Já em Santo Domingo Zanatepec, eu e Léo fomos à procura da casa da família do Rodrigo. Ele faz parte de uma página na internet chamada “Warm Showers”, que serve para hospedar os cicloviajantes. Basta entrar, olhar o mapa e ver as famílias que estão abertas a receber os malucos, uma maravilha. Fomos recebidos super bem, apenas por uma noite, mas já suficiente para estar em contato com mexicanos de bom coração.
Seguimos rumo a outra cidade chamada Salina Cruz e fomos direto para os bombeiros, que sem problemas nos deixaram dormir no quintal. O problema é que tivemos que dividir o quintal com a maior população de baratas que já vi na minha vida. Ante de dormir, olhei pro Léo com cara de nojo e perguntei: “Elas não vão subir em nós né?”.
Acordei depois de 10 minutos com uma delas chegando no meu umbigo. Levantei super feliz, acordei o Léo, armei a barraca e só assim pudemos dormir bem, dentro da “cápsula protetora”.
Acordamos loucos pra sair dali e metemos o pé, rumo a casa de um outro rapaz do “Warm Showers”. Ele disse que não estaria, mas que sua mãe iria nos receber, o que infelizmente não aconteceu.
Chegamos, não encontramos com ninguém e resolvemos seguir viagem. Já estava quase noite, então pegamos uma carona com a primeira caminhonete que passou. Infelizmente o motorista estava um pouco apressado. Pedi pra que ele fosse mais devagar, ele disse pra eu não me preocupar, então, pedimos pra descer. Ele nos deixou numa vila, que não sabemos nem o nome, onde dormimos como bebês em um quarto de hotel beira de estrada.
No dia seguinte, mais uma carona até chegar a uma praia chamada Mazunte, onde relaxamos por cinco dias. Praias lindas, muita gente boa, mergulho com tartarugas e golfinhos, cerveja e muitos brindes, pela oportunidade de viver tantas coisas maravilhosas. Seguimos viagem até outra praia perto dali chamada Puerto Escondido um dos melhores lugares do mundo para o surf, onde passamos três dias apreciando o espetáculo feito pelos surfistas.
Dali seguimos para a capital do estado, Oaxaca, onde passamos os últimos dias de viagem juntos. Dias tranquilos, muita comida boa no mercadão central, passeio por ruínas Maias e a hora da despedida chegou. Como lembrança, Léo levou pro Brasil um presentão: uma dengue mexicana.
Nos despedimos e o menino estava mal, com dores até nas unhas. Senti um peso na consciência por deixá-lo naquela situação, mas não tinha escolha, seria melhor ele voltar logo pros braços da mamãe. E assim foi… Na rodoviária de Oaxaca a gente se despediu. Ele entrou num ônibus rumo a capital e eu montei em outro, rumo a Guadalajara, onde iria me encontrar com mais um grande amigo, o Petros.
No ônibus, como eu já esperava, as lágrimas tomaram conta. Que grande presente poder ter amigos assim, e mais ainda, poder compartilhar de experiências tão especiais e inesquecíveis junto a eles. Segui de coração cheio pra Guadalajara, onde cheguei e fui direto para a casa de novos amigos, que eu ainda não conhecia, no caso, amigos terceirizados.
Dessa vez, a “terceirizadora” foi uma amiga de infância, minha prima-irmã, Lilian Casanova. Quando ela soube que eu iria pra Guadalajara, me colocou em contato com um amigo mexicano que ela conheceu no Brasil, o Rafa Navarro, que por sua vez, me abriu as portas de casa com a maior boa vontade.
Desci do ônibus e pedalei 15km até a sua casa, onde me esperavam com quilos e quilos de comida mexicana, preparada a base de muito, mas muito camarão, ah, e é claro, muita pimenta (Pimenta que por sinal é colocada em tudo aqui no México: Amendoim, salada de frutas, cerveja, chocolate…acredito que no leite materno também deva sair pimenta). E então a gente brindou o novo encontro com um grande almoço, cheio de gente boa. Rafa, Mauri e Arnaldo, três amigos de infância que vivem juntos e não param de falar besteira o tempo todo, todos da mesma idade que eu, uma alegria.
E pra melhorar tudo isso chegou o Petros e se juntou ao bando. E ele veio na hora exata, justo quando eu descobri algo desagradável: Também peguei dengue.
No começo fiquei chateado: “Caramba, justo agora que ele vem pra cá eu pego dengue?”. Mas logo os pensamentos mudaram: “Que benção, ele veio justo agora que eu estou com dengue”. O médico pediu repouso, teríamos que passar o dia dentro de casa, mas e daí? Se ele não estivesse comigo, eu ficaria o dia inteiro sozinho, mas dessa forma eu tive parceria pra ver filme e comer, e foi só isso que fizemos durante os primeiros 4 dias. E ele dizia: “Betão, não importa, o que interessa é que estamos juntos”… parceiro ou não?
No fim de semana eu sarei, recebi alta do doutor e fui liberado. Cinco homens dentro do fusquinha do Arnaldo e muita risada Guadalajara afora, pra lá e pra cá.
Após o fim de semana o Petros se despediu e eu voltei a passar as tardes sozinho, enquanto os donos da casa trabalhavam. Aproveitei pra escrever partes desse diário, ou então pra me deliciar com a solidão, que chegou a doer em alguns momentos.
Escrevi com certa dor no coração, causada por uma imensa saudade, misturada com essa melancolia de querer companhia, enfim, palavras que brotaram de um coração cheio de emoções.
Um forte abraço à todos!
Beto.