Condições complicadas de viagem, descomplicam, cada dia mais, as obras da minha melhoria interna. Hoje, o que eu busco, não é simplesmente desfrutar de momentos maravilhosos e confortáveis, mas sim, tirar aprendizado e alegria das coisas que não são boas. Se tudo fosse sempre fácil, eu simplesmente seria feliz, mas como existem as complicações, eu aproveito pra ganhar força, aprender e agradecer cada vez mais por cada momento dessa vida.
Os últimos 200 quilômetros de Chile, junto com os primeiros 300 de Bolívia, me trouxeram enormes aprendizados, graças as maravilhosas dificuldades que vivi. A companhia da Fer, nessas últimas 3 semanas, também foi de enorme importância pra que eu conseguisse subir mais um degrau na infinita escada da evolução. Nesse diário eu abro meu coração, sem fazer drama, pra poder explicar exatamente tudo o que sinto, o que já senti, e o que, exatamente eu aprendi. Continuo toda a história voltando à Calama, a 200 km da fronteira do Chile com a Bolívia, onde postei o último diário. Sai da lan house, me despedi da Fer, que ficou pedindo carona com uma plaquinha na mão, pedalei 10 minutos e pela primeira vez a minha corrente estourou. Por sorte eu ainda estava na cidade e pude passar numa bicicletaria. Segui viagem sentido Chiu-Chiu, que fica a 35km de lá, um povoado que encanta com o seu silêncio e seus traços que já mostram sua proximidade com a Bolívia. Cheguei, encontrei a Fer na pracinha, convidei-a a entrar comigo no incrível mundo dos encontros e, dali pra frente, presentes incríveis passaram a aparecer nessa divina viagem.
Pra começar, conto a história da Delícia, do Benjamin e do Felipe, que nos deram pão, água, cama: Assim que cheguei na vila de Chiu-Chiu, dei de cara com uma senhorinha linda, que estava tricotando em silêncio no banco da praça. Me segurei pra não mordê-la, sentei ao lado dela e puxei papo. A Fer, que entendeu a situação, sentou do outro lado e me ajudou a conquistar o coração da velhinha, que tem o sugestivo nome de Delícia. A conquista inicial seria simplesmente pra tirar sorrisos daquela boca, mas no final das contas, conquistamos muito mais do que isso.
Pedi pra fotografá-la, ela aceitou, mas disse que a condição seria presenteá-la com as fotos impressas, então, como prometido, fui até a escola da vila, expliquei a situação e consegui usar a impressora por 5 minutos, já que na vila não existem lojas que revelam fotos. Nesse tempo, a Fer ficou ali com ela, e quando eu voltei recebi uma ótima notícia: “A Delícia nos convidou a dormir na casa dela”. Maravilha, lá vamos nós, compartilhar da mais pura simplicidade, vivenciando o dia a dia de pessoas tão simples e cheias de bondade.
Chegamos “em casa”, conhecemos o seu esposo Felipe e seu neto Benjamin. A casinha de madeira tem dois cômodos, um quarto e uma cozinha, onde tomamos um chá de coca e comemos pão caseiro, preparados com carinho pelas deliciosas mãos. Sem fazer muito esforço, conseguimos tirar gostosas risadas dos velhinhos, que se encantam com palavras tão simples quanto a sua existência. Ficamos ali a tarde toda, simplesmente contemplando a beleza daquele viver tão simples e pedindo aos céus pra que aquela pureza nos contagie cada dia mais. Durante a noite, saímos atrás de algum banheiro, já que na casa isso não existe. No dia seguinte, tomamos o café da manhã, nos despedimos e seguimos viagem sentido San Pedro Estación.
Gente, essas foram minhas primeiras horas em território boliviano!
Aguardem semana que vêm, outras e outras estórias..
Um beijo gigantesco a todos, estejam sempre com o querido Paizão!!!