Semana 1
Pronto, agora não tem mais jeito. Já estou na estrada, já estou solto no mundo, minha casa se resume aos meus pensamentos e à minha magrela. A primeira coisa que quero dizer, é que não consigo parar de pensar na alegria que sinto quando me lembro das mensagens sinceras que recebi antes da saída, das conversas, dos abraços, olhares, e principalmente do momento da despedida. Isso tudo me dá uma força inexplicável. Sei que a viagem praticamente nem começou, afinal, o que são 7 dias pra quem ainda tem mais 2,5 anos? Mas já sinto dentro de mim uma força muito grande que me move e me faz acordar feliz, algo que me diz que eu estou no caminho certo e que realmente é isso que quero pra minha vida, pelo menos nessa fase dela! E o melhor, é que eu tenho certeza de que essa sensação está sendo gerada simplesmente pela imensa onda de energias positivas que estão me enviando. Isso é mais forte do que qualquer sentimento ruim, qualquer arrependimento ou vontade de desistir, portanto, eu agradeço de coração a todos os que estão seguindo minha viagem e mandando bons pensamentos, pois eles, com certeza, chegam até mim!
Aqui, eu começo a escrever mais detalhadamente tudo o que tem acontecido durante a minha caminhada, quero expor meus sentimentos também, sejam eles bons ou ruins. Os momentos de alegria são bons pra gente relaxar, os de tristeza, ótimos pra nossa evolução. Creio que a viagem não será só um mar de rosas, já estou preparado para passar por momentos difíceis, de muita saudade e solidão, mas como eu disse, isso é algo que busco para meu crescimento. Portanto, se eu falar aqui sobre momentos difíceis, não se preocupem, esta tudo bem.
Por enquanto isso ainda não se faz necessário, afinal, os primeiro 7 dias estão sendo de muita alegria. Desde que saí de Araraquara no dia 2 de dezembro de 2012, o sentimento é de liberdade pura. Nunca havia sentido algo parecido, é tudo muito maluco. Aqueles momentos que precederam a saída, cercado de gente maravilhosa, muitas delas chorando, fazendo silêncio um minuto antes de eu montar na bike e depois gritando e pulando quando eu dei a primeira pedalada, são momentos que jamais vou esquecer. Não dá pra explicar o que senti ali, foi realmente algo surreal.
A partir dali eu pude sentir o que sempre sonhei, e foi com esse sentimento louco que fui até Boa Esperança do Sul, foram 31km na companhia também de Bruno Capone e Ana Luísa Vasconcellos, que pedalaram comigo na maior amizade. Em Boa Esperança tomamos um sorvete e eles se despediram finalmente. Fui direto pra casa do Leonardo Gimenez, meu amigo de velha data que eu não via há muito tempo! Na casa dele eu pude conhecer a sua filha Alice, de 4 anos (as coisas mudam) que é a coisa mais linda. Revi também os seus pais Gerson e Lígia e conheci a sua avó, Nair, que está recuperando a visão e se mostra muito feliz por isso. Nadamos, brindamos uma cerveja, jantamos e dormimos.
No dia seguinte, acordei cedo e parti pro primeiro dia de pedal solo. Fui até Bauru. Foram 100km de emoção, choro, gritos e uma saudade antecipada de tudo o que eu deixei pra traz. Me lembro que no começo da viagem a emoção era tanta que gritei. Gritei muito alto, por alguns segundos, acho que eu estava imitando um lobo. Achei que estava sozinho por ali, mas percebi que não estava quando eu ouvi gritos de resposta. Eram os cortadores de cana que ouviram meus “latidos” ridículos e responderam a altura, como cachorros do mesmo quarteirão. Fiquei até com vergonha…Dali pra frente um sol muito forte e 2 pneus furados. Sem pressa parei pra remendar e segui, chegando as 16h30 em Bauru. Foram 8 horas de viagem.
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Em Bauru fiquei 2 noites, precisava me preparar para os próximos dias que seriam mais pesados (quero chegar logo em Maringá, onde fiz faculdade, antes que todo mundo saia de férias). Cheguei e fui direto pra República Elza , casa de um pessoal muito gente boa que eu já conhecia, que me recebeu sem cerimônia, do jeito que eu gosto (Sarah, Coca, Fer, Naty, Fox e Márcio, muitíssimo obrigado). Nesses dois dias eu pude encontrar a Mari Cervi, uma grande e linda amiga, que além de me dar almoço e me apresentar pra uma galera muito massa, me levou pra lá e pra cá pra que eu encontrasse todos que eu queria visitar: O Rica, a Ingrid, a Rafinha, a família do Mãozinha (Hélio, Claudia e Pedro, que prepararam uma janta divina e eu nem sei como agradecer. Além de conhecer Roberta e Macalé, esse figura que me deu um kit que eu estava precisando pra remendar a câmara de ar), me levou também pro Rotary, onde participei de uma festiva.
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Dia 4, acordo cedo, arrumo tudo, me despeço das meninas e sigo sentido Ourinhos. Ainda em Bauru parei num posto pra encher as garrafinhas d’água e mais encontros inexplicáveis. Cheguei e dei de cara com meu amigo Luiz Carlos Jamanta, que estava lá tomando café da manhã. Fizemos festa, tiramos foto e tudo mais. Se fosse só isso eu ficaria impressionado com o encontro, mas quando eu estava me despedindo, chega no posto o Gustavo Azarito (Chicão), que estudou comigo a vida inteira! Aí foi demais… não é possível, dois encontros no mesmo posto, na mesma hora!
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Depois que comecei a viajar de bicicleta, percebi o quanto as coisas se atraem. Quando se está assim, vivendo no mundo, na estrada, ficamos mais suscetíveis a tudo, estamos expostos o tempo todo, e tudo pode acontecer. E realmente tudo acontece. Pessoas incríveis que aparecem, palavras lindas que se ouve, e infelizmente, a triste realidade que aparece nua aos nossos olhos. Vemos com calma a pobreza de quem mora nas favelas, nas periferias que margeiam as estradas (de carro só passamos o olho, de bike, sentimos o cheiro). Por isso eu gosto tanto de ir assim, com calma, pra poder sentir o cheiro das coisas, olhar e pensar, não apenas olhar e relevar. Passei 4 anos indo de carro e ônibus pra Maringá, agora, estou fazendo o mesmo caminho, mas finalmente, de bike, como eu sempre quis. Em 4 dias, estou vendo tudo o que não reparei nos 4 anos. Os detalhes das casas, o cheiro do mato e das plantações, a ponte que balança quando passa caminhão, tudo o que não reparamos a 120 km/h…
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A viagem Bauru/Ourinhos foi longa. Passei o dia inteiro na estrada, das 8 as 18h. Foram 130km de muito sol, mas a cabeça ficou boa então o corpo aguentou tranquilo. Cada dia mais eu aprendo a não ter pressa (ainda tenho muito o que aprender), pois ela só nos faz agir por impulso e não com a razão. A pressa pra chegar só nos faz correr. Correndo, podemos bater, cansar, fadigar os músculos, estressar a cabeça. Então, vamos seguir com calma, ou pelo menos tentar, sempre. É muito difícil levar essa ideia para as pessoas, pois hoje em dia tudo nos pede muita pressa, infelizmente, mas como Lenine diz: “Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa”.
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Cheguei em Ourinhos e fui atrás do restaurante do André Bombonatti (Everest), o namorado da Bruna Requena (que mora na casa que fiquei em Bauru). Ele nem estava sabendo que eu iria atrás dele, mas como eu já havia percebido que o cara é muito gente boa, não vi motivos para não fazer isso. Cheguei lá e não deu outra, me ofereceu a casa dele pra eu ficar. Sensacional… Agradeço muito a você e a sua prima Mariana, que me receberam tão bem!
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Acordo cedo no dia seguinte e sigo mais 100km até chegar em Cornélio Procópio, mais um dia que seria cansativo. Então pra não ficar tão pesado, aceito o convite da Priscila de Paula e paro em Bandeirantes para almoçar e esperar o sol baixar, dali sigo mais 40km até Cornélio. A Priscila é uma menina que eu conheci quando era muito novo, e desde então, nunca mais tivemos contato. Ela ficou sabendo do projeto, me viu pedalando no dia da saída e me ofereceu abrigo em Bandeirantes, onde ela estuda. Mesmo não podendo passar a noite, só tenho que agradecer, foi muito gostoso apesar do pouco tempo. Eu fico muito feliz em rever as pessoas, ainda mais aquelas que você acha que nunca mais vai ter contato. Agradeço também a Carol e a Gaby que moram com ela e me acompanharam no almoço.
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Em Cornélio, encontrei a Jéssica, que a pedidos da minha amiga Ana Balconi, estava me esperando na frente de um restaurante. Nos apresentamos e ela me levou pra casa da sua avó, Lia, pra que eu tomasse banho. A vó não acreditou muito na minha historia, disse que eu não bato bem da cabeça, mas mesmo assim me liberou um banho e colocou um kibe assado na mesa que foi um dos melhores que já comi (com todo respeito a minha família árabe). Me arrumei e levei a bike pra república da Moema ( que também aceitou o pedido da Ana e me deu um canto pra dormir). Nessa noite, fomos pra praça da cidade, onde conheci o Diogo, um rapaz gente fina que quando ficou sabendo que eu estava viajando sem ferramentas de manutenção (esqueci de pegar em Araraquara), foi correndo na casa dele e pegou um kit pra me dar de presente. Esses pequenos gestos são demais!
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Fui dormir moído e acordei tarde. As 13h fui novamente pra casa da Vó Lia que estava me esperando com um almoço que só as avós sabem fazer. Comi, agradeci, digeri, montei na magrela e parti, as 14h. Tarde, isso não é hora de pegar estrada, mas não tive escolha. Cheguei em Londrina as 20h, depois de muita ladeira. Essa região do Paraná é cercada de montanhas, o que atrapalha o rendimento da viagem. Passei o final de semana aqui com pessoas sensacionais que não me deixam parar de rir. Estou hospedado na casa do Matheusão, Bixo, entre outros que não tive a oportunidade de conhecer… Mas agradeço a todos pelo quartinho que me arrumaram. Aqui em Londrina também pude rever a Leticia Brunhani, uma amiga de Maringá, que ficou comigo o tempo todo e, no sábado, me convidou pra um almoço na casa dela. Conversamos bastante, colocamos o papo em dia, cochilamos no sofá, foi bom demais!
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Agora estou me preparando pra ir pra Maringá. Amanhã (segunda, 10/12) acordo as 6h arrumo tudo e vou sem pressa pra mais uma viagem longa! Serão 100km de muita subida, então já estou preparando a minha cabeça pra ir numa boa, pedalando com muita calma!
Não vejo a hora de chegar na “A Rã K Saia”, a república que morei. Vou chegar nojento, fedido, molhado, e ai daqueles moleques se não me derem um abraço apertado por conta disso! Não quero nem saber… A primeira semana foi de muita paz, alegria, satisfação. A intensão é apenas continuar nessa linha, nessa onda. Muito obrigado pela atenção, nos vemos semana que vem, quando eu voltar com mais histórias!
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Fiquem bem.
Um beijo no coração de todos!
Beto Ambrosio!