Relatos da docência – Parte II

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O ano de 2014 tive a experiência de trabalhar no CDP – Centro de detenção provisória de Taiuva. Eu queria ter a oportunidade de levar o meu conhecimento à prisão e ver como é o dia a dia dos presidiários. Antes mesmo de descer à sala de aula, senti um enorme frio na barriga. Não sabia como seria a recepção dos alunos e o ambiente que eu encontraria para exercer o meu trabalho. No caminho á sala, aquelas grades abrindo e fechando aumentava mais ainda a tensão. Todos os professores também passam pelo detector de metal. Teve uma situação de eu ter que tirar toda a roupa, pois naquele dia havia ( não sei como ) uma linha metalizada ao redor da calça que eu vestia. O sistema de segurança é bem rígido e todas as pessoas que por ali passam ou entram são obrigados a passar pelo mesmo processo. No primeiro dia de aula, fiquei surpreso com a estrutura das salas. Era uma escola dentro de um presídio. Continha cinco salas de aula, um laboratório de informática e uma biblioteca. Os próprios detentos é que cuidavam do ambiente. São chamados de monitores. Conheci-os primeiramente e eles me encaminharam para a sala onde eu deveria ficar. Chegando lá, sala cheia. Um calor insuportável. Apresentei-me, falei da minha formação, meus projetos literários e em seguida comecei a escrever na lousa. Um primeiro pré-conceito que tive: se acontecer uma rebelião eles vão colocar uma fala no meu pescoço e me manter refém. Grande bobagem! Depois que passei a matéria, expliquei-a e fizemos as atividades, vieram alguns questionamentos: “ Professor, por que você escolher dar aulas aqui no presídio?” Eu respondei: “escolhi porque a educação e o conhecimento não pode ser impedida por barras de ferro.” Parecia que naquele momento eu havia ganhado o respeito dos alunos. Só parecia. Os alunos, na verdade, já respeitavam o professor só pelo fato de estarem ali. Nós éramos os verdadeiros heróis. Tantos lugares para lecionar, o ato de escolher o presídio, para os detentos já era um motivo de heroísmo. Com o passar dos dias, fui me envolvendo mais com os alunos. Eles me contavam o porquê estavam ali. Tráfico, roubo, homicídio entre outros que por aqui não poderia explanar. Eles tinham suas leis e vocabulários. Aprendi muita coisa em relação à linguagem. Fiz alguns amigos. Havia um aluno da cidade de Taquaritinga. Depois que saiu em liberdade acabou me encontrando pelas redes sociais. Ele se interessou pelas minhas publicações e disse que escrevia também. Temos contato diário. Ele manda algumas poesias para que eu corrija. Sem perceber, fiz amizade com um escritor dentro de  um presídio. Além desta joia, fiz amizade com um aluno de Olímpia que contou toda a sua história lá na cadeia e que se declarou muito feliz por eu estar dividindo aquele momento com ele. Ali havia pessoas incríveis: desenhistas, poetas, músicos, com faixa etária entre 18 a 40 anos. Muitos estavam arrependido do que fizeram; outros diziam que continuariam no crime pelo simples fato da dificuldade de encontrar emprego quando se tem passagem pelo presídio. São histórias de vida que eu levei junto comigo e que carrego aquela experiência alertando os meus alunos de como é viver encarcerado. Todas vez que eu me despedia, ficava um pouco de mim na cela. Talvez um pouco da minha liberdade para que eles desfrutassem enquanto esperavam o julgamento.  São brasileiros como nós que por aventuras entraram no barco errado e estão pagando pelo que fizeram. São brasileiros como nós que na dificuldade escolheram o crime para sobreviver. São brasileiros como nós que, no momento da raiva, pagaram com o sangue alheio.

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