A paixão pelo futebol que o brasileiro tem é indubitável. Não é qualquer país que consegue ser penta campeão mundial. O esporte para toda a nação. As ruas ficam desertas. As casas ficam cheias de pessoas que compartilham do mesmo fanatismo. É lindo de se ver e de sentir a brasilidade que ecoa pelos lares da nação. Mesmo aqueles que trabalham em dias de jogo, sempre arrumam um jeito de acompanhar as partidas. O grande problema desta paixão toda é o quesito “não saber perder”.
O brasileiro não aceita o fracasso futebolístico, mas tolera a derrota em muitos outros campos que são mais importantes para o país. Ele discute sobre os jogos da rodada, porém não consegue argumentar sobre política, economia e principalmente educação. Apontar os problemas que o país enfrenta é a mesma coisa que acertar um chute na bola. Isto qualquer cidadão provido de pequenos movimentos na perna consegue fazer. Resolver o problema apontado é a mesma coisa que tentar acertar a bola na forquilha, lugar almejado por tantos craques que consideram aquele local uma verdadeira pintura.
A educação no Brasil está longe desta arte. Nem passa perto da trave. É aquele chute que o zagueiro isola a bola para não correr o risco de tomar gol. É o famoso “jaqueira”, apelido local que se dava aos jogadores que mandavam a bola atrás dos pés de jaca do estádio municipal. Sem contar os outros fatores que são jogados para o escanteio.
O Brasil é um país que ocupa as últimas posições no ranking do Pisa que avalia a qualidade da educação. É um dos países mais corruptos do mundo. Sendo assim, em tempos de Copa do Mundo, fica uma pressão muito grande sobre a seleção canarinho, como se a situação em que passamos fosse mudar se os nossos jogadores trouxessem o hexa para casa. Fica um desapontamento tão grande quando somos eliminados, que a indignação do povo passa dos limites da ética, cidadania e respeito. Vira um campo de guerra, principalmente em cima dos jogadores responsáveis pelo fracasso. E se eles cobrassem respeito e educação o quanto são cobrados em campo? E se eles brigassem com os torcedores para que respeitassem as torcidas rivais ao invés de tumultuar e acabar com o espetáculo em campo? Tudo é uma questão de empatia. Como foi dito acima, chutar a bola é fácil, o difícil é acertar a forquilha. Não podemos exigir de 11 brasileiros o nosso orgulho ferido em outros campos. É preciso, primeiramente, orgulhar-se nos quesitos básicos para depois poder exigir que o nosso futebol alcance o lugar desejado por todos.
A responsabilidade de uma imagem positiva do Brasil não depende de 11 brasileiros, mas sim de 207 milhões que entram em campo diariamente, principalmente aqueles que assumem este compromisso de quatro em quatro anos.
