Eu descobri muito cedo que gostava de escrever. Creio que antes mesmo de ser alfabetizada pela professora Gracinda Barroso, com a cartilha Caminho Suave. As primeiras lembranças que tenho da minha vida estão envoltas em histórias que eu criava para preencher o tempo e tornar mais fácil a infância cheia de desafios.
Um pouco mais tarde, aos 11 anos, eu aprendi, com a Dona Carmem Perez Nunes, que escrever é um dom. Até então, eu pensava que todas as pessoas tivessem a mesma facilidade que eu para a escrita.
Passaram-se mais alguns anos e eu me tornei repórter, redatora e depois editora do jornal O Imparcial e aprendi que gostar de escrever não era o bastante, havia técnicas para cada tipo de escrita e eu precisaria dominá-las se quisesse continuar trilhando este caminho.
Fui do Imparcial ao Estadão e, lá, isso ficou ainda mais claro e me mostrou uma grande verdade: eu não havia nascido para ser uma repórter, uma jornalista, mas sim uma escritora, uma romancista. Por isso me formei em Letras, não em Jornalismo.
Eu havia encontrado o meu propósito primordial, e passei a caminhar pela vida sem pressa, certa da direção a seguir. Não tenho a conta da quantidade de artigos de opinião e crônicas que escrevi ao longo dos anos. Provavelmente atinjam a casa dos milhares. Livros publicados foram apenas dois. Gestados, foram muitos, ainda à espera do momento certo para virem à lume. Momento, por sinal, muito próximo.
Os anos se passaram e, por mais problemas e desafios que eu enfrentasse, caminhei a maior parte do tempo pela trilha do prazer, porque não há nada mais compensador e prazeroso na vida do que encontrarmos e vivermos o nosso propósito, e o meu é a escrita. Nunca tive dúvidas sobre isso, nunca me esforcei para isso. Para mim, escrever é um ato tão necessário e natural quanto respirar.
No entanto, o tempo passa e a maturidade nos traz outros questionamentos, outras formas de ver a vida. E foi neste agradável outono que descobri um braço importante do meu propósito. E essa descoberta nasceu de uma pergunta: Basta gostar de escrever para se tornar um escritor?
Foi pensando sobre isso que eu compreendi que o tempo que me resta por aqui não deve se limitar apenas ao exercício da escrita, mas à missão de ajudar outros a trilharem este caminho.Gostar de escrever é o essencial, a viga mestra da carreira de um escritor, mas, só isso não basta. Há técnicas, há métodos, há formas e estilos diversos a serem dominados.
O exercício da escrita é um ato coletivo que se pratica solitariamente. O livro não é do autor, ele pertence aos leitores, mas o fazer literário é um ofício que se exerce na solitude, que exige dedicação, disciplina, resistência, resiliência. Criatividade também, obviamente, e inspiração. Mas, exige transpiração, esforço, persistência e fé. Sim, escrever é um ato de fé.
Foi com o amadurecimento dessa reflexão que eu resolvi criar a “Rua Descalça – Oficina de Livros”, para levar a outros aquilo que aprendi, para partilhar o saber de toda uma vida, para ser para muitos o que a Dona Carmem Perez Nunes foi para mim.
A partir desta edição, além dos meus artigos, vocês encontrarão, nas páginas do Imparcial, o anúncio da Rua Descalça (nome tomado do título de um dos livros que a Dona Carmem me incentivou a ler, do grande escritor José Mauro de Vasconcelos).
Então, se você gosta de escrever e quer saber um pouco mais sobre este ofício, venha tomar um café na minha oficina de livros. Escreva para mim. Terei imenso prazer em trilhar com você um pedaço da sua estrada.
ruadescalca@gmail.com (11) 99171-7932