O que não depende de nós

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Odeio o frio. Não suporto o frio. Abomino o frio. Sofro com ele, fico depressiva, mal humorada, sem ânimo. Se pudesse sofrer uma mutação, no inverno eu gostaria de me transformar num urso: fazer uma enorme reserva de mel (e ana maria, paçoquinha, bolinho de chuva, leite condensado, filmes…), entrar na toca e só sair na primavera, quentinha, gorda e feliz.
No entanto, nossos melhores professores costumam ser as coisas que não gostamos, aquelas que lembram nossa impotência e limitações, aquelas sob as quais não temos nenhum controle e das quais não temos como fugir. Tem gente que não gosta de calor, outros não gostam de chuva. Tem gente que não gosta de trabalhar, outros nem mesmo gostam do sexo com o qual nasceram. Mas, a despeito de nossas preferências e desgostos, faz calor extremo, faz frio, chove, há enchentes e tempestades e, se não se trabalha – seja-se pobre ou seja-se rico – não se vive de uma forma minimamente digna: os pobres, se não trabalham, não comem e os ricos, se não trabalham, não mantêm a fortuna.
São coisas que não podemos mudar, coisas com as quais temos de aprender a conviver, a tolerar. Coisas que não mudam para nos agradar ou para tornar a nossa vida mais feliz. Pelo contrário, boa parte da felicidade consiste em aceitarmos o que não podemos mudar, o que não depende de nós mudar, sobretudo, aquilo que afeta um grande número de pessoas, uns mais, outros menos, mas afeta. Afinal, como diz o livro de Eclesiastes, “chove sobre bons e maus, sobre justos e injustos”.
Até mesmo naquilo que parece mais íntimo e particular, como um homem que faz cirurgia para mudar de sexo, é assim. Ele pode mudar de nome, de aparência, mudar a forma do seu corpo e os dados do seu registro de identidade, porém, continuará sendo um homem, intrinsecamente será um homem, um indivíduo nascido no sexo masculino, e não há como mudar isso.
Eu convivo com alguém que perdeu um filho de menos de 20 anos. Esta é, sem dúvida, uma das coisas mais difíceis de aceitar, uma coisa que a gente daria a própria vida para mudar, mas não pode, não muda. Aquele que se foi não volta mais e isso faz parecer irremediável a dor da saudade. Pode-se tentar se apegar a doutrinas que apregoam a comunicação com os mortos e dedicar tempo e esforços na busca de cartas psicografadas, pode-se usar as roupas da pessoa que partiu, gritar por ela, revoltar-se, enlouquecer, brigar com Deus, até mesmo invadir o cemitério e dormir em uma gaveta vazia do túmulo do filho, como li num livro que um pai fazia, no cemitério da Quarta Parada, em São Paulo. Nada disso irá trazer o filho de volta, assim como agasalhar-se ou recusar-se a sair de casa, acalentando o desejo de se tornar um urso, no inverno, não vai evitar que faça frio.
O que nos resta então? Aceitar. Apensas aceitar. E aceitar não significa aderir, não sofrer. Aceitar significa simplesmente admitirmos a nossa impotência diante de determinados fatos e circunstâncias. E nem adianta qualquer coisa perguntar por quê. Por que chove tanto? Por que faz frio? Por que morrem as pessoas que amamos? Por que nossos cachorros desaparecem? Por que roubam nosso carro? Por que somos demitidos? Por que a pessoa que escolhemos para passar a vida junto deixa de nos amar? Por que existem tornados, tsunamis, tempestades de granizo, incêndios, inundações? Por que existem traições, catástrofes, injustiças, fins?
Não sabemos e certamente nunca saberemos por que algumas coisas são como são. É imensa nossa impotência, limitação e fragilidade diante delas. Apenas uma coisa é certa: tudo passa. O bom e o ruim, tudo passa. Um dia o inverno acaba, as árvores se cobrem de novas folhas e flores e renasce a primavera. Um dia o verão acaba e o clima fica mais ameno. Um dia a chuva passa e o solo fica mais fértil, a atmosfera mais respirável. Um dia a gente encontra um novo amor, aprende a trabalhar com outra coisa, reconstrói o que a tempestade destruiu, entende que, mais importante que ser homem ou mulher, é estar vivo, existir, ser humano.
Um dia a dor passa e até mesmo a saudade passa, porque caminhamos rumo ao encontro dos que nos precederam e isso também é inevitável, afinal, todos morreremos. Depois do inverno, a primavera; depois da tristeza, a alegria; depois da morte, a vida eterna; depois do caos, a reorganização da vida. Para não nos perdermos em desesperos e revoltas estéreis e inúteis, é bom aprendermos a vivenciar o que é ensinado na Oração da Serenidade, pedindo a Deus que nos conceda a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir uma das outras, porque, como dizia a Taís, uma antiga colega de faculdade: “Um dia para a tristeza, um dia a tristeza para.”.

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