A palavra paranoia é “um termo composto usado para designar aquilo a que se confronta a razão ou a compreensão, em ambos os sentidos. Essa palavra começou a ser usada na acepção atual no século XIX a partir do Grego PARANOIA, “loucura, inaptidão mental” de PARÁNOOS, “insano, doente mental”, de PARA-, “ao lado”, mais NOOS, “mente”.
Na linguagem cotidiana, chamamos de “noia” aqueles que vivem “alucinados” em algo devido ao seu vício. Nas minhas andanças lecionando em escolas da região, recebemos um noia na sala de aula. Ele estava em liberdade assistida. Ficou encarcerado durante cinco anos. Não perguntei o porquê da prisão. Não me convinha. Percebi que este noia estava engajado a ser um alguém melhor, e estava fazendo de tudo para poder volta a ser aceito pela sociedade. Ele sabia que terminar a escola seria o primeiro passo.
A turma era do ensino médio da EJA. Lembro-me do pavor de alguns alunos por estarem compartilhando o mesmo espaço com um noia. Havia certo temor. As indiferenças que faziam do cidadão eram nítidas. Mas não pense, caro leitor, que este escriba está ridicularizando o cidadão chamando-o de noia. Ele mesmo se intitulou assim. Certo dia ele veio até a minha mesa para eu poder explicar algumas atividades. Ele começou a me dizer que tirou cinco anos de prisão. Neste tempo todo a única coisa que ele fez foi ler. Devorava livros. Confessou que lia muitos romances estrangeiros. Conversamos sobre a importância da leitura, trocamos experiências dos livros lidos e fortalecemos os laços para quebrar aquele gelo que havia ficado na sala de aula.
No final da conversa ele me disse: “Professor, hoje em dia tem noia para tudo: noia para celular e para as drogas. Eu me tornei um noia da leitura”. Esta frase me chamou atenção. Há coisas que acontecem hoje em dia que além de deixarem as pessoas procrastinadas, estão, também, viciando-as. Há muitos vícios imperceptíveis nesta sociedade tecnológica que não nos damos conta do mesmo porque estamos, também, viciados nos mesmos problemas.
A frase deste aluno me fez enxergar a importância ainda mais que a leitura exerce sobre o indivíduo. Ser um noia da leitura deveria ser uma qualidade para todos. Ele, mesmo com a sua ficha prejudicada, é um cidadão diferencial. Não falará dos problemas com futilidades porque o deixou na cadeia. Sua sabedoria foi conquistada através de livros num ambiente totalmente insólito e inóspito.
Mas e você, é noia em que? O que te faz um viciado? Nós somos aquilo que nos apegamos. Nossas limitações são resultados daquilo que nos viciamos. Eles, os vícios, deveriam existir apenas para aquilo que nos faze bem. Não sei se seria um mundo melhor, mas pode ter certeza que seria um mundo mais habitável e pacifico.