Nesta época do ano, a magia do Natal toma conta de todos. E, pensando mais a fundo acerca desta temática, O Imparcial conversou com três pessoas de diferentes áreas para falar a respeito de seus pontos de vista em relação ao Natal. A primeira delas é o pároco da Paróquia do Senhor Bom Jesus, Pe. Luiz Gustavo Scombatti, que apresenta sua perspectiva fundamentada na Igreja Católica.
O Imparcial: Com base na fé cristã, se alguém perguntasse para o senhor ‘O que é o Natal?’, o que responderia?
Pe. Luiz Gustavo: Natal, para o cristão, é celebrar o segundo momento mais importante da experiência da fé. O primeiro é a ressurreição de Cristo, que acontece na Páscoa. O Natal é quando Deus assume a condição humana, quando o Verbo aceita ser humano. Diante disso, ele realiza o projeto salvífico de Deus, que é justamente ser um humano para estar com o humano e salvar esse humano.
O Imparcial: Do ponto de vista da Igreja, como o senhor avalia esta baixa ‘adesão’ das pessoas para com o Natal em sua mais profunda essência?
Pe. Luiz Gustavo: Essa baixa ‘adesão’ das pessoas e da humanidade diante do Natal se dá por diversos fatores. Hoje, também se tem um ateísmo crescente, a indiferença entre as pessoas, a intolerância religiosa. Mas um dos grandes fatores que favorecem que o Natal seja uma festa social e um pouco esquecida a parte religiosa é justamente o que se comercializou dessa festa. Não é culpa do comércio, mas o que foi gerado diante disso tudo é com relação à troca de presentes. Você tem, às vezes, a preocupação com a ceia, com o feriado, e Deus não se torna uma prioridade, quando, na verdade, a prioridade para celebrar o Natal deveria ser Deus.
O Imparcial: Como o senhor avalia a percepção da Igreja em relação a troca de presentes no Natal?
Pe. Luiz Gustavo: É muito válido presentear e a Igreja incentiva os presentes. Mas, diante do que nós vamos celebrar. Não pode ser um presentear vazio; tem que ser um presentar que possa remeter à festa que eu estou vivendo no Natal. Temos que ter o foco da religiosidade. Eu estou recebendo esse presente porque Jesus nasceu, e eu, como cristão, tenho esse presente que é a presença de Deus no meio de nós.
O Imparcial: Que mensagem o senhor gostaria de deixar para os fiéis e para a população?
Pe. Luiz Gustavo: Como mensagem de Natal, primeiramente que nós possamos recordar o motivo pelo qual estamos celebrando, que é o nascimento de Cristo; depois do nascimento de Cristo, entender a missão que ele preparou para vivenciarmos o que Deus quer de cada um de nós. A missão de Jesus foi buscar o amor, a partilha, a solidariedade, o respeito, não ter diferença em qualquer nível – cultural, social, religioso –, para que todos pudessem lutar por um mundo melhor. Se eu quero o bem para mim, eu também devo lutar pelo bem do meu próximo.
O Natal também é um fator determinante para o fomento do comércio em todo o país – talvez do mundo. Baseado nisso, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Monte Alto (ACIMA), Pedro Perdonatti, mostra uma visão comercial sobre a data.
O Imparcial: Para você, o que é o Natal?
Pedro Perdonatti: O Natal é uma data especial para mim, porque é a comemoração do nascimento de Jesus, e é uma data para se comemorar, pois Deus escolheu a Terra para ele vir nos ensinar a sermos melhores.
O Imparcial: Qual o sentimento que você sente com a chegada do Natal?
Pedro Perdonatti: Eu, como sou católico, tenho esse espírito dentro de mim. É algo especial, não falando da parte do comércio. Essa data me traz a família, aquela reunião dos amigos para a gente comemorar a chegada de Jesus, porque a gente só está aqui por causa dele, então temos que agradecer.
O Imparcial: É de conhecimento geral que o Natal é uma época muito lucrativa para o comércio. Como você avalia o movimento nas lojas de Monte Alto neste período?
Pedro Perdonatti: Eu falo que o Natal é a melhor época do ano para o comércio. Através dela, o pessoal comemora e não perde aquele espírito dos católicos, porque eu sou católico e tenho esse espírito natalino dentro de mim. Os comerciantes se preparam para o Natal, porque virou uma data mundial em que tudo é comemorado nela. É um dia em que os comerciantes e as lojas se preparam muito bem, porque nos estabelecimentos você encontra presentes desde o mais simples até o mais sofisticado, então, dá para atender toda a gama de consumidores.
O Imparcial: Qual o comportamento daqueles que vão às compras?
Pedro Perdonatti: A gente trabalha com muitas datas. Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, mas o Natal tem um outro clima. É uma data especial. As pessoas procuram presentes; há aquela troca entre amigos, as reuniões familiares. Então, você percebe que a receptividade do Natal é diferente.
O Imparcial: Você pensa que o Natal perdeu o seu significado e passou a ser uma data meramente comercial? Ou não, esses fatores podem andar ‘de mãos dadas’?
Pedro Perdonatti: Eu acho que andam de mãos dadas. Foi uma data que criou-se a tradição de presentear, então as pessoas, o que elas fazem? Elas comemoram e elas trocam os presentes, por mais simples que seja, é uma maneira de comemorar a chegada de Jesus. E isso deixa vivo, não podemos deixar esse espírito morrer. É um espírito que as pessoas têm que preservar e é muito importante por isso.
O Imparcial: Qual a importância da figura do Papai Noel para a comemoração do Natal? O ‘Bom Velhinho’ seria uma espécie de ‘alavanca’ para o comércio?
Pedro Perdonatti: Eu falo assim: o Papai Noel seria o mago, é ele quem dá brilho às festividades. Você vê que as crianças idolatram o Papai Noel, então a gente fica encantado com isso. As crianças, por mais inocente que elas sejam, trazem essa magia para dentro da família, e é com isso que a gente fica encantado. O ‘Bom Velhinho’ faz essa união das pessoas.
O Imparcial: Para você, as crianças são as principais estimuladoras para fazer o Natal acontecer ou não?
Pedro Perdonatti: Com certeza. As crianças são as que unem mais, por isso que o Papai Noel eu falo que é o mago, porque ela traz a essência do Natal; e a família procura seguir as crianças, e isso é importante. Então, a gente está sentido que são as crianças que estão unindo mais e aproximando essas famílias para celebrar o Natal.
O Imparcial: Qual mensagem de fim de ano você deixa para as pessoas?
Pedro Perdonatti: Quero desejar um feliz Natal a todo mundo, cheio de Jesus no coração. E reforçar que nós não podemos esquecer que ele é a razão de tudo, e que, por isso, estamos em celebração. Isso é o mais importante; a celebração junto com Jesus no coração é o que nós temos que ter. Então, queria desejar um feliz Natal, um ano de 2024 cheio de realizações.
Há uma música, cuja composição é de Charles Brown – denominada ‘Please, come home for Christmas’ (Por favor, venha para casa para o Natal, em tradução live), que fala, em um de seus versos, que o Natal é ‘a época do ano para estar com as pessoas que você ama’. Apoiado neste tópico mais sentimental e psicológico da época, a neuropsicóloga e psicoterapeuta, Dr.ª Juliana Ilkiv elucida seu ponto de vista baseado em sua área de atuação.
O Imparcial: Se alguém viesse até você e perguntasse ‘O que é o Natal?’ Qual seria sua resposta?
Juliana: O Natal é a época do ano na qual nós rememoramos nossa história. Faz parte da tradição da maioria das famílias e, mesmo aquelas que não o comemoram, devido à sua religião ou crença, também são impactadas com memórias desse período.
O Imparcial: Como você avalia o Natal, enquanto período de relação entre família e amigos?
Juliana: Tanto no âmbito social ou psicológico, a representatividade desta data traz consigo a mensagem de união, perdão, comunhão, caridade, enfim traz a reflexão sobre nossas condutas e atos que refletem nas nossas relações sociais, sejam do círculo de amigos ou familiares.
O Imparcial: Natal, como bem sabemos, é uma época para praticar a empatia, ser mais alegre e otimista. Você percebe que essas características estão presentes nas pessoas?
Juliana: É impossível generalizar, pois tudo depende do contexto ao qual as pessoas estão inseridas. Natal é tradição, é um sentimento que contagia; isso se estamos inseridos em um ambiente que acredita na sua representatividade, que contagia sua família através das tradições, que desenvolve a empatia e todas as características que descrevem esta época. Em contrapartida, se esta pessoa está inserida em um contexto em que a data a faça reviver perdas, traumas, medos, provavelmente não haverá qualquer desejo de praticar tais características, não porque esta pessoa não gostaria, mas sim porque as memórias despertam dores que a impedem.
O Imparcial: Do ponto de vista psicológico/sentimental, você percebe alguma diferença positiva ou negativa no comportamento das pessoas com a chegada desta data? As pessoas estão mais receptivas, mais felizes, otimistas, com expectativa de perseverança ou mais carrancudas, preocupadas e infelizes?
Juliana: O que percebemos é que diante de tantas tragédias, um pós pandemia com tantas perdas por mais que a data traga consigo uma simbologia de renascimento, observamos um enrijecimento no sentir. Estamos todos passando por um renascimento interno e o amadurecer dessa nova realidade vai levar um tempo, mesmo diante de todas as dificuldades, resistências, dores e medo, o que ainda prevalece é a Esperança e esse é o sentimento que levará a cura das dores humanas.
O Imparcial: Bom comportamento. Duas palavras que são ditas às crianças para que comportem-se bem durante o ano para ganhar presentes no Natal. De que modo isso implica na maneira como elas agem? Seria essa uma relação de ‘causa e efeito’?
Juliana: Sem dúvida alguma, porém é importante o cuidado com tal colocação. Ao pensarmos em causa e efeito, o que estamos ensinando com tal colocação, e quais os impactos na vida adulta? Se esta colocação for entendida como: se você evitar o ruim, o que prejudica, e cumprir com as suas responsabilidades você terá, através do seu mérito, conseguido algo do seu desejo, isso é positivo; mas, se por outro lado, essa mensagem for entendida como forma de extorsão ou chantagem, isso trará prejuízo principalmente no período de formação da personalidade dessa criança.
O Imparcial: Em tempos nos quais a instantaneidade e a rapidez imperam na sociedade, o que fazer para melhorar as relações dentro de casa, em especial nesta época do ano?
Juliana: Se passarmos a nos disponibilizar a entender quais as prioridades, o tempo é o que temos de mais importante. É importante conscientizar que tempo é vida e que não existe mais um dia, e sim menos um dia. Somente a conscientização e a reflexão sobre o que estamos fazendo com o nosso tempo nos fará entender o que realmente importa. Nesse momento, nossa forma de nos relacionar com nossa família muda, não somente nesta época do ano, mas é evidente que essa é a época do ano que mais propicia tal reflexão.
O Imparcial: Que mensagem você gostaria de deixar à população para estes últimos nove dias de 2023?
Juliana: Deixaria não uma mensagem, mas uma reflexão. Pensando em causa e efeito, pensando no hoje que é consequência do ontem, como você gostaria de estar em dezembro de 2024? Então, comece hoje, pois não temos um dia a mais, só temos um dia a menos para abraçar, beijar e dizer que amamos as pessoas que fazem parte desse curto tempo chamado vida! Feliz Natal, seja ele como for, e um 2024 com muito tempo para aproveitarmos nossas prioridades!