Categoria
O Brasil tem uma crise real e grave, a Moral. As outras chamadas crises, políticas e financeiras, são subprodutos da principal. O país é dividido em governo e povo, o primeiro é imoral e o segundo é amoral, ambos são agentes de um Estado comprometido com o próprio conceito. Os donos do país se apropriam da nação, tornando os brasileiros órfãos de cidadania, que provoca a citada amoralidade. O brasileiro é corruptor por natureza e o governo é um corrupto comportamental.
Foi criada na mentalidade nacional uma “classe política”. Uma aberração sem precedentes na história do país. O Brasil é um Estado, cuja composição é una, todos são cidadãos com deveres e direitos iguais. A imprensa, que deveria ser o quarto poder de uma república é demagoga, atua como condutora da opinião pública, sem considerar seu papel de formadora de opinião. A mídia nacional inventa a “classe política” quando todos os brasileiros são políticos em função do protetorado do Estado. Se há a classe política, por extensão existe a classe apolítica e a despolítica. Prarafraseando alguns fiéis de uma certa religião: “o brasileiro é um político – porém – não é praticante”.
Classe
A farsa da “classe política” lembra outra mais grave, inventada pelo capitalismo que governa o Brasil: classe média. Uma ficção com efeitos especiais, a classe média nada mais é do que a pobreza congênita da nossa sociedade, elevada a um degrau mais alto da escada social. O poder aquisitivo aumenta e o cidadão médio, compra bens nunca antes possíveis, o sonho da casa própria se concretiza no BNH da vida, cujo financiamento baseado na renda ultrapassa a duração média do tempo de vida. Um carro completa o sonho, ainda que o carnê de financiamento seja mais espesso do que o pneu do veículo. O BNH e as financeiras garantem o empréstimo no prazo estipulado, porém, nada mencionam sobre uma garantia de emprego do financiado ou de uma estabilidade no negócio do beneficiado – leiam bem: o financiamento é um benefício do sistema e do Estado!
O cidadão da “classe média” é um alpinista pendurado numa encosta da montanha aristocrata, sem conseguir chegar ao cume, sujeito a despencar para pobreza no despenhadeiro social.
Bola
Faz um bom tempo que não vejo futebol na TV, porque o esporte nacional se tornou um produto de consumo na mídia. O jogador é uma mercadoria nas mãos do empresário e dos dirigentes de clubes e entidades do esporte. Nos clubes, as diretorias se digladiam, com dirigentes pagando o jogador contratualmente e outros pagando por fora, para perder um jogo. Também há a ordem para que todos joguem em função de um atleta, para valorizá-lo no mercado. Torcer para um time de futebol foi salutar, atualmente é ser vítima de uma lavagem cerebral que torna o torcedor um imbecil de primeira grandeza, tendo que ouvir horas de “mesas redondas” discutindo um lance de um jogo, que muitas vezes, que muitas vezes foi combinado em campo ou nos bastidores. A única honesta no futebol é a mãe do juiz!
Escritura
O Matioli do cartório é bastante conhecido na cidade, em função da sua atividade no meio forense. O José Luiz, seu nome de registro, foi um colega de adolescência desse colunista, era o tempo do cinema e do gibi. O Matioli era um colecionador e leitor voraz dessa literatura. Ele descobriu um local inédito para ler escondido da mãe, no galho do alto de um abacateiro. Ele acabava de ler um exemplar e jogava-o no chão, que eu apanhava para ler, nossos quintais faziam divisa nos fundos. Sua saudosa mãe, que ficava de alerta, percebia a manobra e gritava: “Zé Luiz, eu subo aí e te pego.” Claro, que ficava na ameaça, ela jamais subiria na árvore, além do mais, o Matioli estava protegido por Tarzan e Jim das Selvas. O chefe índio Jerônimo era o rastreador e avisava-o do perigo.
O Matioli atual não lê gibi, coleciona outros objetos, como discos e livros. Ele também gosta de cuidar do carro com esmero. Lava e encera o carro que usa com frequência, os carros que teve foram verdadeiras obras de arte. O atual também. Quando o Matioli troca de carro, o vendedor compra o carro dele para uso próprio sem testar nada.
Conta-se que certa vez Zé Luiz foi trocar o carro usado por um zero. Deixou o carro no estacionamento e entrou na concessionária para conhecer os lançamentos, gostou de um modelo e perguntou ao vendedor se ele aceitava troca, o seu usado com o novo. Foram para o estacionamento para ver o carro, o vendedor deu uma olhadinha no carro do Matioli, que brilhava como espelho, e perguntou:
– Quanto o senhor quer de volta, sr. Matioli?
Dou Fé!
Foi notícia na cidade e na região, quando o Matioli, que era de um cartório contratou o Silvio Vrechi, meu primo, que trabalhava em outro. O Silvio é uma sumidade na área, coisa de família! O comentário foi que o Silvio foi contratado a peso de ouro. Lógico que foi força de expressão! Com o peso do Silvio, até Bill Gates, se o contratasse, quebraria. Ouro se vende em grama, não em arroba.