Braços de Shiva

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Hoje vou escrever sobre um assunto que já abordei aqui mais de uma vez, mas, sempre volto a ele porque talvez seja a minha maior fragilidade: a dificuldade em administrar o tempo, ou melhor, administrar as tarefas que cabem dentro do tempo, porque o tempo é sempre igual, imutável, implacável e inadministrável. Não importam as ilusões que tenhamos sobre poder controlá-lo, cada dia continuará tendo 24 horas, cada hora, 60 minutos e cada minuto, 60 segundos.

O mês de julho e essa primeira metade de agosto foram terríveis para mim. No bom sentido, porque tive uma avalanche de trabalho, e ter trabalho é sempre bom, a vida ociosa é uma vida triste. Mas, chegou um momento que eu já não tinha tempo para comer ou dormir. E, no meio desse processo todo, começou uma reforma na minha casa, uma alteração na cozinha e na lavanderia, lugares que são o coração da casa.

Então, meus armários, pratos, copos e panelas foram para um quarto. Minha geladeira e meu fogão foram para a sala e começou a quebradeira. Olha, em 57 anos de vida, acho que nunca vi tanta poeira! Era pó, cimento e pelo de cachorro por todo lado, porque eu tive que administrar quatro pedreiros e oito cachorros no ambiente. Isso sem falar no xixi e no cocô nos lugares mais inadequados. Até eles, coitadinhos, ficaram todos sujinhos de cimento e pó.

E sou uma pessoa de regras e sou rígida nas regras que tenho para a realização de minhas tarefas. No entanto, com uma obra em casa, é difícil manter a disciplina. A campainha tocava várias vezes por dia: material de construção, marceneiro, vidraceiro, serralheiro. E vai a Isa levantar e atender, aí volta para o trabalho, o pedreiro chama, o cano dá vazamento, a tinta acaba. Quem consegue se concentrar no meio disso tudo?

Mas, o meu caso é apenas um exemplo. Na vida, de um modo geral, vivemos tendo situações que nos tiram do eixo. O ideal seria termos uma meta, um sentido e seguirmos na direção dele por uma estrada larga e reta, sem obstáculos, sem percalços, sem acidentes de percurso. Mas, sabemos que não é assim e, com certeza, esse é o interessante da vida. São os desafios que nos movem, os imprevistos que testam as nossas habilidades. Mas, confesso, tem hora que cansa!

Chegou uma hora que me conformei em ter vestígios de cimento como tempero da comida, e beber água direto da torneira se tornou um lugar comum. Sem falar que, quando foi feita a troca da pia e do tanque, em alguns momentos precisei encher a minha garrafinha de água na torneira da pia do banheiro! Bem, prefiro água filtrada, mas, não morri por causa disso.

A reforma acabou, as coisas ainda não voltaram todas para o lugar, mas, a rotina continua, as demandas de trabalho aumentando… A noite de terça para quarta, passei em claro, na frente do computador. Quando o meu cafezinho Collatrelli chegou, às 05h30 da manhã, foi que eu vi que já tinha amanhecido. E continuei na luta, nem o pijama tirei. Consegui terminar a tourada na quarta-feira perto de dez da noite. Saí da mesa do computador direto para cama, já que estava de pijama mesmo, pois, nem forças para tomar um banho eu tive.

Nessa maratona, precisei abrir mão de escrever este artigo e deixar outras tarefas, a louça do café da manhã na pia foi uma delas. Depois almocei a marmitinha que meu amado marido deixou preparada para mim de manhã e nem a tirei da mesa. Mensagens de WhatsApp? Nem olhei! E-mails? Nem abri a caixa postal. Bem, que eu saiba, pelo menos até o momento que consegui sentar para escrever este artigo, ninguém morreu por falta das minhas respostas.

Hoje é quinta-feira e eu consegui sair de casa para ir ao Pilates e, no caminho, fui pensando que queria ser como Shiva, a deusa hindu que tem quatro braços. Mas, depois, já retornando para casa, retomei a imagem de mim mesma com quatro braços, talvez com seis, e pensei o quanto Deus é sábio tendo-nos dado apenas dois braços, pois, se com dois, já fico tão enrolada, assumo tantos compromissos e toco tantas tarefas ao mesmo tempo, imagine se tivesse mais um ou dois pares de braços!

Deus foi sábio também ao nos dar, das 24 horas do dia, apenas 16 para os nossos afazeres, porque oito dessas horas não nos pertencem, elas são do descanso, do reparo do nosso corpo, da reposição da nossa energia. Passar uma noite em claro, mesmo que depois você passe dois dias e duas noites dormindo, não recupera o sono perdido, porque o corpo se autorrepara a cada noite, as nossas energias e o nosso metabolismo se refazem a cada noite, por isso temos que dormir, descansar, desligar.

Felizmente, consegui uma dilatação do prazo para escrever para vocês e agora, terminando o artigo, vou tirar a roupa do Pilates, tomar um bom banho, organizar algumas coisas na cozinha e me preparar, com calma, para as tarefas de trabalho que me aguardam, mas que interromperei ao cair da tarde, porque, nem sou Shiva e nem sou a Mulher Maravilha. Sou apenas uma senhora de quase 60 anos que acha que pode fazer mais do que suas capacidades permitem, mas, uma hora a gente aprende…

Não acredito em repouso depois da morte, creio que no mundo espiritual tenha muito trabalho a ser feito, com certeza com mais disciplina e menos excessos, mas, garanto a vocês, se Deus me permitir comparecer ao meu próprio funeral, pelo menos por um minutinho, vou me sentir muitíssimo feliz ao ouvir o padre dizer: “Descanse em paz, por toda a eternidade!

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