Quem foi adolescente na década de 1980 deve se lembrar o álbum de figurinhas “Amar é…”. A gente colava aquilo por toda parte, porque era uma fofura e, com certeza, muitos de nós, ou muitas, porque esse tipo de álbum era mais “coisa de menina”, sonhava em viver um amor assim, porque a coleção mostrava a harmonia do simpático casal nas situações mais inusitadas.
Como agora temos a internet para nos informar de tudo, não foi difícil descobrir que a autora dessa coleção apaixonante foi a neozelandesa Kim Grove, que a desenhou em 1967. No início, eram apenas tirinhas publicadas em jornais, que mais tarde acabou virando o álbum de figurinhas que ganhou o mundo.
Adolescentes em 1980 ou em qualquer época, a gente cresce e acaba descobrindo que nem sempre amar é… tão fofo assim. Aquele companheirismo em todos os momentos, o apoio incondicional, fazer um programa que não se curte muito apenas pelo prazer de acompanhar o outro e tantas outras coisinhas que põem vida na relação existem mais na fantasia do que na realidade, infelizmente.
No entanto, o amar é… depende de cada um de nós, são escolhas que nós fazemos. Ninguém passa 50 anos apaixonado pela mesma pessoa, mas, podemos escolher estar nos reapaixonando constantemente. A pessoa com quem nos casamos, aquele ou aquela que escolhemos para passar o resto da vida vai fica gordo ou gorda, careca, com estrias, mal-humorado(a) chato(a); pode apresentar manias que detestamos ou desenvolver hábitos que nos parecem insuportáveis.
De uns tempos para cá, virou moda trocar. Se não está bem, separo desse ou dessa e troco por outro, outra, outros. Bobagem, isso é só repetir o mesmo ciclo vicioso. Os hábitos e manias podem mudar, a aparência física pode ser um pouco diferente, mas, no fim, acaba tudo na mesma. Então, a grande sacada é olhar para o mesmo outro e, no lugar daquele corpo rolicinho, ver aquele menino magrela ou musculoso, aquela mocinha de curvas impecáveis e sorriso angelical, porque eles estão ali, apenas com outra forma e a nossa paixão pode se reacender a cada dia.
Eu não estou casada com a mesma pessoa há 50 anos, porque só me casei aos 50 anos. Portanto, estou casada há oito, mas, amaria estar há 40 pelo menos, porque, desde que nos unimos, o meu marido me surpreende a cada dia. Ele tem hábitos chatos? Tem alguns, eu também, mais que ele, inclusive. Mas, a relação que temos está muito além de hábitos e manias. Nós temos a cumplicidade das figurinhas Amar é… e estamos sempre fazendo novas descobertas, superando obstáculos, nos apoiando e admirando um ao outro. E eu conheço uma porção de pessoas que vivem assim e que são casadas há muito tempo.
Há uns quinze dias, tive cinco minutos de insanidade e resolvi pintar os meus cabelos. Vocês que me conhecem, que veem a minha foto no jornal, sabem que tenho cabelos branquíssimos. Pois fui lá, comprei um castanho claro, meti nos cabelos e achei que ia arrasar. Misericórdia! Quando lavei e sequei, me vi diante de uma completa desconhecida. Ficou escuríssimo, muito distante até da cor que meus cabelos tinham antes de branquear. Detestei.
Uma semana depois, comprei um removedor de tinta e fiz duas sessões domésticas de clareamento, ficou pior ainda, porque ficou de uma cor que não existe, nem castanho, nem loiro, nem ruivo. Recebi até alguns elogios, pessoas me disseram: “Nossa, que cor diferente! Que cor é essa?” “Cor do arrependimento”, respondi.
Bem, pode parecer uma coisa simples, mas, a aparência da gente tem que, primeiramente nos agradar e aquele cabelo tingido me causou bastante sofrimento. Então, esta manhã, não tive dúvida, meti a tesoura no cabelo. Quando meu marido acordou teve uma super atitude Amar é… Pegou a maquininha e raspou o cabelo também e ainda deu uma acertada nos caminhos de rato que eu tinha deixado no meu.
Agora, estamos os dois carequinhas. Sei que seremos olhados com pena ou de forma estranha, muitos pensarão que estamos fazendo quimioterapia ou algo assim, mas, para mim, ficou muito melhor do que os cabelos tingidos. Tiramos uma foto para registrar o momento e, olhando para ela, eu pensei “Amar é isso. E como sou feliz por ter essa qualidade de amor!” Viva e valorize cada coisinha especial ao lado da sua pessoa amada, porque amar é fazer cada dia único ao lado daquele ou daquela com quem podemos contar sempre.