Sobre o Tédio e o Ócio

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Não fazer nada. Não produzir. Saber só estar. Saber só ser. E isto bastar. Difícil, não é? Sim, ainda mais quando vivemos na vida desenfreada do produzir para ter cada vez mais.
É como se todo e qualquer momento de pausa significasse uma perda de tempo. E não ter nada para fazer está na contramão da vida moderna: uma oferta infindável de atividades e coisas para comprar e ocupar o tempo.
Quem já não viveu ou mesmo viu uma criança cercada de brinquedos, com TV, computador, celular e desenhos, se queixar de que não tem nada para brincar? Pois é, é tão comum e natural ter que fazer algo, que quando paramos simplesmente não sabemos o que fazer com este “nada”, com este vazio no tempo programado e cronometrado de nossas vidas.
E justamente por querermos sempre preencher este espaço com algo é que deixamos passar cada vez mais a oportunidade de zerar, de recarregar, de entrar em contato com aquele mundo interno que só conseguimos quando realmente paramos com tudo. E as crianças estão aprendendo também a agir assim.
Primeiro porque nós, os adultos, queremos preencher todo o tempo delas. Não basta o período da escola e as tarefas, tem que ter todas as atividades extras que podemos pensar. E, se vamos no caminho contrário, se deixamos de colocar em uma aula de ballet ou inglês, por exemplo, vemos caras assustadas e interrogadoras de outros pais preocupados com a formação futura dos filhos.
Sim, atividades extras são importantes. A natação, o ballet, a pintura, o inglês, o espanhol, o italiano, o sapateado. Mas, temos a vida toda para investir nelas, alternadamente, em fases que cabem na rotina de nossas crianças e que lhes permita viver a infância. E entenderem que tudo bem ficar paradas! Que tudo bem não ter nada para fazer de vez em quando.
Temos que sentir isto e entrar em contato com o tédio, com a falta do que fazer. Estes momentos também nos propiciam muitas situações positivas: descanso mental e físico, observação do que está ao nosso redor, respiração consciente, contato com a natureza ou simplesmente ficar parado.
Não é engraçado, para não dizer maluco, que a gente não aceite que podemos parar um pouco e que ficar entediado não é doença e nem um problema? E que a maioria de nós depois reclame justamente de cansaço, esgotamento físico e mental e de não ter tempo para nada?
Então, vamos nos permitir sentir e deixar sentir o tédio e o não fazer. Será uma rica oportunidade para todos nós!

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