Consumir, em nossos dias, é praticamente uma regra, para todas as gerações e para quase todos os bolsos. A mídia nos coloca em contato continuamente com novidades, tecnologias, promoções e assim por diante. Para as crianças, brinquedos cada vez mais elaborados e caros; para os adultos, opções tecnológicas cada vez mais modernas. O paraíso pode ser visto pelos comerciais e propagandas da net e da TV: tudo pode ser conhecido, comprado e financiado, ainda que em épocas de crise.
E o mais importante e o mais triste: é difícil não ceder às todas estas tentações e caminhar na contramão da sociedade de consumo. Uma grande parte das pessoas, incluindo as crianças, acaba acreditando e vivendo a cultura do ter sempre mais: mais coisas, mais roupas, um carro melhor, uma casa maior, uma televisão mais moderna, um celular de última geração, as marcas mais famosas, entre outras inúmeras opções.
Enquanto isto, vários conceitos que deveriam ser base para formação ética de todos nós parece história ultrapassada: a honestidade, o respeito às leis e regras de convívio, o trabalho responsável e ético viraram piadas, acreditar na construção de uma sociedade mais justa e melhor para todos, então, pode ser coisa de gente tola.
Talvez a maioria ainda concorde que o estudo é importante. Mas hoje se estuda para ser mais competitivo no mercado de trabalho, para ser o melhor e ganhar mais porque ganhando mais, também compramos mais. Não há como discordar que a educação básica de qualidade é requisito para uma boa formação superior e, consequentemente, trabalhos, remunerações melhores e vidas mais confortáveis. Mas será que é só isso?
A escola não teria a função, em primeiro lugar, de ajudar na formação de cidadãos? Crianças bem formadas, com clareza de qual é o seu papel no mundo, com respeito às regras e aos limites e principalmente ao espaço comum de convívio, serão também adultos dedicados à sua formação e trabalho, com competência para construir suas vidas com qualidade e conforto, futuros consumidores conscientes, e não consumistas desenfreados.
Sim, vemos tudo ao contrário hoje. Até parece utopia ensinar de outra forma, quando o mundo mostra exatamente que quanto mais temos melhor somos. Mas como podemos reclamar da corrupção, da violência, da desigualdade social, das tragédias que vemos todos os dias acontecendo à nossa volta, se olhamos para tudo isto e não fazemos nada?
Falar não para nossos filhos quando podemos lhes dar algo que não há necessidade naquele momento, ajuda a frear o desespero pelo consumismo. Falar não para nós mesmos, quando nos sentimos tentados a comprar algo a mais e desnecessário, também é um exercício de cidadania.
Dizer não é ensinar a criança que tudo tem limite, que não temos sempre tudo o que queremos e que as coisas não são sempre do nosso jeito. E os adultos também terem esta consciência é essencial para que possam ensinar os pequenos. Não adianta nada ensinar de uma forma e viver de outra.
Este é o difícil – mas não impossível – caminho que podemos e devemos buscar para começar a mudar a realidade do que vemos e vivemos hoje.