Um bombardeio na Síria. Uma casa atingida. Uma família soterrada. Um pai em desespero. Uma criança de sete meses pendurada apenas pela camisa no alto dos escombros. Havia outra ao seu lado. Esta também estava soterrada. Era a irmã da bebezinha. Tinha apenas cinco anos. Mesmo com tantos escombros sobre si e uma nuvem negra de poeira, mas com certo branco de esperança, ela conseguiu salvar a sua irmãzinha.
O pai ficou estático. Um movimento em falso tudo viria abaixo. Suas filhas estavam sob os seus pés. Suas lágrimas caiam, mas não amenizava a poeira que os rodeava. O bebê estava salvo. Um ato heroico da irmã de cinco anos trouxe esperança. Porém havia muita pedra sobre a heroína. Eram pesadas. Não aguentou. Morreu ali mesmo. Entretanto, subiu aos céus com dignidade. Mostrou aos malfeitores e aos responsáveis pelo ataque que o amor sempre vence de uma forma ou outra. Provou ao mundo que numa terra castigada pelo ódio e banhada em sangue, quem reina é a paz de espírito e nunca aquela falácia que jamais pensou em florescer nesses tempos de fúria.
Mesmo sendo esmagada pelos escombros, ela arranjou força para tirar um pequeno anjo à beira da morte. Um anjo salvando outro, enquanto demônios vestidos com armas e ideologias castigavam aquela pobre população. Homens que atiram suas cóleras por um autoritarismo que brota em cada canto deste vasto mundo. Crianças são as grandes vítimas por não entenderem o que é mundo, o que é humanidade e o porquê de tanto sangue derramado.
Assim vai caminhando esta desumanidade. Pobre homem que cava a própria cova. Estão destruindo a esperança de um mundo melhor ao atingir um rebento inofensivo. Estão enterrando a própria paz que tanto procuram. A única coisa que uma criança enxerga é o próprio ato de ser uma criança. Mas em terras conflituosas, resquícios de balas e bombas servem de brinquedo. Uma noite de silêncio, sem ouvir os sons de tiros e bombardeios, cheiram mais que a própria paz que procuram. Há uma preocupação do que poderá cair do céu. Até mesmo uma estrela cadente pode se tornar suspeita. Fácil de confundir com bombas. Nem mesmo um espírito santo poderá consolá-las. Tudo o que vem do céu, vem para aterrorizar. As estrelas são ameaçadoras. Elas podem se descolar do céu e cair nas casas como bombas. Se existe Deus nestas terras massacradas e judiadas, que ele venha montado num cavalo branco.
