Quem nunca teve ou tem um amigo que vive nos corrigindo, não saberá o que é o cúmulo da chatice. Sim, chatice. Puro preconceito linguístico. Não vai achando que este amigo sabe de tudo da flor do Lácio ou que ele seja culto. Na verdade não passa de um pseudointelectual. Aquele que finge ter um intelecto que não tem. Até porque para ter todo esse conhecimento sobre a língua ele precisaria ler muito os livros do Bechara, Ataliba, Luft, Cegalla entre outros autores renomados. Ficar corrigindo as pessoas em público, principalmente quando se trata de oralidade, não é nada legal. Somos um país multiétnico e com uma grande variedade linguística. Sempre falo que antes de criticar o modo que uma pessoa fala, temos que avaliar o seu contexto cultural, socioeconômico, social, histórico, entre outros agentes que possam contribuir no modo em que uma pessoa fala. Como professor de língua portuguesa, devo fazer a correção em sala de aula, mas nada além do meu contexto de trabalho. Alguns amigos já declararam que têm receio em conversar comigo, seja em redes sociais ou até mesmo numa situação mais informal, porque acham feio falar errado perto de um professor de língua portuguesa. Bobagem. Seria antiético da minha parte ficar corrigindo as pessoas que envolvem o meu círculo social e é mais ridículo ainda uma pessoa que mal conhece o uso da língua fazê-lo. Marcos Bagno já dizia, “Mas os preconceitos, como bem sabemos, impregnam-se de tal maneira na mentalidade das pessoas que as atitudes preconceituosas se tornam parte integrante do nosso próprio modo de ser e de estar no mundo. E o tipo mais trágico de preconceito não é aquele que é exercido por uma pessoa em relação à outra, mas o preconceito que uma pessoa exerce contra si mesma.” Este preconceito explanado pelo autor se refere a todas as formas, porém se inclui também no preconceito no qual estamos abordando. Nosso círculo social não é composto apenas de pessoas que moram em áreas urbanas. Todo mundo tem um amigo que vem do sítio e traz com ele o seu jeito de falar peculiar. Temos amigos de diferentes classes socioeconômicas que percebemos com nitidez o seu jeito de falar de acordo com o meio em que ele vive. Ficar discutindo o que é certo ou errado na língua não é um trabalho para nós falantes. Se já é difícil para os linguistas, imagine para nós que somos simples falantes do português. Sempre afirmo que não há erro de gramática quando se trata de oralidade, pois o que importa é a capacidade de transmitir comunicação. A partir do momento que entendemos o que o outro quer dizer, já estamos transmitindo-a. Na língua falada o que não se pode admitir é o erro de construção. Se digo que “ a casa é bonita” e simplesmente eu disser “ bonita é casa a” eu não estaria transmitindo comunicação. Isso afetaria o canal de locutor para interceptor. Teríamos então um erro na língua falada. Isso sim é condenado pelos gramáticos e linguistas. Portanto se algum amigo vier a corrigi-lo, pode chamá-lo de preconceituoso. Linguista preconceituoso. E para provocá-lo ainda mais, pode dizer, por favor, para que “seje menas” detalhista e chato quando você fala errado.
Um feliz 2017 a todos vocês!