Resolvi calar-me.
Não é um calar omisso,
de quem tem algo a esconder,
a ocultar.
É o silêncio
que estrangula o poder
das palavras salientes,
vertiginosas, nebulosas…
É o silêncio
que fala mais
que o cheiro de chuva,
sentido à distância,
e que seus sentidos
dispersos, distraídos, não alcançam.
É o silêncio
trinado pelo beija-flor,
que somente os anjos podem ouvir.
É o silêncio
que não fala através
da boca,
mas é ouvido pelos sentidos,
e faz tanto sentido…
Resolvi calar-me
ouvindo apenas o silêncio
perfeitamente compreendido…
É o silêncio
que flutua, de tão leve…!
A brisa suave, que traz, em sua força,
ora a felicidade, ora a dor.
É o silêncio
tagarela do amor…
Resolvi calar-me.