De León, na Guatemala, eu segui viagem rumo a mais uma fronteira, foram 120km até chegar no país de número 12, Honduras, o lugar onde passei menos tempo, porém, com muita hospitalidade. Mas antes de contar o que vivi por lá, quero compartilhar de um aprendizado que esse país me trouxe, em relação à “Cultura do medo”, o que pra mim, tem sido a única coisa triste que encontrei em toda a minha viagem. O medo que nos impede de viver (e não de morrer), está realmente incrustado na sociedade, e é a base de nossa alienação. O medo transmitido diariamente através de jornais não mostra a realidade do nosso planeta, que é muito mais lindo e tranquilo do que dizem. É claro que existem perigos, mas de que adianta viver com medo deles? Vou estar livre se eu viver preso dentro de uma bolha cheia de arames farpados e cercas elétricas? Acho que não. Leve-me o que quiser, minha bicicleta, meu carro, mas deixe-me viver. E se quiser levar meu corpo, leve-o, mas saiba que continuarei vivo, eternamente, talvez aqui, talvez em outro lugar, mas estarei vivo. E essa eternidade da vida é que nos torna livres, nos mostra a infinidade da nossa existência, que a cada dia passa por novas experiências, sejam elas boas ou ruins, mas que sempre nos engrandece e nos faz evoluir. O que eu prefiro (e recomendo), é caminhar, deixando o caminho se adaptar aos meus passos, assistindo a vida como um filme, deixando ela nos mostrar as belezas e tristezas, que sempre terminam com um final feliz.
E por que estou falando tudo isso? Porque desde que entrei na América Central, venho escutando terríveis comentários a respeito de El Salvador, Nicarágua, Guatemala, e principalmente, de Honduras, que recebeu o título de “país mais perigoso da região” graças a uma cidade chamada San Pedro Sula, que foi considerada a “mais perigosa do mundo”, sei lá por quê. Talvez pelo número de mortes, assaltos, não sei, mas de que adianta saber? Pra que esse rótulo? Se não rotulássemos nada, nem a “melhor” nem a “pior” cidade do mundo, talvez o medo e o preconceito pudessem deixar de existir, dando lugar a um mundo mais igualitário, onde o “aqui é melhor que ali” não tenha mais sentido. E o que vi, nos dias em que estive em Honduras, foi um país cheio de sorrisos, pessoas tranquilas e hospitaleiras, que apesar do medo desnecessário, vivem em paz, seja no campo ou na cidade grande.
Mas voltando a história, dias antes de entrar no tão temido país, eu entrei em contato com um amigo chamado Juan Pablo, que estava me esperando desde o começo do ano passado, e o por que eu explico agora:
Quando estive em Buenos Aires, sentado na grama de um dos lindos parques da cidade, vi um bebê com um olho gigantesco, sentado a poucos metros de mim. Peguei a máquina fotográfica, dei um zoom naquela íris imensa e apertei o botão. Com a beleza do modelo, não teria como a foto sair feia, então eu levantei e fui até ele pra mostrar o resultado. Como consequência eu acabei conhecendo seus pais Juan e Paulette, que me contaram que eram de Honduras, e eu contei que eu iria passar por lá, mas que iria demorar um pouco pra chegar. Tudo bem, a internet está ai pra isso: “Quando chegar por lá, nos avise, você fica com a gente”. Pronto, o convite mais adiantado de toda a viagem acaba de surgir. Demorou, mas eu cheguei, e a recepção foi sensacional.
E não só me receberam como também me colocaram dentro de outra casa, a de Frances, irmã de Paulette, que vive com sua família em Choluteca, a primeira cidade em que parei depois que cruzei a fronteira. Família de ciclistas, que sempre recebem viajantes, ou seja, conhecem bem a arte do “receber”. Dormi uma noite com eles e na manhã seguinte, deixei minhas coisas por lá e peguei um ônibus rumo a capital, para encontrar com meus novos antigos amigos.
Me receberam na rodoviária e logo depois, fomos pra casa, pra que eu pudesse reencontrar Adrian, o bebê dos olhos gigantes, causador de todo esse encontro, e que agora, 1 ano e 3 meses depois, já não é mais um bebê, mas sim uma criança com o dobro do tamanho, que não para de falar um segundo sequer. Foi muito bom revê-los e conhecê-los de verdade. Passamos três dias juntos e logo me despedi, colocando mais gente na minha lista de hospitalidade, que como de costume, vem sendo preenchida por pessoas de coração enorme.
É por hoje é isso meu povo. Amo todos vocês! Um abraço, Beto.