Excursão
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 1969, oito da manhã, Praça XV. Com o AI-5 em pleno vigor, as ruas que davam acesso à Estação das Barcas estavam impedidas. No local, apenas os pedestres circulavam livremente. Em algumas calçadas havia catracas, o que retardava o embarque nas balsas. Um grupinho retardatário, composto pelo Betinho, eu, Nivaldo, Carlão, Dárcio e o Ivo, resolveu “facilitar” pulando a cancela. Surgindo do nada apareceram à nossa frente, três militares da marinha, um tenente e dois recrutas. Pediram documentos e mostramos o RG com a carteirinha do grêmio da Escola de Comércio. Olharam e um deles disse que aquele local era uma zona militarizada, que poderíamos até ser processados. Foi ai que veio o saco de bondades, por sermos estudantes/turistas seriamos dispensados. Agradecemos e enquanto os documentos eram devolvidos, o tenente perguntou se todos éramos de Monte Alto. “Não senhor, respondeu o Ivo, eu sou de Taiaçu”. Contorcidos, conseguimos conter o riso!
Registro
Em 1967 o saudoso Ivo Evilásio Tadeu Barsanelli, era o único nome que ultrapassava uma linha do livro de chamadas da Escola do Comércio, quebrando o estilo mimiográfico. Um professor observou que o nome poderia ser abreviado e perguntou para o Ivo que nome seria o indicado para a abreviação. O nosso Giuliano Gemma respondeu: “abrevia o Ivo”. A classe quase veio abaixo!
Bang-Bang
Certa época, um tal de Sérgio Leone, produtor de cinema italiano, começou a fazer filme de western norte-americano, que a mídia chamava de western spaguetti. O ator preferido do diretor era um sujeito, cujo nome artístico era Giuliano Gemma. O filme de maior sucesso foi o Dólar Furado. (Na época a gente dizia que era pleonasmo, porque todos os dólares eram e são furados, ou seja, tem um valor abstrato). O Ivo tinha enorme semelhança com o referido ator. (Quando a gente o chamava de Giuliano Gemma, ele dizia esparrama… esparrama!).
Cacique
O coronelismo correu solto na região, aqui e acolá. No triângulo formado pela Aparecida de Monte Alto, Fernando Prestes e Cândido Rodrigues, a região era chamada de Prata. Como não havia esse metal e ninguém tinha o sobrenome familiar parecido, a imigração popular atribui o nome ao Coronel Justino, que dominou a região por um longo tempo, porque ele usava armas com coronhas de prata. O dito coronel, certa vez, contratou capangas para executar uma família rival. Ele e o bando invadiram a casa do desafeto e matou todos; porém, um membro da família estava em outro cômodo da casa, no qual havia uma carabina, o cara apanhou a arma e se escondeu atrás de uma mangueira. Quando o Coronel saiu sozinho, já que os jagunços ficaram na casa para a “faxina”, foi surpreendido pelos tiros da arma, que ainda permitiu-lhe alguns passos onde acabou sucumbindo. O túmulo do Coronel Justino está no Cemitério da Aparecida de Monte Alto. Vez ou outra, aparece alguém no local para queimar uma vela. Há uma lenda que afirma que o Coronel foi enterrado com a arma. Garantia, né?
Chefe
Outro coronel famoso foi o Caluz. Ele imperava no povoado de Ibitirama, quando o local tinha grande movimento comercial, devido à estrada de ferro. O Coronel Caluz tinha uma farmácia, segundo dizem, maior que todas as de Monte Alto na época. O negócio do Coronel Caluz não era o clássico método de vingança e mortes violentas. Ele era boticário e sua farmácia era procurada por gente de longe, porque se dizia que o coronel curava qualquer mal. Nem tanto pelas poções, pomadas, elixires e xaropes, mas porque ele tinha um pacto com o diabo, que lhe atribuiu poderes de cura. No fundo da farmácia tinha um laboratório onde ninguém entrava, por que não tinha porta (se entrasse não saia). O local era onde o demo repousava. Gente da época jura que o Coronel Caluz foi visto dançando com o Diabo. Em Ibitirama não há vestígio do coronel ou do amigo do além! Vamos creditar o conteúdo à lenda!
Band-aid
Mesmo que empregado no sentido figurado, a dor de cotovelo é originária da realidade física. Quando alguém está triste e chorando por amor não correspondido, a posição para o lamento é a dos cotovelos sobre a mesa e das mãos no rosto. O peso da cabeça sobre as mãos provoca a dor nos cotovelos que apoiam a pressão toda.
Prato
Numa quarta-feira de cinzas qualquer, de um ano do século passado, o Chico Pirombeta entra no bar do Dito Sete Facadas e pede um sanduíche de mortadela. O Djalma, filho do Dito, responde que não pode vender fiado. O Chico observa: “se você não vender, não sairei daqui; para me tirar do recinto, terá que chamar a polícia, eles virão em dois, serei colocado na rua, eles pedirão um lanche para cada um pelo trabalho, dois custam mais e você ficará no prejuízo”. O Chico ganhou o lanche e de quebra uma maçã do Hermes!