Há anos que escrevo esta coluna, e esta é a primeira vez que escrevo sobre alguém cuja história se confunde com a minha própria história em Monte Alto. Lembro-me com saudade daquela primavera de 1969, quando pisei pela primeira vez no solo desta cidade que escolhi para viver o resto da minha vida. Costumo falar que o homem não tem opção para nascer; de onde eu vim, do nordeste do Brasil, há um ditado que diz: “o cabra pode nascer até trepado no pé de coqueiro”, mas eu digo: “onde viver, é uma questão de escolha”.
Voltando àquele setembro, conheci aqui uma jovem, na época com 17 anos, chamada Ana Maria, a qual, pouco tempo depois, tornou-se minha esposa e mãe dos meus filhos. Quando eu aqui chegava, aos finais de semana, costumava buscá-la no salão da entrevistada de hoje, Dona Ignácia Garcia, a quem Ana confiava o cuidado de seus cabelos.
Quis o destino que, passado quase meio século, Dona Ignácia, uma das primeiras pessoas com quem tive contato em Monte Alto, naquela inesquecível primavera que marcou minha vida, fosse personagem desta coluna, que faz questão de contar a história das pessoas que nesta terra fazem a sua história.
Ignácia de Campos Garcia, nasceu no dia 07/12/1932, em Guaraci/SP. Filha de Onofre Madaleno Campos e Francisca Nogueira, tem quatro irmãos: José e Geralda (in memorian), Vitória e Floripes. Casou-se em 23/07/1951 com José Maria Garcia e, fruto da união, são os dois filhos Moacir e Maria José (Zeza), seis netos netos, Pablo Henrique, Mariana, Maria Clara, Emília, Eline Daiana e Gustavo, além dos bisnetos Clarissa, João Neto, Enzo, Pedro Henrique e Yasmim.
OS ESTUDOS – “Estudei no grupo escolar Dr. Zuchin, na minha terra natal, e me lembro da professora dona Cozeti. Mudei pra Monte Alto com 17 anos de idade, em 1949, pois meu pai tinha um amigo que o convidou para mudar para essa querida cidade. Ele veio conhecer e gostou muito daqui. Sempre trabalhei muito, e então, arrumei um emprego como catadora de algodão, na fazenda do Celso Nogueira, eu e minha irmã íamos para roça todos os dias.
Conheci meu marido nos bailes da cidade, principalmente no baile dos Morgados, a casa ficava na rua Nhonhô. Nós passeávamos muito no jardim, no footing. Namoramos três anos e depois nos casamos, na Igreja do Senhor Bom Jesus. Eu vestida de noiva, com véu e grinalda. Meu marido era pedreiro, ele fez grandes construções na cidade e uma delas foi o prédio do Fórum, juntamente com o amigo de profissão, João Colatrelo. O José construiu também a casa do João Gil, entre tantas outras.
Eu era costureira, profissão na qual se ganhava muito bem antigamente. Tínhamos muito serviço. Eu trabalhei bastante, e depois, me cansei; além de que, tinha muito fiado, e eu achei melhor parar. Decidi então trabalhar de cabeleireira, porque pelo menos, chegava no final do dia eu tinha ganhado meu dinheirinho, que dava para comprar bastante coisinhas, inclusive, ajudar meu marido”.
FESTAS – “A Festa de Agosto não tinha igual, e acho que nunca mais terá. O povo mudou muito, não sei por quê. Naquele tempo, tínhamos horário para sair e para voltar para casa, quando eram dez e meia, onze horas, tínhamos que estar dentro casa. Eu me lembro muito bem do Sudano, que fazia os concursos de Miss da Festa; todo ano passava a faixa para a nova miss e todo ano eu preparava as moças. Para você ter uma ideia, Alencar, tinha vezes que quatro horas da manhã já tinha gente na minha porta para eu arrumar para a Festa de Agosto”.
BAILES – “Eu adorava dançar, sou uma pessoa muito feliz. Fui a muitos bailes, carnavais… aproveitei bastante, dancei muito. Eu ensinei meu marido a dançar e ele aprendeu a gostar. Nós dançávamos muito em todos os bailes que íamos. O que me traz muita saudade é o carnaval, época do conjunto Sambalanço, com os irmãos Dito e o João Moreira, o Bergo, o Teixeirinha, Odailton, os irmãos Lanfredi, entre outros…”
CAUSO ENGRAÇADO – “Em uma das noites de carnaval, meu marido, embalado pela música `Vamos pra caminha´ pegou na cintura de uma mulher, achando que estava dançando comigo e cantava: ‘vamos prá caminha, vamos prá caminha’… Foi muito engraçado… (risos)”.
JUVENTUDE – “A Maria Japonesa, a Maria Inforçatti, a Maria Helena da Sorveteria, a Rosalina, eram muito minhas amigas. Eu gostava muito de ir ao cinema, principalmente quando passava filme bom. O filme começava 20h30, mas 21h15 eu tinha que estar em casa, então, tinha que sair na metade, nunca podia assistir até o final. Um dos filmes que marcou minha juventude foi ‘Suplício de uma Saudade’”.
ENSINAMENTOS – “Tenho muita sorte e sou bastante feliz. Tenho uma neta, a Mariana Garcia, ela também é cabeleireira, seguiu minha profissão. Quando as clientes vão ao salão dela perguntam o que ela é da Dona Ignácia, e ela fala: sou neta, ela é minha avó… e as clientes reconhecem o nosso ´jeitinho de trabalhar’.
Minha outra neta, Emília é evangélica, casada com um pastor e ela também é pastora. Por isso eu digo que na religião a pessoa tem que se encontrar, e ela se encontrou. Meus netos todos são maravilhosos, eles estão em primeiro lugar para mim!”.
MENSAGEM – “Jovens, estudem, coloquem o estudo em primeiro lugar. Daí, trabalhem, deem valor ao serviço e respeitem a todos. Não pensem no mundo ingrato, no mundo das drogas. Tenham fé, Deus é um só”.