Dias atrás, propus uma atividade de escrita para uma sala do oitavo ano. No enunciado, pedia que os alunos escrevessem uma poesia com base numa palavra escolhida pelo professor. Eu ortografei a palavra “NAMORAR”.
Os alunos travaram. Não sabiam como iniciar uma poesia com este verbo. Chamei a atenção de toda a sala para que olhassem além do que ela significava. Comecei a desmembrá-la. Em NAMORAR, extrai-se o verbo MORAR; extrai-se o substantivo AMOR e o verbo AMO conjugado na primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Por conseguinte, extrai-se o verbo ORAR; extrai-se o verbo ORA conjugado na terceira pessoa do singular do presente do modo indicativo (ele , ela) . Se lermos a palavra ORAR de trás para frente, lê-se RARO. Uma só palavra com tantos outros significados no seu interior. Somente com um olhar atento é que podemos perceber que as palavras significam muito mais do que são.
Começamos a juntar os vocábulos. Iniciei uma poesia de ímpeto. “ Namorar é orar pelo amor que eu amo. É morar dentro de um uníssono coração. É raro o amor que ora, que cuida e que ama.” Os alunos se sentiram desafiados. Por mais que o assunto ainda fosse precoce, o poder que a palavra tem e as possibilidades que temos para criar uma infinidade de assuntos são inúmeros. Após isso, fui desafiado. Deram-me a palavra VIDA. Pensei numa das poesias que havia feito, mas de que me lembrava de apenas alguns resquícios: “ A palavra VIDA tem o V da vitória e o o substantivo IDA. Uma VIDA de apenas IDA. Em VIDA há vitória. Nós é quem dificultamos em alcançá-la.”
Propus, então, a seguinte atividade: faça uma poesia das palavras escritas e das que foram desmembradas para apresentá-la à turma.” Não tenho dúvidas de que chegarão poemas lindos para tal atividade. Uma palavra pode significar muitas outras coisas. Não se pode prender a um significado universal. Dicionarizante, um vocábulo pode ir muito além do que ele significa. Bastar encontrarmos os princípios básico de educação. E este, meu caro, vem da intensidade das suas leituras e da curiosidade da lexicografia do português brasileiro.
