Em maior ou menor medida todas as pessoas gostam de agradar, de se sentirem amadas, admiradas e reconhecidas. Também há os que se esforçam a vida inteira para ser o melhor: o melhor filho, o melhor irmão, os melhores pais, o marido perfeito, o funcionário irrepreensível ou o ombro amigo para todas as ocasiões.
A dificuldade em agir assim – na tentativa contínua de ser bom para todos – resulta em insatisfação e frustração já que o esforço para ser perfeito vai de encontro à necessidade de realizar o desejo do outro e, assim feito, se sentir querido e aceito. O problema é que o desejo do outro e o nosso nem sempre coincidem.
É preciso aprender a decepcionar e a ser decepcionado para viver, é assim que conseguimos conciliar as diferenças, separar os desejos, aceitar as frustrações, elaborar as derrotas e saborear as conquistas.
Sofreríamos menos se aceitássemos a possibilidade de falhar, mas, ao contrário, insistimos no mito da perfeição. Buscamos a aceitação plena de tudo e de todos e não conseguimos digerir o sentimento de que não é possível agradar todo mundo – e nem é preciso, principalmente. Pois cada um tem liberdade para o exercício da escolha e estas escolhas são individuais, intransferíveis e, principalmente, diferentes de uma pessoa para a outra. O que é muito bom para um, pode ser insuficiente para o outro. O que é um essencial para mim, pode ser desnecessário para você.
Por isto, é fácil encontrar pessoas que passam a maior parte da sua vida se preocupando com o que pensam e falam os outros quando, na verdade, o mais importante é o que nós acreditamos ser o melhor de dentro para fora. Claro que existem, sim, opiniões alheias que nos fazem pensar e que servem de base para autorreflexão, para a busca de aprimoramento e crescimento em todos os sentidos. Mas, estas situações e opiniões não podem ser maiores nem mais importantes que nossa própria consciência do que somos e fazemos.
O desejo de ser querido por todos é antigo e irreal. Não há forma de conciliar, sempre, o que queremos com o que o outro quer e também não há como viver uma vida plena e satisfatória se procurarmos fazer tudo pensando em quem vai gostar. Se assim fizéssemos, estaríamos abrindo mão da característica mais significativa e especial da raça humana: o fato de sermos únicos naquilo que pensamos e queremos. Por isto, cada um tem um nome, um corpo, um rosto, um gosto.
Saber aceitar que não vamos agradar a todos e não se deixar abater por uma opinião considerada negativa é um objetivo a ser alcançado. Que o exercício de conviver com o desejo alheio seja uma forma de reflexão, respeito e crescimento. Assim como é bom quando somos reconhecidos também é bom quando sabemos reconhecer o limite entre o que realmente pensamos e queremos e o que fazemos somente porque irá agradar alguém.