Esta matéria chega com certo atraso, e faço aqui o mea culpa: envolvidíssima com alguns projetos, perdi o tempo de entrega do artigo logo após o aniversário da cidade, quando ele faria mais sentido. Mas, sempre é tempo de se dizer as coisas que importam serem ditas.
Viajei a Monte Alto para o 15 de Maio. Fazia muitos anos que não passava um aniversário da cidade aí. Põe anos nisso! Mas, dessa vez, decidi ir, mesmo o feriado local caindo no meio da semana.
Cheguei no dia 14 à noite, me deliciei com jantinha deliciosa da Taína Collatrelli (prometi a ela que não diria que temos mais de 50 anos de amizade para não entregar o ouro, mas, não resisto, porque é bom demais ser amiga de alguém há tanto tempo assim).
Bem, comi a jantinha deliciosa e fui dormir na expectativa do dia seguinte. Levantei cedinho e fui para a Missa. E foi ali que começou a minha surpresa. Como era a Missa oficial de aniversário da cidade, era óbvio que as principais autoridades do município estivessem presentes.
Teve o maravilhoso hino composto pelo saudoso Dr. Adaucto Freire de Andrade, entrada das bandeiras do país, estado e município e, para não fugir ao protocolo, ao final da celebração, um discurso da prefeita, Maria Helena.
Muito elegante, em um macacão de renda sob um discreto blazer, ela tomou a palavra e a única coisa que pensei foi: “Será que ela vai falar muito ou pouco? Afinal, aqui não é um palanque, mas a casa de Deus.” Confesso que considerei também que o efeito da saciedade da janta do dia anterior já tinha passado e que eu estava varada de fome, doida para tomar um bom café.
Preciso deixar claro que, diferente de quem vive em Monte Alto, eu não conhecia a Maria Helena. A vi apenas uma vez, de longe, quando ainda não era prefeita e revi agora, nesse 15 de Maio.
Como ocorre todo político em exercício, na cidade deve haver as pessoas que a apoiam e as que a ela se opõem. A minha posição, porém, é absolutamente neutra.
Dos políticos, no tocante à religião, podemos esperar duas posturas: há aqueles que se fundem ao Estado e se declaram laicos, para não se comprometerem. E há aqueles que se declaram “evangespiritólicos”, ou seja, são evangélicos com os evangélicos, católicos com os católicos, espíritas com os espíritas e batem tambor com as religiões de matriz africana, a fim de agradar a todos (menos a Deus, obviamente) e garantirem seus votos.
De um modo geral, mesmo que não cheguem a esse hipócrita exagero ecumênico, políticos e pessoas comuns têm protagonizado um fenômeno estranho: a vergonha católica. Muitos são católicos, a religião mais antiga e mais tradicional, que está, inclusive, na base da fundação de praticamente todas as cidades de nosso país, e do próprio país, não é à toa que o primeiro nome do Brasil foi Terra de Santa Cruz. No entanto, para não ferirem os evangélicos, preferem esconder que são católicos e se dizem apenas cristãos.
Se estão com os espíritas, viram adeptos da reencarnação, não por acreditarem nela, mas para ficar bem com os irmãos que acreditam. E tem até uma corja de ateus que, em época de eleição, até comunhão vai tomar, sem nunca ter participado de uma Missa na vida, só para parecer simpático aos eleitores católicos.
Eu presumi que o discurso da prefeita seria político e, como já disse, torci para que fosse breve. Não foi excessivamente longo, mas, também não foi um relâmpago. Teve a duração exata para dar o seu recado muito bem dado. Admirada, eu percebi que tinha diante de mim uma mulher católica que não se envergonha de ser católica. Tanto é que retomou as origens de nossa cidade, desde o sonho de Porfírio, dentro desse viés de fé. Com palavras firmes e sábia, falou da importância da religião para a vida harmoniosa de uma cidade e fez o magnífico gesto de consagrar Monte Alto ao Bom Jesus. Não que ela já não fosse consagrada, mas, certamente, não era dessa forma.
Depois da Missa, fiz questão de cumprimentá-la, porque ela também não me conhecia, a não ser pelas palavras aqui nesta coluna. E fui, finalmente, tomar o meu café numa padaria super aconchegante. E voltei para frente da prefeitura para o momento solene das homenagens cívicas.
Não é que a mulher porreta, retomou o seu discurso da igreja e, corajosamente, diante de um público que certamente abrigava pessoas de diferentes credos e até sem credo algum? Ela falou em Deus novamente, falou na importância da fé na vida de um povo e emocionou as pessoas ao linkar a nossa cidade com a tragédia que se abatia sobre o Rio Grande do Sul. E convidou todos a se darem as mãos e rezarem o Pai-Nosso! Foi um dos momentos mais bonitos que já vivi em Monte Alto! Nunca na minha vida imaginei que veria tanta gente chorando num discurso político!
Fiquei tão tocada que, pela primeira vez, depois de mais de 30 anos fora, pensei em voltar para Monte Alto e envelhecer calmamente na “cidade do sonho que Porfírio Luís nos legou, cujo povo, bom forte e risonho o progresso em seu solo implantou.”
Obrigada, Maria Helena, por não ter vergonha de mostrar que o Estado é laico, mas a prefeita não! E deixar claro que político não é “tudo farinha do mesmo saco”, como a gente costuma classificar pejorativamente. Tem muita gente de valor, que ocupa um cargo de governo por amor. E você é uma dessas pessoas. Se você vai se reeleger ou não, é algo que sequer faz diferença, porque, o que importa mesmo é que, na galeria dos prefeitos de Monte Alto, seu nome ficará estampado e a história de nossa cidade fica melhor por causa disso. Que Deus a abençoe e a todos os que creem e não se envergonham disso.
Parabéns, Monte Alto, com atraso, mas, de coração!