Politique
A política de Monte Alto, sem P maiúsculo, sempre sofreu de uma doença crônica, que é a desunião histórica, cujo efeito colateral é a síndrome da incompetência. Ao longo da nossa história o poder público, salvo raríssimas pessoas no exercício transitório de governo, praticamente é inexistente. Entre os membros do legislativo e do executivo, desde a nossa emancipação política, muitos entraram no poder e saíram anônimos. Ainda há tempo e oportunidade para uma mudança, porque o povo sabe julgar e sabe reconhecer. O voto, no caso, é o de menos, porque elege, muitas vezes, sem consolidar. A importância do eleito está no reconhecimento popular, não de uma elite, que usa o poder público e os governantes para benefício próprio, principalmente monetário. A política do oportunismo não é unilateral, ela se mantém com a cumplicidade do cidadão, que se apossa da cidade, e para a concretização objetivo torpe lança mão da corrupção e do clientelismo. Monte Alto foi citada apenas contextual, praticamente todos os municípios do Brasil, na política, estão na UTI.
Semanário
Durante um determinado tempo, este jornal teve como diretor o Romeu de Oliveira e como redator, Carlos Augusto Nunes (o Guto, de saudosa memória). Havia mais interessados em colaborar com o jornal, do que espaço nas páginas. O critério seletivo era de acordo com o momento, principalmente para os que escreviam sobre política, um perigoso pântano local. Naquela época era permitido escrever usando pseudônimo e para não cansar o leitor, a gente usava vários heteronônimos. Também para que ninguém na redação descobrisse o real colaborador, era muito comum colocarmos a matéria embaixo da porta da gráfica, que ao ser aberta na manhã seguinte era recolhida por algum funcionário. Na maioria das vezes o texto era publicado, ou por falta de espaço, ia para a gaveta e para o ostracismo. Entre os vários pseudônimos, o que nós mais usávamos era Marcoplo II.
Verbete
Agosto de 1967. Escola de Comércio. Aula de português. Terceira série ginasial. Professora substituta. Um aluno justificou porque estava sem uniforme, dizendo que a roupa estava molhada em razão de uma “teia” ter se quebrado no “teiado” da sua casa. A mestra, novata na classe, corrigiu a pronúncia: “Não é teia, é telha e também não é teiado, é telhado”. O moleque tentou desviar o assunto e mandou legal: “professora, até minha “melha” molhou! (Gargalhada geral!).
Civismo
Pátio da Escola de Comércio. Um dia qualquer de um mês esquecido. Ano idem. Alunos perfilados para cantar o Hino Nacional, porque no dia seguinte haveria uma comemoração na escola. Fumar era permitido, desde que não fosse na sala de aula ou na frente do corpo docente, enfim, podia fumar escondido! Tudo pronto para iniciar o “Ouviram do Ipiranga” (naquele tempo colocava-se a mão no peito à altura do coração, como era à esquerda, o gesto foi proibido, pelos militares, um tempo depois, porque era um ato comunista). Um aluno, na fila, atrás de mim, estava com cigarro na boca, para azar dos grandes, surgiu na frente dele o Dr. Adaucto, diretor. Mandou-o “engolir” o cigarro. Solidário, eu disse que seguraria o cigarro. Nós dois fomos fumar no banheiro até o final das aulas.
Olimpo
Quando o “O Imparcial”contava com um grupo de colaboradores, que todos os outros jornais juntos não chegavam à metade, um dos escribas escreveu um texto, afirmando que Hitler deveria ter matado todos os judeus nos campos de concentração, porque a raça era um mal para o mundo. A figura que escreveu jamais havia visto ou sabido da existência de judeus em qualquer lugar. Ele escreveu, porque naquela ocasião a guerra do oriente, entre Israel e os países árabes estava na mídia, cuja opinião era dividida. Quando o texto foi publicado, alguém leu e enviou uma cópia à uma fundação judaica, que tinha um escritório em Ribeirão Preto, que tinha como objetivo descobrir nazistas foragidos na América do Sul e denunciar qualquer ato de antissemitismo. A fundação entrou em contato com a Delegacia de Polícia Civil de Monte Alto, para colher os depoimentos do autor e diretor do jornal. O colaborador disse na polícia que não sabia nada sobre judaísmo, nazismo e campo de concentração, escreveu, porque havia lido alguma coisa parecida antes em algum lugar. O diretor alegou que não havia lido a matéria previamente, que a publicação aconteceu à sua revelia. O delegado que colheu os depoimentos deu um parecer, o melhor era arquivar a questão, porque ambos não sabem nada e continuam não sabendo.
Athenas
Originalmente, na Grécia, a palavra demagogia tinha um significado político honroso, que significava “aquele que conduz o povo”. Teoricamente o político demagogo pregava em praça pública o valor da cidadania e a importância do civismo de cada grego. Quando filósofo, Demóstenes percebeu que muitos políticos estavam usando o povo como meio de popularidade e promoção pessoal, deu um novo significado ao termo demagogia, que é o que ganhou os idiomas do ocidente, inclusive o português, que ao pé-da-letra é: “aquele que conduz o povo lisonjeando-o”. Coisa do tipo de discurso: meu povo inteligente e feliz! Minha gente ordeira e pacífica! Meus cidadãos progressistas trabalhadores e civilizados! (Esse tipo de discurso tem como objetivo mostrar que a preocupação do orador é o povo, tal como faz alguém que quer conquistar a confiança de um animal, estendendo-lhe um alimento, como uma cenoura a um coelho).