Olá meu povo! Já estou em território mexicano! Cruzei a fronteira com um sentimento muito melhor, depois de agradecer, não tem como não se sentir bem. A gratidão é o grande segredo da felicidade…. e então fui direto pra rodoviária de Chetumal, onde peguei um ônibus pra Cancun, que estava a quase 400km de lá. Cheguei um dia antes da chegada do Léo, ansioso. Parecia um sonho saber que meu grande parceiro iria chegar naquele paraíso e que ainda teríamos 38 dias de viagem juntos. Fui pro aeroporto sentindo uma imensa felicidade, passei a tarde inteira esperando o avião chegar, e quando ele apareceu na minha frente a baixaria tomou conta do aeroporto. As vozes não podiam se expressar em baixo volume e os abraços eram incontroláveis…E a partir daí começa a nossa inesquecível viagem por terras mexicanas.
Pra começar, passamos uma semana na Riviera Maia, região de praias paradisíacas, ruínas Maias e Cenotes (lagoas cristalinas metidas dentro de cavernas). Foram quatro dias em Tulum, dois em Isla Mujeres e uma noite em Cancun. Dias de pura comemoração por tudo aquilo, parecia mentira que eu estava vendo aquele cara, ali, na minha frente, falando besteira o dia inteiro, tomando cerveja, de sunga, com areia até nos dentes.
Logo pegamos um ônibus até o outro lado do país, mais de 20 horas de viagem até chegar numa linda cidade chamada San Cristobal de las Casas, no estado de Chiapas. Cidade totalmente colonial, onde começamos a sentir o cheiro da cultura mexicana em sua mais pura essência. Além disso, em San Cristobal aconteceu um fato histórico: um encontro de quator ciclistas brasileiros, e isso é raríssimo. Encontrei pouquíssimos brasileiros de bicicleta em toda a viagem, e de repente, se juntam quatro na mesma cidade. Ao meu lado estavam: Leonardo Ferreira (o mais novo cicloviajante), Alberto Maschio (Que saiu de Curitiba há um ano e três meses) e André Fatini (que saiu do Alaska há 13 meses, e está descendo rumo a sua casa em São Paulo). Dias de muita risada, histórias e troca de informações. Nos despedimos e finalmente começamos nosso pedal juntos, eu, Leonardo, Leonardo e eu.
Deixamos a cidade a uma da tarde, e logo nos primeiros três quilômetros, vimos que grandes nuvens negras e carregadas se aproximavam da cidade, mas seguimos sem que nenhuma gota pingasse em nossa cabeça. Subimos até o topo da nossa primeira montanha e para abrir o pedal com chave de ouro, uma descida de 70 deliciosos quilômetros. Chegamos no nosso destino, uma cidadezinha chamada Chiapas de Corzo e logo soubemos de uma novidade, ou melhor, o resultado das nuvens carregadas: um mini-furacão passou por São Cristobal, as duas da tarde, exatamente uma hora depois que fomos embora. E tenho mais detalhes: O hostel em que estávamos hospedados foi destelhado. Nada grave, o México já está acostumado com esses furacões, mas que grande benção não?
Em Chiapas de Corzo armamos a barraca às margens do rio que cruza a cidade, num lugar super tranquilo. Cozinhamos o banquete ali mesmo, com cerveja e muita risada. Risada gerada porque o Leo é uma das figuras mais engraçadas que já tive o prazer de conhecer, e nesse dia ele passou dos limites. Antes de começar a cozinhar o macarrão, ainda estávamos cortando os legumes e ele ficou encarregado de cortar uma pimenta, das bravas. Sem lavar as mãos o espertão foi fazer xixi no rio. Pronto, começou a gritaria. O menino não se aguentava de ardor em seu precioso órgão. E grita, e joga água, e assopra, até que ele finalmente resolveu entrar no rio de roupa e tudo…saiu até fumaça, mas sarou.
Dormimos com dor na barriga de tanto rir, acordamos, fizemos um passeio de barco pelo espetacular Cañon del Sumidero e no fim da tarde seguimos viagem. Pedalamos só 10 km até chegar na capital do estado, Tuxtla Gutierrez, onde chegamos já de noite e fomos pra casa do Victor. O Victor é primo de uma mexicana chamada Rosanna, e a Rosanna, por sua vez, é uma mexicana que eu nunca vi na vida. Ela foi morar no Brasil, na mesma cidade onde eu estudei, e lá ficou sabendo da viagem e entrou em contato comigo. Que coisa boa viajar com essa tal internet que nos abre tantas portas.
Ficamos só uma noite no quarto do Victor e no outro dia nos mudamos pra um hostel. Passamos o final de semana na capital e seguimos, rumo a uma cidade chamada Cintalapa, onde chegamos e fomos direto pra praça central, onde armamos a barraca. Cozinhamos ali mesmo, tomamos banho num hotelzinho ao lado e dormimos com muita, muita chuva. No dia seguinte seguimos viagem rumo a Santo Domingo Zanatepec, mas não conseguimos chegar até lá, graças a uma lagoa maravilhosa que apareceu no meio do caminho, a “Laguna de los Niños Heroes”. Já estávamos cansados, então sem pensar duas vezes, paramos ali, descemos para a beira da lagoa e armamos a barraca. Tivemos o apoio da família da dona do restaurante que existe por ali, que nos liberou o espaço pra guardar as coisas e usar o banheiro. Muito obrigado Miranda, Emmar, Jose e Rosendo, pela ajuda, pela boa música e por compartilhar desse momento com a gente.
Antes de dormir, um vento fortíssimo balançou a barraca e deixou os dois marmanjos com medo de que fosse furacão, mas fomos fortes (ou mortos de cansaço) e dormimos bem, de conchinha. Na manhã seguinte, tomamos um grande café da manhã junto com a família, aos pés da lagoa, e nos despedimos. Seguimos finalmente rumo a Santo Domingo Zanatepec, onde nos esperava outra família, a do Rodrigo. Mas isso, já é um assunto para o próximo diário.
Fiquem em paz e tenham todos uma excelente semana.
Beto.