Semana 105

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bicicletaO duro foi partir no dia seguinte, mas fomos fortes. Seguimos pela areia da praia, contra o vento, o que alongou os três kilômetros de caminho. Nos disseram que depois do rio encontraríamos uma estrada de terra, doce ilusão! Voltamos tudo. Foi bom por que já estava na hora do almoço e um pessoal lá da vila que estava fazendo uma super feijoada nos convidou pra comer. Não comemos com eles, mas enchemos todos os potes possíveis e seguimos com o tanque cheio. Pegamos novamente a estrada de terra pelo meio dos canaviais, mas logo demos de cara com uma bifurcação e paramos sem saber pra onde ir. Logo apareceu um caminhãozinho, com um casal de senhores super simpáticos, que parou pra nos ajudar: Querem carona? Topamos. 15km na mamata, com vento na cara e sorriso no rosto, que mordomia.
Fomos despachados na praia da Barra da Camaratuba, já no estado da Paraíba, onde almoçamos nossa deliciosa feijoada e seguimos. Mais uma mini balsa, depois uma estradinha de 12km de terra e areia fofa, até por fim alcançar nosso destino, a vila indígena da Baia da Traição, onde passamos uma noite muito bonita, rodeados de pessoas de muita simplicidade. Era a família do Josivânio, amigo que fizemos pelo caminho…agora explico:
Logo que deixamos o barco e entramos na estradinha de terra, topamos com uma molecada muito engraçada, que naquele momento precisava de ajuda, e dessa vez, o anjo fui eu. Sempre rodeado de hospitalidades e salvamentos relámpagos, dessa vez foi eu quem salvei o passeio de alguém, que bom, me senti bem.
Ei parceiro, tu não tem um remendo de pneu ai?
Arrumei o pneu da pequena bicicleta de um dos figuras e seguimos viagem todos juntos, já que eles viviam justamente no nosso destino. Um fim de viagem divertidíssimo com os cinco descendentes indígenas, com idades entre 16 e 18 anos, tudo moleque-doido. No meio do caminho, perguntei a eles onde poderíamos dormir quando chegássemos na vila, e sem nenhum drama, Josivânio nos convidou a ficar na casa dele.
– O mãããe, trouxe uns amigos pra dormir em casa!
– O maravilha, podem entrar.
Fomos recebidos por dona Josivânia com muito carinho e tranquilidade, em sua humilde e aconchegante casinha de barro. Apesar de ser “mãe-retada”, não se importou com a loucura do filho de levar dois estranhos pra casa. Na realidade me parece que ela adorou. Passamos a noite ouvindo as longas histórias do Josivânio e caímos no sono, como uma criança que dorme ouvindo as histórias da mãe.betao

Bem cedinho nos alimentamos, agradecemos e partimos. Era domingo, fazia um dia lindo e as estradas que nos esperavam eram na maioria de terra ou areia. Josivânio e seu sobrinho pedalaram 10km com a gente, até a beira de mais um rio que deveríamos atravessar. Conseguimos, depois de certo tempo, algum pescador que nos levasse até o outro lado. Um lugar maravilhoso, deserto, só pra gente. Empurramos felizes a bicicleta por um trecho de areia mole, encontramos a estrada de terra e arrochamos o pedal. Silêncio, paz e uma grande sintonia, o que dispensou muitas palavras, a transmissão de pensamento era suficiente pra comunicação.

Pequenas pausas pra banana com granola, outras pra admirar a paisagem. A estrada de areia que margeava a praia começou a ficar fofa demais, optamos então por descer pra praia, que estava perfeita pra pedalar, já que a maré estava seca. Ótima escolha. Pedalamos por uma das praias mais lindas do nordeste, na minha opinião. Falézias cheias de cores, mar verde e areia branca, uma maravilha. Demos de cara com um pequeno rio que beijava o mar, sem barcos nem balsas que pudessem nos ajudar. A única opção foi se molhar. A maré estava subindo, tínhamos poucos minutos pra passar todas as coisas de um lado pro outro. Força nos braços, bicicletas e alforges no lombo e concentração pra não cair e arruinar todo o equipamento. Parece que tudo foi desenhado pra que as coisas dessem certo naquele dia…se chegássemos 10 minutos depois já não conseguiríamos atravessar.
Depois de um almoço gostoso seguimos até a última balsa do dia, a qual nos deixaria há poucos quilômetros da capital João Pessoa. Tempo milimetricamente calculado. Chegamos cinco minutos antes da balsa partir, o que nos permitiu chegar na casa de uma linda família que nos esperava, a tempo de conhecer Ana, a mãe de um antigo amigo paraibano, o Pablo.
Pablo estudou comigo há 10 anos, e desde que eu sai de viagem ele me confirmou: Quando chegar em João Pessoa você vai ficar na casa da minha família.
E assim foi. Ele nem estava presente, está morando na Itália, mas fez toda a intermediação pra que eu pudesse conhecer sua mãe, tios e primos. Ana não mora na cidade, mas estava por lá, quase de partida. Chegamos a tempo de um cafezinho fim-de-tarde. Isso tudo aconteceu na casa dos seus tios, Harrison e Magnólia, e dos filhos Harrison, Hugo e Hendel, onde passamos dois aconchegantes noites, cheias de mimo e atenção redobrada. Foi muito bom estar com vocês gente, muito obrigado por tudo.
Por hoje é isso meu povo lindo. Tenham todos uma boa semana.
Beto.

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