Pegar estrada pela nossa região ou por qualquer outro lugar do país, onde há resquícios de fauna, é nos depararmos com um cenário sanguinário. A quantidade de animais que morrem atropelados por essas estradas é entristecedor. Há estimativas de que a cada segundo, 15 animais silvestres morrem pelas estradas que cortam este imenso país. De acordo com estimativas do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, ao final de um ano, estas mortes chegam a 475 milhões. Sem contar o risco que corremos ao invadirmos o seu espaço ao tentarmos evitar os atropelamentos. E toda vez que presencio aquelas cenas rubras e cadavéricas pelos caminhos que percorro, há um sentimento de invasão e impotência perante a situação.
Não vejo um planejamento concreto para que se evite todas essas perdas da nossa fauna. Não vejo rotas de fuga para que esses animais possam transitar de um lado para o outro. O que vejo é desespero. Atravessam estradas e rodovias sem saber dos perigos. Apenas correm. Não tem noção entre tempo, espaço e velocidade. Não sabem olhar para os lados. É claro que existem aqueles que são até mais espertos do que muitos humanos que rodam pelas rodovias. Creio que agem no instinto da sobrevivência para sobreviver numa realidade que não lhes pertence. E quando perdem alguém do seu bando, a dor não é diferente da nossa. Eles também têm as suas dores e tristezas. Sofrem pelo filho atropelado, pela perda materna, paterna e fraterna. Sofrem por não poder velar aqueles corpos dilacerados e por não poder carregar os seus restos mortais.
É preciso mostrar esta realidade nas escolas com mais afinco. É de lá que sairá este olhar crítico para a situação e, quem sabe, possam, futuramente, tomar medidas cabíveis para que esta matança involuntária seja apenas uma estatística histórica. Consequentemente, muitos pais de famílias poderão voltar ao lar são e salvo e sem peso na consciência de ter atropelado um animal indefeso. Basta consciência, conscientização, política pública e privada. Literalmente, basta!