Por Uol
Na maioria das vezes o app usado é o Tinder, mas também há registros de sequestro via Inner Circle e Happn.
Os dados são da Divisão Antissequestro de São Paulo e foram confirmados pela Secretaria de Segurança Pública.
Essa modalidade de sequestro, hoje, é predominante e equivale a 96% dos casos. Em números absolutos, 2022 foi o ano com maior número de sequestros iniciados via app de namoro — 115 ao todo. A proporção em relação ao total estava próxima a 90%.
Em nenhuma outra capital brasileira acontecem tantos crimes a partir de apps de namoro, o que torna o “golpe do amor” um crime tipicamente paulistano.
Crime e constrangimento
A porcentagem mostra que o perfil dos sequestros em São Paulo mudou com o passar dos anos.
A criação do PIX, a facilidade de acessar contas bancárias por aplicativos e a popularização dos apps de relacionamento alteraram o modus operandi das quadrilhas.
Desta forma, a vítima é levada para um cativeiro, mas é libertada dias depois, quando não há mais dinheiro para tirar dela. Os criminosos não exigem resgate
“[Em sequestros via app de namoro] O criminoso pode preparar a armadilha; ele controla tudo. Não é como ter de entrar em contato com a família e pedir dinheiro para libertar. É mais fácil”, explica Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Exatamente por isso, Guaracy acredita que os números devam ser ainda maiores.
“Nem todo mundo presta queixa porque a pessoa fica com vergonha, acha que vai passar por trouxa. Se no caso do roubo simples a subnotificação é de 40%, imagina num golpe desses”, pondera.
Como agem as quadrilhas
A selfie de uma loira com um cropped decotado, marquinha de biquíni e shorts jeans foi usada de isca em um dos casos registrados pela polícia em 2023. “Gabriela” era o nome do perfil, mas quem trocava mensagens com a vítima era um criminoso.
A moça da foto não faz parte da quadrilha e nem imagina que sua foto foi usada em um crime.
Um mesmo perfil, “Lais Olive”, foi usado mais de uma vez para atrair homens. A quadrilha também usava indevidamente fotos de uma mulher que não estava envolvida no delito.
O delegado da Divisão Antissequestro, Fábio Nelson Fernandes, comentava com colegas policiais quando ela aparecia em um caso: “Lais está aprontando de novo?”.
Depois da troca de mensagens por app, a conversa migra para o WhatsApp – caminho natural para as paqueras.
O papo serve para descobrir mais coisas sobre a possível vítima, detalhes sobre sua condição financeira e stalkear suas redes sociais.
“Todos os casos que acompanhamos foram de vítimas homens com idades entre 25 a 60 anos”, quase sempre solteiros, preferencialmente entre 30 e 40 anos e com boa condição financeira, explica o delegado Fernandes.