Manhãs de Setembro
Setembro – mês das flores, da primavera.
Setembro, mês do encanto, dos cânticos dos pássaros que regorjeiam na primavera, e poucos neste país, cantaram a Primavera como Vanusa. Eu tive o privilégio de conhecê-la nos anos 60, ao lado do marido Antonio Marcos, em uma lanchonete na esquina da alameda Ribeirão Preto com a Brigadeiro Luiz Antônio em São Paulo, capital. Também cheguei a entrevistá-la nos anos 80.
Cantora e poetisa, em sua juventude e no auge de sua carreira nos anos setenta, mais precisamente em 1973, um dia escreveu a música ‘Manhãs de Setembro’.
Internada no último dia 9 de setembro, pelo SUS, em hospital de Santos, a cantora Vanusa, que vinha sofrendo do mal de Alzheimer, foi reconhecida por uma Assistente Social daquele Hospital.
Segundo reportagem do Jornal A Tribuna de Santos, Vanusa estava irreconhecível em seu aspecto visual. Claro que ela não poderia aparentar a beleza dos anos 70, uma mulher linda que mexia com os corações dos jovens, que superlotava auditórios e dava saltos de audiência na televisão, inclusive no Fantástico, programa ‘top’ da Rede Globo, onde só se apresentavam os melhores, os mais requisitados artistas do País, o que ocorre até os dias de hoje.
Porém, jamais imaginaríamos ver Vanusa chegar ao estado que chegou, inclusive sem dentes, descabelada, abatida com um visual deprimente de quem vivia à margem de cuidados, sem receber o mínimo de atenção, de amor e de carinho que qualquer ser humano doente precisa e merece.
Os filhos: A pergunta que não quer calar
Vanusa tem três filhos, sendo duas mulheres Amanda e Areta, do primeiro casamento com o cantor Antonio Marcos, um dos ídolos dos anos 60 e 70, o qual morreu precocemente de cirrose aguda, dado ao grande consumo de bebida alcoólica e o terceiro filho, Rafael Vanucci do casamento com Augusto César Vanucci e residia em um apartamento de sua propriedade no bairro Moema, em São Paulo.
No episódio em que foi cantar o Hino Nacional em uma solenidade Pública, ela não se lembrou de toda a letra. Ali começavam os sinais da terrível doença que derrotaria a musa das manhãs de primavera, o Alzheimer.
Não estou aqui para julgar seus filhos, nem acusar ninguém, porém, que soou estranhamente a maneira que ela foi internada, ah, isso foi e sabemos que essa doença é terrível, porém, existem cuidadores de idosos. Quantos filhos cuidam de seus pais, pessoas simples, trabalhadores comuns, sem poder aquisitivo. Eu conheci inúmeros, e tu leitor, também deve conhecer quem não abandona seus pais nem nos piores momentos, dando-lhes o essencial, o amor; pois o amor não tem preço, não é preciso pagar, não é vendido em lojas ou em feiras livres.
Se Amanda, Areta e Rafael abandonaram sua mãe, certamente irão prestar contas com suas consciências e com Deus, com a vida.
Se ela estava em uma clínica e foi levada para um hospital público, não deveria ter plano de saúde e nem condições financeiras, o que é lamentável, devido a sua história de sucesso. Ainda bem que se pode contar com o SUS, caso contrário, onde ficaria a musa das manhãs de setembro?
Quadro de Vanusa se agrava
Hoje Vanusa encontra-se em hospital público de Santos na Unidade de Tratamento Intensivo – UTI em estado grave, onde teve que ser entubada, logo no mês que ela tanto amava e cantava.
Abaixo relembro alguns de seus versos da poesia cantada e escrita por ela que dizem:
Fui eu que se fechou no muro e se guardou lá fora
Fui eu que num esforço se guardou na indiferença
Fui eu que em numa tarde se fez tarde de tristeza
Fui eu que conseguiu ficar e ir embora
E fui esquecida
Fui eu
Fui eu que em noites frias se sentia bem
E na solidão sem ter ninguém fui eu
Fui eu que na primavera só não viu as flores
E o sol
Nas manhãs de setembro
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs…
Fui eu que se fechou no muro e se guardou la fora
Fui eu que num esforço se guardou na indiferença.
Fui eu que em numa tarde se fez tarde de tristeza
Fui eu que conseguiu ficar e ir embora
E fui esquecida, fui eu…
Infelizmente, hoje, ela não pode cantar seus versos, porém, as suas manhãs de setembro nós as cantaremos, já que aparentemente, os filhos não se preocuparam em cantar e mostrar à mãe, o grande valor das manhãs de setembro.