Tabu
As grandes religiões do mundo e grande parte das menores aceitam o preceito divino sobre a concessão do livre arbítrio ao Homem. Sendo isso verdade, surge uma contradição ou, no mínimo, um erro de julgamento. Ora, se a divindade concede o livre arbítrio, está dando permissão aos humanos para que façam o que bem entendam, inclusive cometer assassinato e ao mesmo tempo condena o suicídio. Matar pode, tendo cobertura do livre arbítrio, cometer suicídio é condenável, porque a liberdade de livre ação não chega a tanta amplitude.
Repressão
Escola de Comércio, 1968, auge da ditadura de extrema direita, também conhecida por militar, devido à presidência das forças armadas, aparece certa noite na secretaria do colégio, um senhor de meia-idade, vestido socialmente, portando uma pasta de couro no estilo 007, um típico agente governamental. Eu fazia parte de um grupinho rebelde politicamente, que contestava o governo federal e o municipal sobre as ações nas áreas de educação e cultural. Ficamos preocupados com o visitante, sempre pensando o pior, como se o alvo dele fosse nós. Nos revezamos na observação do que o homem fazia ou poderia fazer. Ele entrou na secretaria atendido pelo José Rodolfo Denadai e pelo professor Dino Bruzadin, a conversa parecia uma delação ou espionagem, tudo de acordo com o clima político da época. A visita durou cerca de meia hora, assim que o sujeito saiu, tratamos de levantar com o José Rodolfo o teor da conversa. Quando perguntamos se o cara era policial, o José Rodolfo sorriu e respondeu: “ele é representante de uma empresa de jóias e queria permissão para vender na escola anéis de formatura da turma de formandos do ano”.
Codinome
Certa vez pensamos em fazer um levantamento sobre a origem dos apelidos mais populares de Monte Alto. A gente tinha uma lista enorme: Tegana, Tega, Binha, Coringa, Trombada, Teba, Limonada, Foca, Sapatilha, Pica Fumo, Bola Preta, Copo Cheio, Coxinha, Tarzan, Cipó, Prato Feito, Tivo, Didi, Cinquentinha, Zé do Ouro, Zé da Jóia e centenas de outros. Numa noite, depois da aula, paramos no bar do Belo e fomos atendidos pelo Mazola, dois apelidos não listados. O Mazola, sabíamos que era por causa do jogador brasileiro Altafini, que devido à semelhança com o italiano Mazola, ganhou o nome dele como apelido e muitos no Brasil adotaram a alcunha; como não sabíamos de onde saiu o Belo, fomos pedir informação para sua esposa, que estava no bar, Dona Odete Veroneze. Perguntamos a ela se o Alcides Coelho ganhou o apelido, porque era belo mesmo. A resposta foi irônica: “era lindo, tão belo que a única que ele achou para casar fui eu”.
Monarca
Em 1822, meio na marra, D. Pedro, português em tudo, menos no nascimento, proclamou a independência do Brasil. Os que induziram D. Pedro ao ato queriam uma república, prometendo a ele a presidência do país. Não cumpriram o trato e o Brasil passou a ser uma monarquia com a representatividade parlamentar. D. Pedro aceitou a monarquia com o título de Imperador, D. Pedro I. Em 1824, dois anos depois, foi promulgada a primeira constituição brasileira, elaborada pelo parlamento, que o Imperador aceitou na íntegra, exigindo apenas uma cláusula: o Imperador nunca erra!
Calendas
Era um 5 de agosto, uma vaga lembrança diz que o ano era 1963, véspera de feriado na metrópole de Monte Alto. Logo de manhã, uma “pequena multidão” (isso existe?) se juntou nas calçadas da Rua Nhonhô, que naquele dia teria uma inversão de mão, o sentido que era leste/oeste, passou a ser, como é até hoje, oeste/leste, uma data sem importância histórica, que ficou na memória dos que viram, que na época avaliaram como uma metropolização da nossa urbe, se há exagero na metropolificação a gente desconta um pouco: urbanidade! Também naquela manhã, um fato que não ficou na memória de ninguém, foi exclusivo desse autor, aconteceu lá no início da Rua Cica, uma extensão da Rua Nhonhô. Vimos que a primeira parada da história foi no Armazém do Traete, depois parou no Armazém do Piovezan; pela ordem: no Empório do Landinho, na Venda do Nelo Oliveira, na Padaria Bom Jesus do Morgado, no Armazém do Castanharo, na padaria do Raul Silva, na Casa Haddad, no empório do Ferreti, no Armazém do Penhalber, depois outros pela Calábria afora, locais que não segui e não vi. Não vi as últimas entregas do último carro de boi que trafegou pela Nhonhô e por extensão na nossa metrópole, ele entregava os sacos de farinha de mandioca, a uma velocidade de 10 quilômetros por hora. A paciência do condutor era bovina!
Suborno
A corrupção brasileira está entre as maiores do mundo, não é a campeã, porque até na bola o Brasil não é mais. Duas verdades sobre corrupção o povo não sabe ou não quer saber: ela não compromete o PIB do país como parece, ela não chega a 5% do que produzimos, isso não significa que não deve ser combatida, porque erradicada nunca será; para que a corrupção exista é necessário dois agentes, o corruptor e o corrupto, que para espanto dos céticos, o corruptor principal é o povo. O processo tem início quando o eleitor vende o voto, que é a principal arma que possui para exercer sua defesa. Nenhum índio vende seu arco e flecha, não existe cobra que vende o veneno. A história não registra um soldado vendendo a espada!