“Não corra atrás das borboletas; plante uma flor em seu jardim e todas as borboletas virão até ela.” D. Elhers
Há um texto fantástico do Chico Anysio no qual ele reflete sobre as idades do homem e fala como seria interessante se nascêssemos velhos e fôssemos rejuvenescendo com o tempo. Essa mesma linha de raciocínio foi usada no filme O Curioso Caso de Benjamin Button, com magistral atuação de Brad Pitt. Um tema que nos faz pensar sobre nossas vidas.
Eu seria menos radical que nesses dois exemplos. O ideal para mim é que fôssemos envelhecendo até os 60 anos, quando não estamos ainda tão debilitados, geralmente já aprendemos bastante e conseguimos um relativo sucesso em várias áreas da nossa vida. Aí, no nosso aniversário de 60 anos, começaríamos a desenvelhecer, na proporção de dois anos por um. Assim, em vez de 61, faríamos 58, depois 56, 54 e, em dez anos, estaríamos de novo com 40, num corpo firme, bonito, sem grandes inseguranças com a aparência, aliando o vigor do auge da vida adulta com a sabedoria adquirida com o envelhecimento. Aí pararíamos de fazer aniversário e ficaríamos com 40 anos até o fim da vida, afinal, dizem que a vida começa aos 40, então estaríamos sempre no começo até o dia de partir.
Bem, no mundo real, nem a teoria do Chico Anysio, nem a de Benjamin Button e nem a minha… Infelizmente, o tempo passa, inexorável, e a vida nos escorre pelas mãos, minuto a minuto, segundo a segundo, sem que nos demos conta disso, e só o que nos resta é percebermos que estamos cada vez mais sem tempo.
Uma das lições mais preciosas que aprendi, a prendi agora, já perto dos 60. É a lição das borboletas, e eu desejei muito partilhá-la com vocês, principalmente com as pessoas mais jovens, que, se soubessem o que eu sei agora, poderiam evitar alguns erros e caminhar pela vida com mais leveza e assertividade.
A singela frase que usei como epígrafe neste artigo, que muitos atribuem a Mário Quintana, mas teria sido escrita por uma escritora e cineasta mexicana chamada Dolores Elhers, nos dá uma extraordinária lição de vida.
Eu costumo dizer que comecei a escrever antes mesmo de aprender a escrever. Quando entrei na escola, aos 7 anos, e aprendi , com a Dona Gracinda Barroso, a ler e escrever, com a inigualável cartilha Caminho Suave, eu descobri o mundo. Descobri o meu futuro. Descobri que nasci para ser uma escritora. E venho escrevendo desde então.
Mas, agora, já bem mais próxima de dobrar o Cabo da Boa Esperança, depois de ter escrito continuamente, por mais de 50 anos, descobri que não basta escrever, não basta criar histórias bonitas, impactantes, emocionantes para ser lida pelas pessoas. É preciso bem mais que isso, sobretudo nessa era dominada pelo digital. Então, fui embora estudar parar tentar aprender aquilo que eu não sei: fazer com que as minhas palavras cheguem ao seu destinatário, o leitor.
Como sempre gostei de estudar, não foi uma decisão muito difícil me matricular num curso para escritores. O dom já tenho, as ferramentas, já domino, então, faltava aprender a dominar o trânsito entre autor-escritor, aprender a cruzar a ponte para chegar ao seu lado do rio e convidá-lo para vir conhecer o meu.
Comecei o curso preparada para uma abordagem técnica, para um vocabulário novo, centrado no internetês, mas, logo de cara, me surpreendi com uma professorinha tão amorosa e delicada quanto a Dona Gracinda, estrela-guia do céu da minha infância. O nome dela é Dany Sakugawa, uma nissei que fala baixinho, suave, mas tem um imenso poder de convencimento. Dany tem voz de silêncio, porque as suas palavras nos fazem parar para pensar. E eu, que há muito tempo vivia com um barulho enorme dentro de minha mente inquieta, ao ouvi-la, fui me asserenando, me asserenando, me asserenando… até ficar quietinha e conseguir me ouvir.
E uma das primeiras lições que ela ensinou foi a lição da borboleta: “Não corra atrás das borboletas; plante uma flor em seu jardim e todas as borboletas virão até ela.” E agora, desacelerada, eu estou revolvendo e adubando a terra, arrancando as raízes velhas e as pedras, desenhando os canteiros e preparando as sementes para o meu definitivo jardim.
Então, resolvi dividir essa preciosidade com você. Não importa se escrita por Quintana ou por Dolores, essa é uma dessas lições preciosas, semeadas por anjos de vez em quando para nos ensinar a viver de um modo melhor. Seja qual for a realidade da sua vida, não fique mais correndo atrás das borboletas. Olhe para você e concentre-se no seu jardim. Arranque a erva daninha, pode as plantas que já não dão flores, remova as impurezas, misture as folhas velhas com a terra para virar adubo e semeie novas sementes, plante novas mudas, desbaste os galhos maiores para o sol chegar a todas as plantas.
Cuide do seu jardim. As borboletas virão e você se surpreenderá com a beleza delas e poderá deliciar os seus olhos e o seu coração ao observar o seu balé por entre os canteiros floridos, por entre as flores cultivadas por você.
E, se quiser mais uma sugestão, ouça essa linda música do Wander Lee, Meu jardim: https://www.youtube.com/watch?v=i6yvS3z8BM8
E, numa singela homenagem ao magnífico Chico Anysio, termino com a última frase do texto dele: “E ficava mais ingênuo, mais burro e mais puro. No fim da vida, você teria a pureza absoluta. Andar de bicicleta, nadar pelado no rio, trepar em árvores, soltar barquinho de papel nas enxurradas. A bola, a pipa o chiqueirinho, a boneca de pano. Do chiqueirinho para o berço, o chocalho e pararia de chorar.