos plantar abobrinha, tomate, arroz, ordenhar uma cabra, cozinhar de improviso qualquer tipo de comida que conseguíssemos, inventando o próprio fogão, cuidar de um ferimento, construir um abrigo em meio a escombros, teríamos alguma chance.
Vocês entendem onde eu quero chegar? A maioria de nós, se perdesse o celular estando longe de casa e precisasse ligar para alguém pedindo ajuda, mesmo que tivesse diante de si um telefone que pudesse usar, não saberia como ligar, porque não sabemos os números de telefones de ninguém, nem dos nossos filhos, dos nossos pais, do nosso melhor amigo e nem mesmo o nosso, porque estamos transferindo a nossa memória para um lugar fora de nós. Usamos calculadora para deduzir R$ 2,50 de R$ 10,00. Só cozinhamos com receitas encontradas no Google ou em vídeos do Youtube. Perdemos o conhecimento ancestral das ervas que nossas avós e nossas mães usavam para fazer chás que tratavam com eficácia uma gama de doenças de nossa infância. Nós estamos até mesmo perdendo a capacidade de ter prazer na companhia real de outros seres humanos. O que seria de nós se, de repente, algo afetasse os mecanismos da internet e todo o mundo bits e algoritmos fosse apagado instantaneamente, tragando para um longínquo e inatingível buraco negro todos os nossos milhares de amigos virtuais? Como arranjaríamos namorados se o Tinder deixasse de existir?
Hoje dispomos de um conforto e uma tecnologia que nem os mais poderosos reis puderam supor que um dia existiria. No entanto, temos tudo e não temos nada. Se um simples aparelhinho for tirado da nossa mão, metade da nossa vida, dos nossos afetos, dos nossos negócios, das nossas transações, das informações úteis e importantes se vão com ele. Se o dinheiro acabar, se a comida escassear, se a água se tornar imprópria para consumo, se o clima ao qual estamos acostumados mudar, se as pessoas próximas de nós se ferirem ou adoecerem gravemente num mundo sem remédios, sem médicos e sem hospitais, o que será de nós?
Não faço apologia das catástrofes e nem sou regida pelas teorias da conspiração. Sou apenas mais um ser humano que, conquanto tenha algumas habilidades que possam ser úteis, também não sabe plantar abobrinha e não estaria apto a sobreviver num cenário de completo caos. No entanto, se tal vier a ocorrer – e é possível que venha –, mais do que sobreviver, caberá a quem sobreviva a árdua tarefa de reconstruir, por isso, é bom começarmos a nos preocupar em variar nossas habilidades. Se nada acontecer, é sempre bom dominar novos conhecimentos. Mas, se… afinal, nunca se sabe, né?

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