Por que somos intolerantes?

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No dia 13 de maio, depois de assistir a um programa sobre a devoção a Nossa Senhora de Fátima, no Youtube, dei uma olhada nos comentários, como tenho o hábito de fazer. Um deles, me chamou a atenção e eu não pude deixar de responder. Enquanto escrevia a minha resposta, outra pessoa que deve ter se sentido tão indignada quanto eu, também respondeu, com um texto longo, como o meu também foi. O autor do primeiro comentário escreveu de novo e se formou um verdadeiro fórum, com várias pessoas entrando na conversa, inclusive o moderador do site.

O comentário era de uma arrogância que beirava o ridículo, de uma pessoa que fazia questão de se dizer muito culta e que só aceitaria resposta de pessoas com “bastante estudo”, porque uma de suas queixas é que a Igreja faz proselitismo com pessoas ignorantes. Um jovem se arvorando muito culto, mas que usou palavras chulas para se dirigir ao sacerdote que apresentou o programa e à própria religião católica.

A internet é livre e cada um assiste o que quer, isso é fato. Mas, se uma pessoa não é católica e afirma ser inteligente demais para sê-lo, porque vai perder preciosos 20 minutos da sua vida para entrar num site católico e ver um programa sobre Nossa Senhora? Ao fazer o programa, com muito entusiasmo e boa vontade, o padre não pretendeu convencer ninguém de suas crenças. Não falou para protestantes, para espíritas, para budistas nem para ateus. Falou para pessoas católicas, que estavam em dia de festa católica. Assiste quem quer, quem gosta e se interessa pelo assunto.

Eu sou muito eclética e, embora sendo católica, assisto variado conteúdo evangélico, espírita e espiritualista. Assisto porque quero e, se não gosto ou não concordo com alguma coisa, simplesmente deixo de assistir. Agora, não vou entrar num site de uma religião diferente da minha e deixar um comentário mal-educado e ofensivo. Isso é o mínimo da boa educação. Mas, infelizmente, o jovem em questão, meteu o pé na jaca e acabou sendo deselegante e grosseiro com uma série de pessoas. Por fim, o comentário mais persuasivo foi de alguém que conclamou os demais a pararem de responder às provocações, afinal, é uma atitude idiota perder tempo com alguém que só quer aparecer.

Dois dias depois, vi a notícia de vandalismo feito com uma imagem de Nossa Senhora das Graças, localizada no jardim de uma propriedade privada, na Espanha, vizinho do local onde será construída uma basílica em homenagem a Nossa Senhora. A imagem, de tamanho natural foi decapitada e teve os dois braços arrancados.

Nessa mesma linha, ocorre também a invasão e depredação de terreiros de umbanda, onde imagens e objetos de culto são destruídos, muitas vezes, incendiados, numa total demonstração de ignorância e falta de respeito com uma cultura riquíssima, trazida ao Brasil por aqueles que foram escravizados. Perderam sua liberdade, mas não perderam as suas raízes, as suas crenças, o seu conhecimento ancestral. Mais um exemplo gritante de intolerância com aquilo que não se conhece e que diverge dos valores do limitado universo de quem se presta a esse papel ridículo de agir assim.

Os evangélicos também não ficam de fora. Quando alguém se refere a crentes como “os bíblias”, está sendo pejorativo e querendo dizer que aquela pessoa é ridícula por acreditar na Bíblia e pregar os seus ensinamentos. E há intolerância dentro do próprio movimento evangélico, na oposição e embate entre os membros de diferentes denominações.

E isso sem falar nos judeus e nas várias vertentes do islamismo, só para ficarmos no âmbito religioso. Mas, não é essa a única área em que somos intolerantes. E, não adianta tentar se eximir, porque, uns mais, outros menos, todos nós temos nosso grau de intolerância.

Com o passar do tempo, eu sinto que a minha intolerância tem se mostrado com maior frequência. E, se por uma questão de princípios éticos e morais, não cometo intolerância religiosa, cometo uma série de outras pequenas intolerâncias, que podem acabar por machucar ou prejudicar a mim mesma e a outras pessoas. Por exemplo, eu odeio barulho, se esse barulho for música de mau gosto em volume alto, então, eu chego a passar mal fisicamente.

Mas, por que somos assim? Porque é tão difícil aceitarmos que as outras pessoas são diferentes de nós e, como tal, têm gostos diferentes? O que nos dá o direito de criticar, ofender, quebrar, invadir e, não raro, até matar, apenas porque há práticas que divergem da nossa?

Este ano, que é ano eleitoral, ainda mais uma eleição tão polarizada, precisamos nos preparar para as ações e reações mais absurdas que se possa imaginar.

O problema certamente está em acharmos que somos o centro do mundo e que tudo deve girar em torno de nós, do que nós gostamos, do que acreditamos e da maneira que achamos que a roda deve girar.

Mas, não é assim. Não precisamos abrir mão dos nossos valores, mudar de opinião, desacreditar daquilo que cremos. Mas, sermos fiéis a um credo, a uma ideologia, a uma forma de vida que achamos correta, pressupõe, antes de tudo, sermos respeitosos com o que o outro é, acredita e faz.

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