Há quem diga que, se Deus fosse ditar os Mandamentos hoje, não seriam dez, mas, centenas, talvez milhares, tão grande a variedade de pecados que são cometidos.
Embora eu não seja uma teóloga, discordo desse pensamento. Por mais que pareça que temos um leque interminável de pecados, se prestarmos atenção, todos eles giram em torno dos Dez Mandamentos.
E, se quisermos ser mais adequados à Era Cristã, na qual estamos inseridos, devemos nos lembrar da síntese feita por Jesus Cristo, que resumiu os Dez Mandamentos em dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” (cf. Mt 22, 37-39)
Nessas duas frases tão simples está contido o segredo da felicidade, da paz, da boa convivência, do respeito e da harmonia entre as pessoas. Algo que foi reconhecido até por Mahatma Ghandi, o maior líder hindu que já existiu.
Se olharmos para a aparente decadência dos dias atuais, não encontraremos um só pecado que não estivesse presente já nos primórdios da vida humana, registrado no Antigo Testamento. Alguns com aparência de maior crueldade, outros mais sutis, mas, o que fazemos hoje, já era feito naquela época.
E todos os pecados têm as mesmas raízes: avareza, inveja, gula, luxúria, ira, preguiça e soberba. Raízes de um mesmo tronco, cuja seiva é composta pelo velho egoísmo e seu companheiro orgulho.
Os seres humanos sempre mataram, roubaram, traíram, enganaram, baseados nessas mesmas premissas. Um exemplo bem claro: naqueles tempos remotos, algumas famílias “passavam seus filhos pelo fogo”, ou seja, sacrificavam crianças em tributo a seus deuses. Hoje, nós abortamos nossos bebês, e procuramos criar leis para justificar tal morticínio, assim como alguns reis protegiam os sacrifícios humanos.
Se reclamamos de aberrações sexuais nos nossos dias, os moradores de Sodoma chegaram a ameaçar Ló, na tentativa de terem relações sexuais com os Anjos que ele abrigava em sua casa.
E não precisamos ficar só no âmbito das Escrituras Sagradas. Podemos fazer um percurso pela Grécia Antiga, Roma, Egito; chegar até os incas, os maias e os astecas. Enfim, quaisquer civilizações que evocarmos, terão incorrido em erros parecidos, ora mais, ora menos acentuados.
E não somos diferentes deles. Parece pior hoje porque as pessoas já não se importam, já não sentem vergonha. Ostentar os pecados tornou-se até uma espécie de “movimento libertador”. Mas, será que liberta mesmo?
O ser humano sequer precisa de uma religião para saber onde erra e onde acerta. Pouquíssimas pessoas pecam por ignorância, com a inocência de não saber o que estão fazendo. Nós sabemos. E fazemos mesmo assim. Muitos, o fazem abertamente. A grande maioria ainda esconde seus delitos, não raro, iguais ou piores do que aqueles que eles mais criticam.
Acontece que não existe pecadinho e pecadão; pecado é pecado. Tanto é que, o mesmo Jesus que reduziu os Mandamentos a apenas dois, foi taxativo em dizer que sequer precisamos cometer a má ação, pois pecar por pensamento é suficientemente grave para nos condenar ao fogo eterno.
Até alguns anos atrás, talvez mais por uma questão de tradição do que de religião, as crianças eram batizadas, crismadas e faziam a Catequese e Primeira Comunhão, que é precedida pela primeira confissão.
Um hábito que, infelizmente, pela proliferação de outras vertentes religiosas, pelo ateísmo ou pela simples preguiça dos pais de seguir um credo, muitas crianças estão sendo privadas desses ritos sacrais. E, se não se aprende de criança, raramente se fará depois de adulto.
Os católicos possuem o grande privilégio do Sacramento da Penitência, também chamado Sacramento da Reconciliação, que é a confissão e absolvição dos pecados por um sacerdote.
Há quem critique essa pratica afirmando não confessar seus pecados a outros homens. Refuto essa crítica, primeiro porque foi o próprio Jesus que deu aos homens o poder de perdoar os pecados em seu nome: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 23) e, sobretudo, porque ela costuma vir de pessoas de outras práticas religiosas ou de arreligiosos, que nunca experimentaram o imenso benefício de uma confissão.
Não há paz que se compare àquela que invade a alma num sacrário depois de uma confissão bem feita e o recebimento da absolvição. Quem nunca experimentou, deveria tentar, apesar de, hoje em dia, haver pouco padre para muito pecador.
A confissão deveria ser um hábito frequente, mas, até mesmo pela diminuição do número de sacerdotes, a Igreja prescreve ao menos uma confissão por ano, de preferência, na época da Quaresma.
Se você tem esse benefício perto de você, não o perca. Estamos entrando na Semana Santa. Faça um bom exame de consciência e procure um padre para se confessar. Não caia na ilusão de que o mundo evoluiu e o que era pecado lá atrás deixou de sê-lo. Não deixou e, vamos ser bem honestos, a nossa cruel criatividade tem expandido e muito o poder de atuação do pecado.
A próxima semana não existe apenas para comermos bacalhau na sexta-feira e os supermercados venderem muitos ovos de Páscoa no domingo. Ela representa a Paixão, a morte e a Ressurreição de Jesus Cristo, que para quem não sabe bem quem é, não é um espírito evoluído, não é um cara bonzinho, o governador da Terra ou um mestre ascensionado. Ele é apenas o começo e o fim de tudo. O Criador de todas as coisas e o Senhor do Universo que ainda estamos tão longe de conhecer. Ele é a nossa origem e o nosso fim.
Sabe onde encontrá-lo? Arrependa-se de seus pecados, ajoelhe-se diante de um padre e conte a ele o que pesa em sua consciência e sufoca o seu coração. Faça isso e você verá o milagre acontecer.