Que mal tem esta cidade que sua história se torna pó? A transcrição da entrada onde descansam os mortos faz jus à pergunta: Revertere ad locum tuum. Aqui tudo vira pó para virar progresso. As placas de “aluga-se” estão espalhadas por toda a cidade. Há inúmeras delas. Progresso para quem e para quê? Em cada esquina que passo vejo um sonho destruído. Vejo placas de “vende-se” e inúmeras postagens de “passa-se o ponto”.
Derrubam a história da cidade para quê? Para construírem outro ponto comercial? Pasmem! Há lugares que nunca foram alugados. São construções fantasmas que estão esperando para assombrar um jovem empreendedor. Derrubam a história para escreverem a triste história na vida de um jovem empresário.
Já virou cultural pelas bandas desta cidade a célebre frase “logo, logo fecha”. Fecha por quê? Altos tributos, impostos, preço de aluguel ou porque o produto e atendimento não são de qualidades? Fecha-se porque a mesmice de sempre não atrai compradores. Fecha-se porque os pequenos comerciantes da gastronomia têm que disputar preço e produto com as incansáveis quermesses que têm ao longo do ano. E continuam empreendendo em imóveis comerciais. Transformam os imponentes casarões – que aqui jazem – em pó para que o progresso assuma o seu lugar. Enquanto isso, a população sai da cidade para consumidor nos imponentes shoppings da região. Levam toda a família para se divertirem nas cidades vizinhas. Ora, por que o progresso daqui não se iguala com os de lá? Tudo o que fazem aqui é mais do mesmo e nem merece espaço nestas linhas que escrevo.
Eu apenas observo – em lamentos – a capacidade que grandes empresários têm de demolir tudo o que um dia foi uma história. Não sei se eles sabem da dificuldade que é ser um empreendedor neste país burocrático. A burocracia destrói o sonho de muitos que querem investir em algo. Sinceramente, não voltarei aqui para falar de história e demolições. Já a apagaram. Restam uma coisa ou outra que logo se tornarão pó também. É uma questão de tempo.
