É muito comum encontrarmos, no âmbito educacional e também na assistência à saúde, crianças com queixas de dificuldades escolares na leitura e na escrita, em todos os níveis do ensino, seja público ou privado, o que assusta já que praticamente todo e qualquer aprendizado depende da capacidade de ler e interpretar o que se lê.
O que não é difícil constatar é que nossas crianças e jovens leem muito pouco e isto tem interferido diretamente na habilidade de escrita e na interpretação de qualquer tipo de texto.
Por exemplo, uma criança que não tem uma boa leitura não interpreta corretamente o que lê e, portanto, terá dificuldades para entender um problema de Matemática, um fato de História e assim por diante.
O uso de tecnologias, o acesso à informação rápida através da internet e aplicativos e a velocidade das informações são algumas das situações que observamos interferir no hábito da leitura e nas dificuldades da linguagem escrita.
Quem mal lê, mal escreve e mal interpreta!
Pensando nisto, vamos usar nosso espaço aqui, uma vez ao mês, para publicar textos escritos por nossas crianças afim de incentivar o hábito da leitura infanto-juvenil.
Está semana iniciamos nosso projeto com o texto escrito pela Alice! Boa leitura!
Uma Aventura no Museu
Sabrina estava inquieta ao meu lado. Ela ficava quicando no banco e pensando como seria a excursão.
-Vai ser incrível! – ela repetia.
-Você já disse isso – murmurei.
O ônibus brecou com força e quase nos jogou para frente.
-Ai! – reclamou Sabrina, que havia batido a cabeça no banco da frente.
-Chegamos! – gritou o motorista.
A diretora se levantou e caminhou até a frente do ônibus.
-Meninas, acho que é desnecessário dizer que vocês não poderão tocar em nada exposto – avisou a Sra. Quinn e pediu para o motorista abrir a porta.
-Por favor, formem uma fila – pediu desviando o olhar do motorista e se dirigindo para nós.
Todas se levantaram e fizeram uma fila.
-Muito bem, podem sair.
Sabrina estava atrás de mim dando pulinhos.
-Olha lá, Carly Beth – ela disse apontando para o museu.
-É enorme! – exclamou, boquiaberta.
O museu era realmente enorme. Devia ter pelo menos uns 25 metros. Depois de alguns minutos entramos no museu.
A primeira coisa que eu vi foram os fósseis de um Tiranossauro Rex perfeitamente montados. Sabrina correu para perto dele.
-Uau! – exclamou.
Sabrina sempre dizia “Uau” quando via alguma coisa que a encantasse.
Passamos horas no museu. Quando a Sra.Quinn nos chamou para ir embora já estava escurecendo. Eu e Sabrina estávamos lavando as mãos.
-Adorei o passeio e você, Carly Beth? – perguntou.
-Foi legal – concordei.
Alicia e Lizzy entraram no banheiro.
-A gente já vai embora – avisou Alicia.
-Ok – respondi, enxugando as mãos.
Quando Alicia encostou a mão na maçaneta ouvimos um click. Ela tentou abrir a porta, se virou e vi a expressão de horror na cara dela.
-Estamos trancadas – murmurou, engolindo em seco. Trocamos olhares assustados.
-Tive uma ideia – anunciei.
Abri minha bolsa e tirei de lá uma caixinha cheia de grampos. Abri a caixa e tirei um de dentro.
-Já vi isso nos filmes – falei. Abaixei-me e enfiei o grampo dentro da fechadura. Fiquei animada quando ouvi o click, levantei e abri a porta.
Saímos desesperadas do banheiro. Paramos no meio do caminho ao ouvirmos um rugido baixinho. O rugido ficou cada vez mais alto.
Conforme o rugido aumentava dava para ouvir também passadas, grandes e pesadas. Tum Tum Tum. As passadas ficavam mais altas e o rugido também. Começamos a ouvir barulho de ossos balançando.
Sabrina estava ao meu lado, encarei-a quando ela agarrou meu braço. Ela olhava fixamente para frente. Segui seu olhar e gritei: o esqueleto do Tiranossauro Rex estava nos encarando!
Alicia e Lizzy também gritaram, apavoradas. Ninguém se mexia, ninguém respirava, ninguém piscava.
Engoli em seco. Conseguia sentir Sabrina tremendo no meu braço.
-Vamos sair daqui – sussurrou Lizzy.
Começamos a andar lentamente para o lado, todas juntas. O Tiranossauro Rex continuava nos encarando. Seu olhar nos seguia conforme íamos para o lado. Estávamos espremidas contra um bebedouro sem ter para onde ir.
O Tiranossauro abriu a boca, soltou um terrível e longo rugido e se aproximou com passadas largas. Ele se abaixou e soltou outro rugido ensurdecedor perto de nossos rostos.
-Tive uma ideia – sussurrei.
Esperei o Tiranossauro se levantar e passei correndo por baixo de suas pernas grandes e ossudas. As outras hesitaram por um momento depois fizeram o mesmo. Corri de volta para o banheiro. Esperei as outras entrarem e tranquei a porta.
-Vamos esperar aqui até o museu abrir, amanhã de manhã – disse.
-Mas e o dinossauro que está lá fora? – perguntou Lizzy.
-As paredes são feitas de tijolo, acho que ele não vai conseguir quebrar – conclui.
-Você acha?! – berrou Lizzy, já de pé.
Olhamos surpresas para ela. Lizzy costumava ser bem calma.
-Desculpe – murmurou e se sentou de novo.
Já era de manhã quando acordei. As outras ainda estavam dormindo. Dei um leve empurrão em Sabrina.
-Sabrina, acorda, Sabrina – chamei.
Sabrina abriu os olhos e bocejou. As outras também acordaram. Abrimos a porta e saímos do banheiro. Olhamos em volta e não vimos o Tiranossauro Rex.
Fomos para o meio do museu e lá estava ele: imóvel, pendurado por cordas no teto. Olhei para as outras e pela expressão delas estavam pensando a mesma coisa que eu.
-Foi tudo um sonho? – perguntou Lizzy, apontando para o esqueleto.
Ninguém respondeu. Ouvimos um click e a porta do museu se abriu.
-Carly Beth! – minha mãe gritou, correndo na minha direção e me dando um abraço apertado.
-Tudo bem? Você se machucou? O que aconteceu? – perguntava.
As outras mães também chegaram, abraçando fortemente as filhas e fazendo milhões de perguntas. Caminhamos para fora do museu e a única coisa que eu sabia era que nunca mais voltaria naquele lugar!
Alice Rebonato Miranda, 9 anos.