De João Pessoa seguimos pra um lugar livre, leve e solto, literalmente. Pra mim, está na lista das praias mais lindas do Brasil, a praia de Tambaba. Só que lá o negócio é tão livre, que contraditoriamente existem restrições: Proibido o uso de roupa. A vontade de ficar nú era tanta, que tiramos a roupa em João Pessoa mesmo e fomos pedalando peladões até lá.
Brincadeiras a parte, chegamos e discretamente obedecemos às regras. Um certo estranhamento inicial, natural. Logo nos acostumamos e relaxamos. Relaxamos tanto que ficamos até o outro dia. Armamos a barraca de baixo dos coqueiros e passamos uma das noites mais lindas da viagem. Praia só nossa, fogareiro esquentando a comida com amor, jantar na areia e muita felicidade.
Mas melhor do que dormir na praia, é acordar nela. Não existe mau-humor quando o despertador se chama Sol. Bem cedinho, nada como sair da barraca e se espreguiçar com o pé na areia, olhando pro mar e sentindo a sua brisa, misturada com o raios amenos do tal despertador, e tudo isso peladão, que benção.
Fogareiro aceso, só se ouvia o som do mar, das folhas dos coqueiros e do queijo derretendo na frigideira. Enquanto eu buscava a louça que ficou secando em cima das pedras, a Naty preparava com toda calma e amor do mundo, deliciosas tapiocas, com queijo coalho e verduras que sobraram da janta. Café da manhã inesquecível…
Entramos no mar como viemos ao mundo. Mar bravo, ondas grandes. Pra mergulhar por baixo delas, bunda branca pra fora d´água, um espetáculo da natureza. O mais legal de entrar pelado do mar, é sair dele, ainda mais quando existem alguns senhores na praia, que experiência incrível. Um desses senhores se aproximou, veio puxar papo, haja concentração.
Peladamos, digo, pedalamos até o fim da praia, tiramos as fotos secretas da viagem, colocamos as roupas e voltamos a realidade. Recompostos seguimos rumo ao estado do Pernambuco. Atravessamos o rio que divide os estados já no fim da tarde, depois de 40km pedalados por longas e pesadas ladeiras. Queríamos dormir tranquilos em algum hotel, mas pra isso, deveríamos seguir até a vila de Ponta de Pedra, que ficava 10km pra frente.
O sol se foi e ainda estávamos na estrada, com uma nuvem de mosquitos na cara, muita concentração e paciência. A Naty foi na frente comandando a equipe e eu quase que não consegui acompanhar…. bichinha invocada, engatou a marcha pesada e arrochou. Pedalamos com força, em silêncio, concentrados. Chegamos felizes, muito felizes e cansados. Cozinhamos dentro do quarto, jantamos e fomos sugados pela cama, que nos proporcionou uma deliciosa noite de sono.
Acordamos com chuva brava e atrasamos a partida, com destino a capital mais louca do nordeste, seria melhor chegar cedo. Força no pedal pra tirar o atraso, chegamos na entrada de Recife no fim da tarde. Mas eu disse “entrada”, e nosso destino ficava na “saída”. Uma imensa capital nos esperava cheia de carros, barulho, fumaça e cheiro de cocô. Cruzamos a cidade já de noite, numa adrenalina que eu particularmente adoro (quando não faço parte dali).
Chegamos às 19h30 na casa de Rafael e da Ludmila, depois de 75km pedalados. O casal é amigo da Naty, agora é meu também. Passamos duas noites com eles, curtindo o aconchego do gostoso apartamento e da companhia pra lá de agradável. Muito obrigado gente, pelas boas conversas e comida rica.
Me despeço por aqui, pessoal. Uma boa semana a todos.
Beto.