Ressurreição!
Dizem os publicitários que uma imagem diz mais que mil palavras, por isso, hoje resolvi usar como epígrafe essa impactante imagem, em vez de trechos de textos, como habitualmente faço. Este é o meu carro. Bem pelo menos era, porque agora ele deixou de ser, deu perda total após o capotamento, no último dia 20. Calma, respirem fundo, vou lhes contar como tudo aconteceu.
O dia 20 de novembro é feriado em São Paulo, Dia da Consciência Negra. Um feriado de quinta-feira é algo meio deslocado, quebra a semana, aumenta a demanda de trabalho no dia seguinte e nem dá para ser aproveitado de fato, mas, para mim, esse último dia 20 de novembro será um dia inesquecível, o dia do meu renascimento.
Como vocês que acompanham a minha coluna sabem, moro na zona rural de Atibaia. No feriado, saí com minha sobrinha Júlia para resolver algumas coisas na cidade e, quando voltamos, por volta de quatro da tarde, ao fazer uma curva numa ladeira muito íngreme, o carro morreu, a direção travou e a chave quebrou na ignição quando eu tentei religar. Tudo muito rápido. direção travada, carro indo para o barranco, capotamento. Saímos pelas janelas e nem acreditamos ao ver o veículo com as rodas pra cima, na beirinha de uma ribanceira e nós duas com apenas pequenos arranhões.
A gente nunca sabe como vai reagir em casos assim, por isso é sempre idiota, diante de catástrofes, fazer comentários do tipo: “Ah, mas se você tivesse feito isso…” ou “Eu no seu lugar…”, “Se fosse comigo…”. Besteiras. A gente só sabe quando acontece. É tudo muito rápido, frações de segundo. A reação é instintiva, não dá tempo de pensar, de raciocinar, de usar o imenso aprendizado de toda uma vida. Sistema límbico acionado. Instinto. Apenas isso.
Creio que vocês vão rir ao saberem qual foi a primeira reação que tive ao sair do carro e constatar que estava bem e a minha sobrinha também. Um pouco de sangue no meu braço e na perna dela, mas, nada alarmante. Apesar do perigo de uma explosão, pois tinha acabado de encher o tanque, me aproximei do carro e olhei bem pra dentro dele, para ver se eu não estava lá dentro. É, isso mesmo! Creio que minha memória resgatou imagens de alguns filmes nos quais as pessoas saem ilesas de acidentes, mas, quando se dão conta, só seus espíritos estão ilesos, porque os corpos estão mortos dentro dos veículos. Olhei bem, dei uma voltinha em volta do carro e respirei aliviada, eu não estava lá dentro! Estávamos vivas e bem, graças a Deus! Um verdadeiro milagre!
Por isso, hoje, quero usar este espaço para manifestar a minha gratidão a DEUS pelo dom da vida que recebi no dia 06 de janeiro de 1965, quando nasci, e novamente no dia 20 de novembro de 2014, quando renasci. A vida é muito importante, porém, muito frágil. Hoje, a nossa família e os nossos amigos poderiam estar lamentando nossa morte ou poderíamos estar numa UTI. Eu tenho uma prótese no ombro, se tivesse batido esse ombro, por exemplo, o dano seria grande, ou batido a cabeça, o que é muito comum em casos de capotamento. Mas, foi como se tivéssemos sido amparadas por anjos, foi tudo muito suave.
Foi-se o carro, mas estamos aqui e é com muita alegria que estou fazendo as mínimas coisas desde então, a começar do café da manhã até o adormecer, com uma prece de gratidão nos lábios. Esta é a minha segunda chance! Eu e minha amiga Vilma De Ponti fazemos aniversário com apenas alguns dias de diferença e temos conversado sobre o impacto de fazer 50 anos. Agora, Dona Vilma, quem vai fazer 50 anos é só a senhora, pois, no dia 6 de janeiro, estarei com apenas um pouco mais de um mês de vida! Comecei de novo e, criança que era, como Benjamim Button, agora sou apenas um bebê! Obrigada, Senhor, por essa ressurreição, que eu saiba fazê-la valer a pena, para a glória do seu nome!
Izilda Alves de Oliveira, nascida em Monte Alto, é formada em Letras pela USP, mora em Atibaia e trabalha no setor de habitação da Caixa Econômica Federal, em São Paulo. É escritora e assina seus livros como Isa Oliveira. E-mail: izilda.oliveira@usp.br