Fevereiro, quando nasceu a saudade

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As dores da alma são tão antigas quanto o ser humano, e podemos ver diversos relatos dela até mesmo na Bíblia, os filósofos a abordaram, os teólogos também, e mais modernamente, os psiquiatras e psicólogos.

A depressão tem aumentado assustadoramente, tendo se tornado uma palavra genérica para uma grande gama de transtornos emocionais e mentais, e uma das consequências desses distúrbios é o suicídio.

Estou trabalhando em um projeto, junto com o meu marido, Henrique Campos, que aborda esse tema. Trata-se de um documentário chamado “Fevereiro, quando nasceu a saudade”, em referência ao filho dele, que cometeu suicídio aos 19 anos, em fevereiro de 2015.

Tem sido um trabalho desafiador, pois além de lidar com as nossas emoções, também precisamos lidar com os entornos, com as emoções de outras pessoas. Já entrevistamos profissionais da saúde, religiosos, amigos de quem partiu e quem já tentou partir e hoje está bem.

Em cada conversa a gente aprende um pouquinho, mas também vê aflorar uma emoção, seja ela uma velha emoção já conhecida, ou uma emoção ignorada. Cada passo é um pedaço de uma nova estrada que percorremos com muita esperança de fazer um trabalho que possa servir de alerta, e também de consolo para quem passa pelo luto.

Meu marido enfrenta a dor da saudade, acentuada ao revisitar quadros há tempos dependurados nas paredes da memória, num quarto menos visitado, e enfrenta também opiniões contrárias à sua ousadia de fazer esse trabalho tão difícil.

Eu, de minha parte, estou tendo um reencontro comigo mesma, reencontro que só é possível porque um dia fracassei na minha tentativa de partir. Eu morava em Monte alto e tinha 14 anos. Depois de atentar contra a minha própria vida, fiquei 76 horas em coma e os médicos orientaram meus familiares a começarem a tratar das questões práticas de túmulo, velório, porque as minhas chances de sobrevivência eram menos de 5% e, se sobrevivesse, poderia ter sequelas severas.

Mas, não quis a vida despedir-se de mim, e sobrevivi. E hoje, 45 anos depois, continuamos juntas, aliadas, companheiras e as sequelas não se atreveram a se colocar entre nós. Olhando para trás, algumas vezes eu me pergunto como seriam as coisas se eu não estivesse aqui. Consigo imaginar o mundo sem mim, mas não consigo imaginá-lo sem o meu filho, um sacerdote que abençoa tantas pessoas e ilumina tantas vidas e que, obviamente, não teria nascido se eu tivesse tido sucesso na minha nefasta tentativa de morrer.

A depressão é uma dor que não se explica, que não se enxerga, que não sangra e, na qual, muitas vezes, não se acredita e, no entanto, os suicídios dela consequentes têm aumentado consideravelmente, atingindo uma faixa etária cada vez menor e ela já é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Parece uma doença solitária, mas, é um mal social, que afeta a coletividade como um todo. Mas, infelizmente, esse tema ainda é um tabu e muitas pessoas evitam falar sobre ele, no entanto, é uma questão muito séria e precisa-se conversar sobre isso.

Segundo a OMS, “a depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma importante para a carga global de doenças”.

A ideia inicial do meu marido era escrever um livro sobre o assunto, um trabalho que vem sendo construído há nove anos. Agora, com a aprovação da Lei Paulo Gustavo, pudemos dar corpo ao projeto de um documentário, no qual várias pessoas especializadas no tema, ou com alguma vivência nessa realidade, partilharão com outros as suas ideias e experiências.

Nosso objetivo é oferecer uma oportunidade de reflexão sobre a depressão e o suicídio; transmitir informações médicas e científicas sobre o chamado “mal do século”; dar voz a familiares e amigos para contarem o seu lado da experiência; incentivar pessoas que enfrentam uma situação de risco, sobretudo jovens e adolescentes a procurarem ajuda e oferecer subsídios a pais e familiares, amigos e professores para tentar identificar o risco iminente de suicídio em pessoas de seu convívio.

É uma empreitada árdua, mas, é um trabalho que estamos fazendo com muito amor, dedicação e esperança de que ele possa ter um resultado positivo, no sentido de servir de alerta para quem sofre com a depressão e a ideação suicida e também para as pessoas que vivem o luto da perda de seus entes queridos.

O documentário deverá estar pronto no mês de abril, com estreia prevista para maio e estará disponível no Youtube.

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