Há tempos que a educação deixou de ser apenas uma transmissão de conhecimento. Não se tem mais aquela filosofia de que família educa e escola ensina. A precariedade do ambiente familiar está tão devastada que, ao longo de alguns anos, nós professores tomamos esse papel – ossos do ofício – como responsabilidade. Não porque pedimos, mas por enxergar algumas necessidades que as famílias contemporâneas não conseguem identificar.
Creio, friso e ratifico que um dos grandes problemas na vida das pessoas – social, afetiva, emocional, familiar, etc – é o uso em excesso da tecnologia e os seus avanços. Hoje em dia, a procrastinação perante a essas ferramentas fazem com que as famílias se distanciam. O que predomina naquilo que ainda podemos chamar de lar é a escassez do diálogo. As pessoas mal se olham, se tocam, conversam e se abrem para assuntos que as atormentam. O intitulado lar mais parece com as cenas de zumbis que andam de um lado para o outro. Porém, ao invés de procuraram o que comer, os zumbis modernos estão atrás de sinal para ligar o seu 3/4G ou para achar uma rede de “wifi”. Isso faz com que as prioridades dentro de uma casa mudem completamente. As famílias estão mais curiosas em saber o que se passa da vida de outras pessoas do que nelas próprias. E quando passam a enxergar que os verdadeiros problemas estão ao redor daqueles que as amam, não se hesitam em compartilhar suas dores e lamentações nas redes sociais. Isso faz com que as crianças venham à escola com uma tremenda imaturidade. Chegam com a ausência de um abraço, um bom dia e o desejar de uma boa aula. Isso está sendo cada vez mais rotineiro para nós professores. Nós podemos enxergar esta falha contemporânea familiar.
Chegar-nos-emos um dia em que para a formação de professor será necessária uma formação humana para lidar com os filhos desses zumbis contemporâneos. Ou para se construir uma família, as pessoas deverão passar por oficinas intituladas de “como dar atenção aos filhos”. As escolas deverão se adequar a esta situação mais humana do que pedagógica, a fim de que possamos formar bons cidadãos, ensinando aquilo que não se pratica em casa: respeito, empatia, amizade e o abraço fraterno. O nosso maior medo é de que um dia todos esses fatores fujam do controle.
Podemos imaginar nossas crianças, deus nos livre, comecem a nos chamar de pai e mãe e o substantivo professor designar todo este amálgama de sentimentos que falta dentro dos lares brasileiros.